Um comandante da Marinha ucraniana na cidade de Mariupol, sitiada pelos russos, divulgou uma mensagem em vídeo nesta quarta (20/4) dizendo que seus homens tinham apenas algumas horas de vida.
O major Serhiy Volyna está no último reduto de resistência ucraniana na cidade e enviou o vídeo à BBC e a outros meios de comunicação.
Volyna disse que suas tropas não se renderiam, mas pediu ajuda internacional para os 500 soldados feridos e as centenas de mulheres e crianças que ele disse estarem abrigadas com eles em uma indústria siderúrgica – a fábrica de ferro e aço Azovstal, com mais de 10 km² de extensão.
“Esta é nossa última mensagem para o mundo. Pode ser nossa mensagem final. Podemos ter apenas mais alguns dias ou horas de vida”, disse o major Volyna.
“Fazemos um pedido de ajuda aos líderes do mundo”, acrescentou. “Pedimos que organizem uma extração e nos levem para outro país.”
“As unidades inimigas nos superam em número de dez para um, eles têm domínio no ar, artilharia, tropas terrestres e tanques de guerra”, reiterou Volyna, que é comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais.
Ele não disse quantos soldados ucranianos permanecem na fábrica, mas afirmou que eles têm um “bom espírito de luta”.
No entanto, afirmou, a situação dos feridos é “muito grave”. “Eles estão no porão, estão apodrecendo lá”, disse o major.
Embora o comandante tenha enfatizado que seus homens não se renderiam, na semana passada a Rússia disse que 1.026 soldados daquela unidade, incluindo 162 oficiais, se renderam.
Há outra unidade de combate localizada dentro da siderúrgica. É a Brigada Azov, cujo nome é uma homenagem ao Mar de Azov – que liga Mariupol ao resto do Mar Negro.
Os Azov são uma milícia ligada a nacionalistas de extrema direita, que mais tarde se juntaram à Guarda Nacional Ucraniana. Estima-se que eles tenham cerca de 900 soldados.
A unidade marinha juntou-se ao Azov em Mariupol na semana passada. Não está claro quantas tropas ucranianas conjuntas permanecem na fábrica.
Na terça-feira, os Azov postaram uma mensagem no Telegram: “Vamos lutar, usaremos todos os cartuchos que nos restam, mas pedimos à pátria que salve os civis, salve os feridos e remova os cadáveres”.
E os corredores humanitários?
Mariupol tem sido o objetivo estratégico da Rússia desde que suas forças invadiram a Ucrânia, em fevereiro.
O Ministério da Defesa da Rússia deu às forças ucranianas entrincheiradas na fábrica de Azovstal outro ultimato para depor as armas e se render na manhã de quarta-feira, mas o prazo passou sem qualquer sinal de rendição.
Nem um único soldado ucraniano aceitou a oferta que já tinha sido feita na terça-feira, disse o ministério em comunicado.
No entanto, a Ucrânia parece ter chegado a um acordo preliminar com a Rússia para evacuar civis, anunciou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.
Vereshchuk disse que isso envolveria a abertura de um corredor humanitário para mulheres, crianças e idosos. O prefeito de Mariupol, Vadim Boychenko, anunciou anteriormente que seriam abertos corredores de evacuação entre Mariupol e Zaporizhzhia.
Boychenko informou nas mídias sociais que os moradores poderiam embarcar em ônibus na rua Taganrogskaya que também fariam paradas na fábrica Azovstal.
“Durante esses dias terrivelmente longos e difíceis, eles sobreviveram em condições desumanas”, disse Boychenko. “Havia um vácuo de informações, estavam sem acesso a nenhuma informação”.
No entanto, os acordos para abrir corredores humanitários têm sido difíceis de implementar. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que “a situação em Mariupol continua a mais grave possível”.
Na semana passada, Zelensky disse à BBC que acredita que até 20 mil pessoas foram mortas no bombardeio russo da cidade e que um número desconhecido de civis foi levado para o território russo.
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