- Author, Jonathan Beale
- Role, Da BBC News no leste da Ucrânia
“Gostaríamos de obter resultados bem rápidos, mas na realidade é praticamente impossível”, diz o homem que supervisiona a nova ofensiva da Ucrânia no leste do país.
Encontramos com o general Oleksandr Syrskyi em um local secreto ao lado do veículo de comando que ele usa para visitar suas tropas e ficar de olho nos combates. No topo, há uma poderosa metralhadora. No interior, uma tela enorme exibe vários vídeos ao vivo do campo de batalha gravados por centenas de drones.
Se você buscar por “general Syrskyi” na internet, vai ver que ele é descrito como “o general mais bem-sucedido do século 21 até agora”.
Uma reputação e tanto para fazer jus.
Ele liderou a defesa de Kiev, capital do país, no início da invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado. E foi o cérebro por trás do contra-ataque surpresa bem-sucedido da Ucrânia em Kharkiv no verão passado. Agora, ele é o chefe das operações militares no leste da Ucrânia — um dos dois principais eixos da contraofensiva ucraniana.
Assistimos a uma transmissão dos campos fortemente bombardeados ao redor de Bakhmut, onde algumas de suas tropas estão tentando retomar o território. Pergunto a ele se o objetivo é reconquistar a cidade. Ele sorri e diz: “Sim, claro. Eu tento fazer isso.”
Mas até ele admite que, mais de um mês desde que começou, a tão esperada ofensiva da Ucrânia em várias frentes está indo mais devagar do que muitos esperavam.
Ele diz que no leste, assim como no sul, a área está impregnada de minas e barreiras defensivas. Os russos, segundo ele, têm muitos redutos.
“Portanto, nossos avanços realmente não estão indo tão rápido quanto gostaríamos.”
Mas o general Syrskyi acredita que a Ucrânia ainda tem uma clara vantagem.
“Acredito que a unidade de nossa liderança militar e a confiança de nossos soldados uns nos outros é um ponto forte do nosso exército.”
Isso contrasta fortemente com a hierarquia militar da Rússia, que parece estar sofrendo com lutas internas, com oficiais superiores sendo removidos do comando.
O general Syrskyi é idolatrado por aqueles ao seu redor, que admiram seu comprometimento, determinação e astúcia. O relaxamento é uma sessão diária no ginásio. Ele dorme apenas quatro horas e meia por noite.
Ao sul e ao norte de Bakhmut, a Ucrânia diz ter retomado quase 30 quilômetros quadrados de território dos russos.
Para ele, recapturar Bakhmut também é “uma questão de honra”:
“Perdemos muitos de nossos irmãos, nossos militares, quando estávamos defendendo Bakhmut… portanto, simplesmente temos que pegá-la de volta.”
A vice-ministra da defesa da Ucrânia, Hanna Maliar, nos disse que as forças russas na cidade logo ficariam encurraladas. Mas os projéteis de artilharia ainda estavam caindo em uma posição ucraniana que visitamos a apenas 3 km da cidade.
Alex, um dos soldados da 57ª Brigada da Ucrânia, descreve a situação como “tensa”.
Ele aponta para uma grande cratera criada no início da manhã por um projétil de artilharia russa — ele caiu a poucos metros de sua trincheira.
Pouco tempo depois, nós também tivemos que correr para nos proteger.
Longe dos bombardeios, comandantes estão coordenando os esforços para recapturar Bakhmut de um bunker subterrâneo.
Dois meses atrás, quando estive aqui pela última vez, a Ucrânia estava perdendo terreno e correndo o risco de ser cercada. Agora o jogo virou.
O coronel Oleksandr Bakulin, comandante da 57ª Brigada, me disse que agora são os russos que estão em apuros.
Ele afirma que não subestima seu inimigo, mas que as tropas russas que ele enfrenta agora não são como os mercenários do Grupo Wagner, de Yevgeny Prigozhin, que acabaram capturando a cidade no início deste ano.
Os integrantes do Wagner, segundo ele, “eram inimigos desconfortáveis… eles matavam por matar”.
“Se fizermos um pouco de esforço, Bakhmut pode ser cercada”, diz o coronel Bakulin. Contrariando a sabedoria militar convencional, ele também afirma que suas baixas na ofensiva são menores do que quando sua unidade estava estática, defendendo a cidade.
Avançar, embora lentamente, também aumentou o moral, segundo ele, de modo que “as perdas são mais fáceis de suportar”.
Pela primeira vez na linha de frente no leste do país, o número das forças ucranianas agora é equivalente ao das tropas russas — cerca de 160 mil. Mas a Ucrânia ainda tem menos armas do que a artilharia russa.
Será que a dinâmica poderia mudar com a chegada de munições de fragmentação fornecidas pelos EUA, que contêm dezenas de pequenas bombas que podem ser lançadas sobre uma área mais ampla? Elas são proibidas em mais de cem países.
O coronel Bakulin diz que elas são necessárias para “infligir dano máximo à infantaria inimiga”.
“Quanto mais infantaria morrer aqui, mais seus parentes na Rússia vão perguntar ao seu governo ‘por quê’?”
Mas ele acrescenta: “Não posso dizer que as bombas de fragmentação vão resolver todos os nossos problemas no campo de batalha”.
Ele também reconhece que são uma arma controversa: “Se os russos não as usassem, talvez a consciência não nos permitisse fazer isso também.”
O general Syrskyi confirmou que as munições de fragmentação dos EUA chegaram à Ucrânia — e estariam prontas para uso em alguns dias. Vimos os canhões M777 fornecidos pelos EUA, que vão disparar os projéteis, já posicionados em torno de Bakhmut.
O general afirma que a retomada da cidade teria mais do que um valor simbólico. Ele argumenta que Bakhmut também é de importância estratégica — serve como porta de entrada para outras cidades importantes da região.
Mas ele acrescenta: “Nosso povo espera por vitórias. Eles precisam de pequenas vitórias.”
Fonte: BBC
Você precisa fazer login para comentar.