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Entrada de policiais equatorianos na embaixada do México em Quito aprofundou crise diplomática entre os países.

  • Author, Redacción
  • Role, BBC News Mundo

Um grupo de policiais equatorianos entrou na embaixada mexicana em Quito e prendeu o ex-vice-presidente do país Jorge Glas nesta sexta-feira (5/4), levando o México a suspender as relações diplomáticas com o governo do Equador.

Glas, que ocupou a vice-presidência do Equador entre 2013 e 2018, foi condenado pela Justiça equatoriana por corrupção e estava refugiado na embaixada mexicana desde dezembro.

Depois da operação policial, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, ordenou a suspensão das relações diplomáticas com o Equador. “Se trata de uma violação flagrante ao direito internacional e à soberania do México”, disse o líder mexicano.

“Defendi a honra e a soberania do meu país”

O embaixador do México no Equador, Roberto Canseco, estava na sede diplomática quando a operação policial começou e confrontou os agentes.

“Pondo em risco minha própria vida, defendi a honra e a soberania do meu país. Isso não pode acontecer, é incrível que tenha acontecido algo assim”, disse ele à imprensa.

“Estou muito preocupado porque podem matá-lo. Não há nenhum fundamento para fazer isso. Estávamos prestes a sair e de repente nos encontramos com policiais, com ladrões que entraram na embaixada à noite”, acrescentou.

De acordo com a chanceler mexicana, Alicia Bárcena, vários trabalhadores da embaixada foram agredidos durante o incidente.

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Roberto Canseco, embaixador do México em Quito, confrontando a polícia equatoriana.

Um comunicado da presidência do Equador confirmou a prisão de Glas e disse que o ex-vice-presidente tinha sido colocado “à disposição das autoridades competentes”.

O texto também acusou a embaixada mexicana de ter “abusado das imunidades e privilégios” e denunciou que o asilo diplomático concedido a Glas era “contrário ao marco jurídico convencional”.

“O Equador é um país soberano e não vamos permitir que nenhum delinquente fique impune”, disse o comunicado.

A invasão à embaixada do México em Quito aconteceu horas depois de o governo de López Obrador informar que havia concedido asilo político a Jorge Glas.

“O direito de asilo é sagrado e estamos agindo em plena conformidade com as convenções internacionais”, escreveu a chanceler Alicia Bárcena no X, o antigo Twitter.

“Ao conceder asilo a Jorge Glas, confio que o governo do Equador disponha do salvo-conduto (autorização para que Glas viajasse para o México) o mais rápido possível.”

No entanto, o governo do presidente Daniel Noboa se negou a entregar o salvo-conduto e horas depois a polícia entrou na sede diplomática do México em Quito.

Reações

Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, escreveu em sua conta no X que a invasão da embaixada do México “com o objetivo de sequestrar” Glas “constitui um ato intolerável para a comunidade internacional, dado que ignora o histórico e fundamental direito ao asilo”.

Castro repudiou o que considera uma “violação da soberania do Estado mexicano e do direito internacional”.

De sua parte, o ex-presidente equatoriano Rafael Correa afirmou que “o que o governo de Noboa fez não tem precedentes na história da América Latina”.

“Nem nas piores ditaduras se violou a embaixada de um país. Não vivemos em um Estado de Direito, mas sim em um Estado de barbárie, com um improvisado que confunde a pátria com uma de suas fazendas de banana”, acrescentou ele no X.

Correa também responsabilizou Daniel Noboa pela segurança e integridade física e psicológica de Glas.

O prefeito de Quito, Pabel Muñoz, qualificou o episódio como “inaceitável” e uma “vergonha mundial”.

Mas o governo do Equador afirma que defende a soberania nacional ao não permitir que ninguém interfira nos assuntos internos do país.

A BBC News Brasil questionou o posicionamento do governo brasileiro em relação ao incidente na embaixada do México no Equador, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A estadia levou a especulações de que Bolsonaro estaria cogitando a possibilidade de pedir asilo político à Hungria, o que a defesa do ex-presidente negou.

Embaixadas estrangeiras estão protegidas pela “inviolabilidade” prevista na Convenção de Viena, o que significa que as autoridades locais não podem entrar nas instalações diplomáticas sem o consentimento do país responsável por elas.

“Perseguição política desde 2017”

Em 2020, a justiça equatoriana o considerou culpado de ser instigador do crime de suborno passivo agravado, pelo qual foi condenado a oito anos de prisão.

Em novembro de 2022, Glas obteve liberdade provisória após cumprir parcialmente sua sentença de quatro anos e meio, depois que seu advogado apresentou um recurso de habeas corpus.

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As autoridades equatorianas defenderam a operação e acusam o México de abusarem de suas prerrogativas diplomáticas.

Segundo a Secretaria de Relações Exteriores do México, Glas pediu ajuda à embaixada mexicana em 17 de dezembro expressando “temor por sua segurança e liberdade pessoal”.

As autoridades judiciais do Equador haviam convocado o ex-vice-presidente a depor em um caso relacionado a fundos públicos arrecadados para ajudar na reconstrução da província costeira de Manabí após um terremoto de 2016.

Seu advogado, Eduardo Franco Loor, denunciou então uma perseguição política.

“Há uma perseguição política desde o ano de 2017, escalada ultimamente pela Procuradora-Geral do Estado, que arbitrariamente pretende processar e deter Jorge Glas, sendo ele uma pessoa inocente”, disse o advogado à agência de notícias Reuters.

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Após a prisão na embaixada do México em Quito, o ex-presidente Rafael Correa, aliado de Glas, se manifestou.

Além de ser vice-presidente durante os governos de Rafael Correa e Lenin Moreno, Glas ocupou vários cargos durante o governo de Correa – que, segundo analistas, chegou a considerá-lo como sua “mão direita”.

No caso conhecido como “subornos 2012-2016”, a Justiça equatoriana também considerou Correa culpado do crime de corrupção e o condenou, em primeira instância, a oito anos de prisão.

O ex-presidente equatoriano vive na Bélgica sob asilo político. Ele se mudou para o país depois de deixar a presidência em 2017.