• By Laurence Peter and Laura Gozzi
  • BBC News

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Polícia de Moscou prende manifestante

A polícia da Rússia prendeu centenas de manifestantes que protestavam contra a decisão do presidente Vladimir Putin de convocar milhares de tropas extras para lutar na Ucrânia.

O grupo russo de direitos humanos OVD-Info afirmou que mais de mil pessoas foram presas – a maior parte em São Petersburgo e Moscou.

Dezenas de detenções foram realizadas em Irkutsk e outras cidades da Sibéria, além de Yekaterinburg.

Voos para sair da Rússia ficaram lotados rapidamente após o anúncio de Putin.

O líder russo ordenou uma mobilização parcial, o que significa que cerca de 300 mil reservistas militares – mas não recrutas – serão convocados para reforçar as tropas do país, que sofreram reveses recentes no campo de batalha na Ucrânia.

A medida foi anunciada um dia depois que áreas ocupadas da Ucrânia afirmarem que farão referendos antecipados sobre a adesão à Rússia.

Putin enfatizou que usaria “todos os meios disponíveis” para proteger o território russo – ameaçando explicitamente usar armas nucleares para isso. Ele foi duramente criticado pela Ucrânia e aliados.

Advertências aos manifestantes

Na quarta-feira, a promotoria de Moscou afirmou que a participação em um protesto de rua não autorizado, ou confirmar a participação em algum ato pela internet, pode levar a uma condenação de até 15 anos de prisão.

Os manifestantes podem ser processados ​​sob leis como “desacreditar as forças armadas”, espalhar “notícias falsas” sobre a operação militar da Rússia na Ucrânia ou encorajar menores de idade a protestar.

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Confrontos eclodiram em Moscou quando a polícia realizou prisões

As duras punições da Rússia por espalhar “desinformação” sobre a guerra na Ucrânia e o assédio policial a ativistas anti-Putin tornaram raros os protestos públicos contra a guerra.

Mas o grupo de oposição Vesna convocou manifestações generalizadas e, no Telegram, relatou muitas prisões em toda a Rússia. Um vídeo da cidade de Yekaterinburg mostrou a polícia agrupando violentamente manifestantes em um ônibus.

O grupo Vesna chamou sua ação de “não à mogilização” – um jogo de palavras, porque “mogila”, em russo, significa sepultura.

Pavel Chikov, advogado do grupo russo de direitos humanos Agora, disse que a entidade recebeu 6 mil consultas em sua linha direta desde a manhã de terça-feira. Eram ligações de jovens russos querendo informações sobre os direitos dos soldados.

Crédito, Vesna/Telegram

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No Telegram, o grupo de oposição Vesna convocou protestos contra a guerra na Ucrânia

Enquanto isso, voos para destinos como Istambul, na Turquia, e Yerevan,na Armênia, ficaram lotados rapidamente – e os preços dos assentos restantes dispararam.

Segundo a agência de notícias Associated Press, uma passagem só de ida de Moscou para Istambul ou para Dubai chegou a custar US$ 9.119 (cerca de R$ 47 mil) após o anúncio de Putin.

‘Absolutamente todo mundo tem medo’

O movimento de mobilização do Kremlin ocorre depois de derrotas do exército na Ucrânia, onde as forças de Kiev reconquistaram uma enorme área a leste de Kharkiv.

O controle do presidente Putin sobre a mídia garantiu que muitos russos apoiem sua afirmação de que o governo “neonazista” da Ucrânia e a Otan ameaçam a Rússia, e que os russos na Ucrânia precisam ser defendidos. Na realidade, o governo da Ucrânia foi eleito democraticamente e não tem políticos de extrema-direita.

A escala da oposição à linha do Kremlin na Ucrânia é difícil de avaliar, já que as restrições da mídia são muito rígidas.

Os governadores regionais a favor de Putin, que agora precisam organizar a mobilização, manifestaram apoio à convocação.

“Não seremos enfraquecidos, divididos ou exterminados”, disse o governador de Ulyanovsk, Alexei Russkikh. “Nossa região, como todas as outras do país, tem o dever de mobilizar os cidadãos para o serviço militar.”

O governador de Chelyabinsk, Alexei Teksler, disse que a mobilização é necessária para garantir a “soberania, segurança e integridade territorial da Rússia”.

Mas alguns jovens falaram à BBC sobre seus temores sobre a convocação.

“Eu esperava que isso nunca acontecesse” disse um jovem chamado Matvey, em São Petersburgo. “Agora é óbvio que Putin não vai recuar e vai continuar sua luta estúpida até o último cidadão russo”, afirmou.

“Eu não devo ser recrutado durante esta etapa de mobilização, mas não há garantias de que as coisas não vão piorar.”

Evgeny, um russo de 31 anos que vive no Reino Unido, disse à BBC: “Absolutamente todo mundo está com medo, todo mundo está enviando informações diferentes sobre a mobilização. É muito difícil descobrir o que é verdade e o que não é. Ninguém confia no governo.”

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