- Laís Alegretti
- Da BBC News Brasil em Londres
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto, disse nesta terça-feira (1/11) que é “inegável que a imagem da instituição foi abalada”.
E complementou: “Além da forma que a imprensa está abordando, noticiando os fatos, nos casos pessoais, vários colegas estão narrando vários questionamentos de parentes e amigos de longa data sobre o comportamento da PRF, por que está agindo dessa forma. Se existe esse tipo de questionamento é porque nossa credibilidade, nossa imagem está sendo afetada.”
Desde o domingo, a PRF está no centro da crise – com abordagens a ônibus no dia da eleição e, depois, com sua atuação diante de bloqueio de rodovias sendo criticada.
No dia do segundo turno, a PRF contrariou determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao realizar centenas de abordagens a ônibus.
No dia anterior, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes havia proibido qualquer operação relacionada a transportes públicos por entender que elas poderiam atrasar ou impedir eleitores de se deslocarem até as seções eleitorais.
Depois disso, o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, voltou ao centro das atenções após Moraes determinar na segunda-feira (31/10) adoção imediata de “todas as medidas necessárias e suficientes” para desobstruir as rodovias ocupadas por bolsonaristas em protesto contra o resultado das eleições.
A conduta de policiais rodoviários federais também foi alvo de questionamentos depois que viralizaram vídeos em que profissionais supostamente apoiam manifestantes que bloquearam rodovias após o resultado das eleições.
Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (1/11), a direção da PRF disse que a PRF não foi passiva em momento algum e que “sempre buscou resolução do problema nos primeiros instantes”.
Sobre suposto apoio de agentes da PRF, disse que a polícia “age no cumprimento da lei, não apoia a ilegalidade ou fechamentos de rodovias federais” e que os casos que apareceram na internet já foram identificados” e que já há procedimento na corregedoria do órgão para apurar se houve desvio de conduta.
Neto, da FenaPRF, diz que é “dolorido e triste” ver “a forma com que a PRF está passando por este momento”.
“Nosso policial tem consciência do seu dever legal e a nossa orientação nesse momento de crise, de tensão, é esse — cumprir o dever legal. E ele está lá na ponta para prestar serviço à sociedade, não para fazer a vontade de A ou B”, diz. “Mas o que acontece é que quem move o funcionamento do órgão é a alta gestão.”
Postura de Bolsonaro e rodovias bloqueadas
Neto disse que a postura do presidente Jair Bolsonaro de se manter em silêncio após o resultado da eleição, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dá força às manifestações em rodovias que, por sua vez, impactam os policiais rodoviários federais.
“Esse movimento ganhou corpo em função desse silêncio do presidente em não reconhecer a derrota nas urnas em uma eleição que, na nossa visão, foi democrática, transparente e não existe motivo para questionamento. Esse silêncio dele provoca esse acirramento de ânimos de parte dos seus seguidores e isso impacta diretamente na PRF a partir do momento que esse pessoal fecha a rodovia”, disse.
Mais cedo nesta terça-feira (1/11), a FenaPRF já havia criticado a postura de Bolsonaro em nota, na qual também disse que os policiais rodoviários federais “seguem trabalhando diuturnamente para o restabelecimento do direito de ir e vir da população”.
E que “compete exclusivamente à gestão do Departamento de Polícia Rodoviária Federal providenciar e disponibilizar os meios e a organização do efetivo necessários para dar cumprimento à desobstrução das rodovias federais”.
Além disso, afirmou que “o resultado das eleições de 2022 expressa a vontade da maioria da população e deve ser respeitado”.
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