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Nigel Lawson era pai de Nigella Lawson, famosa chef e apresentadora de programas de culinária

No Brasil e em várias partes do mundo, talvez ele seja menos conhecido do que a sua filha, a chef de cozinha e apresentadora de televisão Nigella Lawson.

Mas no Reino Unido, Nigel Lawson — que morreu nesta terça-feira (4/4) aos 91 anos — é um dos políticos mais famosos da segunda metade do século 20.

Ídolo dos conservadores britânicos, Lawson ocupou vários cargos no governo de Margaret Thatcher (que durou de 1979 a 1990) e ficou conhecido por ser um dos mais importantes Chancellors of the Exchequer (cargo equivalente ao de ministro da Fazenda) do Reino Unido do pós-guerra.

Sob Thatcher, Lawson assumiu o comando da economia britânica em 1983. Ele cortou a alíquota de imposto de renda, aumentou a participação de pessoas e empresas no mercado de ações e pagou a dívida do governo.

Ele também foi arquiteto do programa que privatizou algumas das maiores estatais do Reino Unido nos anos 1980.

Lawson modernizou o mercado financeiro de Londres, supervisionando o chamado “Big Bang” do setor financeiro do Reino Unido — reformas que combinaram desregulamentação e modernização tecnológica.

O Big Bang ajudou a estabelecer Londres como um importante centro financeiro global.

Como consequência, a economia britânica passou por um momento de crescimento — algo que ficou conhecido na época como o Lawson Boom. Essa prosperidade ajudou Thatcher a ganhar um terceiro mandato como premiê britânica.

Mas impostos mais baixos e empréstimos mais baratos alimentaram um boom insustentável na economia. Como reação, as taxas de juros subiram de forma acentuada e o Reino Unido entrou em recessão, que fez crescer o desemprego e a desigualdade econômica para milhões de britânicos.

Em 1989, ele renunciou ao seu cargo no governo, depois de se desentender com Thatcher sobre a posição do Reino Unido diante da Europa.

Nos últimos anos, fora do governo mas ainda atuante na Câmara dos Lordes, ele se destacou por suas visões sobre meio ambiente e o Brexit: ele defendia que o aquecimento global não é causado pela ação humana e também fez campanha para o Reino Unido deixar a União Europeia.

‘Chama destemida do conservadorismo’

Nesta terça-feira, Lawson recebeu homenagens de diversos políticos conservadores atuais.

O primeiro-ministro, Rishi Sunak, postou uma foto sua, da época em que era ministro da Economia, com a legenda: “Uma das primeiras coisas que fiz como ministro foi pendurar uma foto de Nigel Lawson acima da minha mesa”.

O ex-primeiro-ministro Boris Johnson disse que Lawson era “uma chama destemida e original do conservadorismo de livre mercado” que “ajudou milhões de britânicos a realizar seus sonhos”.

Nigel Lawson nasceu em 11 de março de 1932 em uma família judia não ortodoxa em Hampstead, norte de Londres, filho de um comerciante de chá. Seu avô era um imigrante da Letônia, que se tornou cidadão britânico em 1914.

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Thatcher nomeou Lawson como ministro da Economia em 1983

O jovem Nigel seguiu os passos de seu pai na Westminster School antes de ir para Oxford, onde se formou com mérito em filosofia, política e economia.

Por décadas, ele foi jornalista e comentarista de economia na imprensa britânica, até entrar para a política nos anos 1970 — na época no Partido Trabalhista, de esquerda.

Quando Margaret Thatcher chegou ao poder em maio de 1979, Lawson foi nomeado secretário financeiro do Tesouro.

Ele rapidamente demonstrou uma sede inigualável por reformas, liderando a abolição dos controles cambiais pelo governo, o que levou a um livre movimento de moeda no país.

Em setembro de 1981, Lawson foi promovido a secretário de Energia, onde entrou em conflito com os sindicatos dos mineiros.

Sob a liderança de Lawson, o governo armazenou carvão e converteu algumas usinas de queima de carvão em queima de petróleo. Essas ações foram fundamentais para o governo vencer os sindicatos de mineração na disputa.

Lawson também lançou as bases para a privatização de três grandes estatais britânicas: a British Gas, a British Airways e a British Telecom.

“Estamos vendo o nascimento do capitalismo popular”, disse ele, na época.

Após a vitória eleitoral conservadora em 1983, Lawson foi nomeado ministro da Fazenda e imediatamente deu início a um amplo programa de reforma tributária.

Durante seu mandato, a alíquota básica do imposto de renda foi reduzida para 25%, enquanto a alíquota máxima caiu de 60% para 40%.

Lawson também reverteu o déficit do Orçamento de 10,5 bilhões de libras quando assumiu o cargo para um superávit de 4,1 bilhões de libras em 1989.

Em 27 de outubro de 1986, ocorreu a desregulamentação dos mercados financeiros de Londres, apelidada de Big Bang. Embora isso tenha fortalecido a cidade de Londres como uma potência econômica, Lawson mais tarde admitiu que a reforma abriu caminho para a crise financeira global de 2007 ao afrouxar demais as restrições à capacidade dos bancos de emprestar.

Durante o tempo de Lawson no comando da economia britânica, o desemprego caiu, mas a inflação subiu, devido — como Lawson admitiu mais tarde — ao seu fracasso em manter um controle rígido das taxas de juros.

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Nigel Lawson era considerado o rosto do conservadorismo britânico de livre mercado

“Eu deveria ter apertado a política monetária mais cedo”, ele confessou, anos depois.

Ele era um feroz oponente do movimento da Comunidade Econômica Europeia em direção à união monetária.

“É claro que isso implica união política”, afirmou. “Os Estados Unidos da Europa. Isso simplesmente não está na nossa agenda.”

Em outubro de 1989, após diversos desentendimentos políticos com outros conservadores, Lawson renunciou ao cargo, e foi substituído por John Major, que viria a se tornar primeiro-ministro.

Nos anos que se seguiram, ele seguiu escrevendo. Primeiro, um livro de dietas, no qual falou sobre o regime que o fez perder 30 kg.

Nos anos 2000, ele escreveu livros e artigos contra o Protocolo de Quioto, que buscava reduzir as emissões globais de gases nocivos ao meio ambiente.

Lawson também era conhecido por ser “eurocético”. Ele apoiou a saída do Reino Unido da União Europeia no referendo do Brexit de 2016 e participou ativamente da campanha pela saída.

Lawson, que viveu na França por muitos anos, dizia que o Reino Unido não estava virando as costas para a Europa, mas apenas reafirmando a soberania que havia sido cedida por vários governos, incluindo aquele em que ele serviu.