- Author, Jonathan Beale
- Role, Da BBC News em Tomakivka (Ucrânia)
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Maksym havia lutado 200 horas sem parar quando foi morto por um atirador russo na cidade de Bakhmut.
“Durante oito dias, ele não comeu, nem dormiu”, conta a mãe dele, Lilia.
“Não podia nem fechar os olhos por cinco minutos, porque o atirador podia disparar.”
Há uma razão pela qual ela agora chama Bakhmut de “inferno”. É a cidade que tirou a vida de um dos filhos dela — e deixou o único outro gravemente ferido.
Se há algum consolo é que ele morreu salvando a vida do irmão.
Maksym e Ivan se voluntariaram para lutar quando a Rússia invadiu a Ucrânia no ano passado. Na época, Maksym tinha 22 anos; e Ivan, apenas 18.
Ivan, que ainda carrega as cicatrizes do conflito, diz que eles eram inseparáveis.
“Ele estava sempre comigo, e eu com ele. Era a pessoa que eu mais amava.”
Ivan me mostra vídeos e fotos deles juntos — em uma trincheira, em um veículo militar, tentando descansar um pouco.
Conforme o tempo passa, você vê dois rapazes bonitos e sorridentes mudarem, com a aparência cada vez mais cansada à medida que a guerra tira sua inocência.
Os últimos momentos deles juntos foram em combates urbanos brutais em Bakhmut.
“Era impossível dormir lá. Estávamos sendo atacados 24 horas por dia, 7 dias por semana”, conta Ivan.
A unidade dos irmãos ficou presa em um cômodo sem janelas de um prédio. Eles tiveram que perfurar paredes para improvisar posições de disparo. Foi quando receberam uma ordem para se retirar.
Ivan se recorda do momento antes de ser ferido.
“Lembro que estava recarregando; saí de trás de uma parede e vi um clarão. Fiquei paralisado e caí.”
Ele diz que sentiu o calor do sangue jorrando dos ferimentos para o rosto. E achou que não sobreviveria.
“Pensei que era meu fim; vou sangrar até morrer e pronto.”
Mas Maksym veio correndo em seu socorro e o arrastou de volta para dentro de um prédio para se proteger.
“Ele me reanimou, tirou meus dentes quebrados e começou a prestar os primeiros socorros”, conta Ivan. Isso incluiu abrir um orifício na garganta do irmão para evitar que ele sufocasse.
Ivan compartilha um vídeo do irmão limpando carinhosamente o sangue logo após a explosão. Outro vídeo amplamente compartilhado mostra Ivan com dificuldade para andar com um ferimento aberto no rosto, mas ainda segurando a bandeira ucraniana: um símbolo de bravura e resistência na batalha por Bakhmut.
Ivan não tem dúvidas de que teria morrido se não fosse por Maksym.
“Meu irmão não me deixou morrer. Ele me salvou.”
Maksym pediu ajuda com urgência pelo rádio. Mas os primeiros médicos que tentaram chegar até ele foram mortos quando o veículo em que estavam foi atingido por um míssil antitanque russo. Ivan só foi resgatado nove horas depois.
E foi então que Maksym fez um ato extraordinário de autossacrifício. Em vez de ir com o irmão para um local seguro, ele se ofereceu para ficar em Bakhmut, para liderar sua unidade.
Uma semana depois, foi morto por um atirador russo.
Na Ucrânia, os funerais de soldados agora são tão constantes quanto o som da artilharia na linha de frente. Mas nem todos são como o de Maksym. Não só a família, mas toda a cidade de Tomakivka foi prestar homenagem a ele.
As pessoas se ajoelharam enquanto o cortejo fúnebre seguia para o cemitério — algumas segurando flores, outras a bandeira da Ucrânia. As orações e a música lúgubre eram acompanhadas de lágrimas e soluços.
No último ano, os pais de Maksym e Ivan viveram as batalhas dos filhos indiretamente. Lilia e Serhii também passaram noites sem dormir — esperando ansiosamente por notícias dos filhos. Muitas vezes, eles enviavam uma breve mensagem de texto para tranquilizá-los, lembra Lilia: “Estamos bem, mãe.”
Até que veio a notícia que eles temiam.
Lilia chora sobre o caixão de Maksym antes do mesmo ser sepultado — acompanhado por uma saraivada de tiros.
“Ainda não dá para acreditar. Minha alma está dilacerada”, diz Lilia após o enterro. Ela afirma que sua única razão para continuar vivendo é o filho mais novo.
Ela conta que Maksym teve a chance de partir com Ivan, mas ele não abandonaria seus companheiros mais jovens e menos experientes.
“Ele é um herói. É um anjo. É um raio de Sol. Ele nunca deixaria o irmão, mesmo sabendo que ele próprio morreria.”
A Ucrânia não informa quantas vidas foram perdidas nesta guerra. Mas basta olhar ao redor do cemitério, e você logo vê que o país inteiro está pagando um preço extremamente alto.
Neste pequeno cemitério, nesta pequena cidade, há diversas fileiras de sepulturas recém-cavadas cercadas por flores. O enterro de Maksym foi um dos três funerais de soldados que o padre local realizou naquela semana.
Para Roman, que foi soldado antes de entrar para o sacerdócio, foi mais difícil do que a maioria. Ele é amigo da família e orou com os pais de Maksym e Ivan para que os filhos deles, que ele conhecia, voltassem para casa em segurança.
“Muitas vezes você tem que enterrar soldados”, diz Roman. “Mas não seus amigos.”
No funeral, Ivan ainda estava segurando a bandeira ucraniana que carregava quando foi ferido — assinada por seus companheiros, incluindo seu irmão. O sangue de suas próprias feridas virou uma mancha no pano azul e amarelo.
Pergunto se ele agora se arrepende da decisão de se alistar no Exército. Ele responde:
“Sabíamos que poderíamos não voltar, mas é uma honra lutar pela Ucrânia. É por isso que não me arrependo de forma alguma.”
“Meu irmão deu a vida pela nossa liberdade. Infelizmente, a liberdade vem com sangue.”
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