- Leandro Prazeres
- Da BBC News Brasil em Brasília
A nova rodada de pesquisas do Ipec (ex-Ibope) sobre as eleições à Presidência da República divulgada nesta segunda-feira (29/8) mostrou um cenário de estabilidade entre os principais candidatos, mas também indica uma intensa movimentação quando os dados por segmento do eleitorado são analisados.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a liderança com 44%, seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição e tem 32%. Os percentuais dos dois são os mesmos registrados na última pesquisa, divulgada há duas semanas.
A pesquisa mostrou também que o candidato Ciro Gomes (PDT) saiu de 6% para 7% das intenções de voto. Simone Tebet (MDB) foi de 2% para 3%. Felipe D’Ávila (Novo), que não havia pontuado na última pesquisa, agora aparece com 1%. Votos brancos e nulos somam 7%. Os que não sabem em que irão votar ou não responderam totalizam 6%.
Ao aprofundar a análise dos dados trazidos pela pesquisa, é possível observar algumas mudanças de tendência e a consolidação de preferências de segmentos do eleitorado considerados estratégicos. Bolsonaro vê sua liderança entre evangélicos aumentar ao mesmo tempo em que Lula avança entre eleitores de renda média e aparece tecnicamente empatado com Bolsonaro na região Sul. um tradicional reduto do bolsonarismo. Entre os mais pobres, Bolsonaro cresce e Lula mostra tendência de queda.
A pesquisa do Ipec foi realizada entre os dias 26 e 28 de agosto, após, portanto, as sabatinas realizadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, com os candidatos mais bem pontuados e também após o pagamento da primeira parcela do Auxílio-Brasil de R$ 600, uma das principais bandeiras do governo Bolsonaro. Foram entrevistadas 2 mil pessoas em 128 cidades de forma presencial. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Confira cinco dados da nova pesquisa do Ipec sobre as eleições presidenciais:
1. Lula cai entre mais pobres e mais ricos, mas lidera entre eleitor de renda média
Os dados da pesquisa Ipec mostram que as intenções de voto de Lula no eleitorado que recebe até um salário-mínimo caíram seis pontos percentuais para menos. No dia 14 de agosto, ele tinha 60% nessa faixa do eleitorado. Agora, ele aparece com 54%.
Bolsonaro, por sua vez, saiu de 20% para 22%. Ciro, que tinha 5%, agora tem 6%. Simone Tebet tinha 1% e agora aparece com 2%.
A queda nesse segmento do eleitorado pode ser motivo de preocupação para o comando da campanha petista, uma vez que essa faixa concentra um grande contingente de eleitores e vem sendo considerado um reduto eleitoral do PT.
Por outro lado, o crescimento das intenções de voto de Bolsonaro nesse segmento, ainda que dentro da margem de erro, indica que a estratégia do presidente de divulgar um conjunto de medidas econômicas como a redução de tributos sobre combustíveis e o Auxílio-Brasil de R$ 600 pode estar começando a dar resultado.
Bolsonaro ampliou dentro da margem de erro sua liderança entre os eleitores mais ricos, os que recebem acima de cinco salários-mínimos. Em 14 de agosto, ele tinha 46% das intenções de voto e agora tem 47%. Ao mesmo tempo, Lula caiu de 36% para 28%.
Apesar disso, a campanha petista viu Lula superar Bolsonaro na faixa do eleitorado de renda média, entre dois e cinco salários-mínimos. Há duas semanas, Lula aparecia com 32% das intenções de voto. Agora, ele tem 39%, um aumento de sete pontos percentuais. Bolsonaro, por sua vez, caiu de 41% para 37%. Considerando a margem de erro, os dois estão tecnicamente empatados.
2. Bolsonaro aumenta vantagens entre evangélicos
A pesquisa mostra que a vantagem de Bolsonaro no eleitorado evangélico segue em tendência de alta. Na última pesquisa, Bolsonaro tinha 47% das intenções de voto nesse segmento. Agora, ele aparece com 48%. Lula, por sua vez, caiu três pontos percentuais, saindo de 29% para 26%.
A distância que antes era de 18 pontos percentuais, agora é de 22.
Os dados mostram que, apesar dos esforços recentes da campanha petistas em se aproximar do público evangélico, o resultado dessas ações ainda não vem se refletindo nas pesquisas de intenção de voto.
O apoio do eleitorado evangélico é considerado vital para a estratégia de Bolsonaro que, em 2018, 70% desse segmento declarou voto em Bolsonaro no segundo turno das eleições.
3. Chances de vitória no primeiro turno ficam menores
Os dados mostram ainda que as chances de vitória em primeiro turno de Lula ficaram ainda menores na comparação com a pesquisa anterior. No dia 14 de agosto, Lula tinha 52% das intenções de votos válidos (excluindo brancos e nulos) e Bolsonaro aparecia com 37%. Esse percentual seria suficiente para encerrar a disputa no primeiro turno.
Agora, Lula aparece com 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro permanece com 37%. Considerando a margem de erro de dois pontos percentuais para mais, a vitória em primeiro turno ainda é possível, mas essa possibilidade ficou mais distante.
Apesar de o PT evitar dizer que a estratégia da campanha de Lula era apostar na vitória em primeiro turno, nos bastidores o partido fez movimentos para viabilizar essa possibilidade. Um deles foi atrair o deputado federal e ex-candidato à Presidência, André Janones (Avante-MG), para apoiar Lula. O parlamentar desistiu da candidatura e agora é um dos principais aliados do petista.
4. Bolsonaro cresce entre quem recebe benefícios do governo
Outra notícia aparentemente boa que a pesquisa Ipec trouxe para a campanha de Bolsonaro é o aumento das intenções de voto do presidente junto ao público que recebe benefícios do governo federal ao mesmo tempo em que Lula oscilou para baixo.
No dia 14 de agosto, Lula tinha 59% nesse segmento contra 30% de Bolsonaro. A distância era de 29 pontos percentuais. Agora, Lula aparece com 57% das intenções de voto contra 32% de Bolsonaro. A distância, neste momento, é de 25 pontos percentuais.
A disputa por esse segmento também é importante e vem fazendo com que tanto Lula quanto Bolsonaro tenham prometido manter o Auxílio-Brasil em R$ 600 em 2023. Pela lei, o benefício só terá esse valor até dezembro deste ano.
5. Lula avança em reduto sulista
Os dados por região mostram que Lula cresceu em intenções de voto do candidato à reeleição em um importante reduto bolsonarista: o Sul do país.
No dia 14 de agosto, Bolsonaro liderava com 39%. Lula vinha atrás com 36%. Agora, Lula aparece com 36% enquanto Bolsonaro tem 34%. Considerando a margem de erro, os dois estão tecnicamente empatados, mas a tendência mostrada na pesquisa é de subida do candidato petista na região.
Na região que concentra o maior número de eleitores, o Sudeste, o cenário é de estabilidade. Lula aparece com 39%, mesmo percentual da pesquisa passada. O mesmo acontece com Bolsonaro, que se manteve com 33%.
No Nordeste, Lula mantém a liderança com 57% das intenções de voto, mesmo percentual de duas semanas atrás. Enquanto isso, Bolsonaro subiu três pontos percentuais, saindo de 22% para 25%.
Nas regiões Centro-Oeste e Norte (agrupadas pelo Ipec), o cenário é de empate entre os dois candidatos. Há duas semanas, Lula aparecia com 44% e Bolsonaro com 36%. Desde então, Lula caiu quatro pontos percentuais, chegando a 40% e Bolsonaro subiu quatro pontos percentuais, também totalizando 40%.
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