• Author, Paul Kirby e Chris Partridge
  • Role, BBC News

Crédito, Telegram

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Imagens de um balão amarrado a um refletor circularam nas redes sociais na Ucrânia

O comandante das Forças Armadas da Ucrânia declarou que a Rússia disparou 36 mísseis de cruzeiro contra o país na manhã de quinta-feira (16/02), um dia depois que seis balões foram vistos sobre a capital ucraniana, Kiev.

Disparados por terra e mar, os mísseis mataram uma mulher e atingiram infraestrutura crítica, segundo autoridades, que afirmaram também ter observado uma mudança na estratégia de guerra russa, em uma aparente referência aos balões avistados em Kiev.

Ainda de acordo com as Forças Armadas ucranianas, a maioria dos artefatos foi abatida.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram um design pouco sofisticado, com uma estrutura em forma de cruz, que funcionaria como um refletor de radar, ligada a um balão suspenso por uma linha.

Balões com refletores de radar também foram vistos na região leste de Dnipropetrovsk nos últimos dias.

“Esses objetos podem carregar refletores de radar e equipamentos de reconhecimento”, disse o porta-voz da Força Aérea Yurii Ihnat. “Os balões foram lançados para detectar e exaurir nossa defesa antiaérea.”

No início desta semana, um objeto voador que se assemelhava a um balão meteorológico foi avistado na Romênia, que faz fronteira com a Ucrânia, a uma altura de cerca de 11.000 pés (3.350m).

À medida que se aproxima a data que marca um ano da invasão russa na Ucrânia, os balões parecem ser um novo elemento da ofensiva aérea da Rússia, que já contava com mísseis de cruzeiro e drones iranianos de baixo custo.

Os objetos têm o potencial de confundir sistemas de radar e induzir os militares ucranianos a lançar os dispendiosos mísseis superfície-ar (SAMs) contra os chamados “alvos falsos”.

Dado o tamanho e a velocidade dos balões, o porta-voz da Força Aérea argumentou que os radares ucranianos foram capazes de identificar os artefatos corretamente e em pelo menos duas ocasiões derrubá-los com balas em vez de desperdiçar mísseis.

Mas os objetos também podem funcionar como iscas. A Ucrânia constantemente monitora os céus em busca de aeronaves e mísseis russos usando radares terrestres, muitos dos quais fazem parte de seus próprios sistemas SAM da era soviética, juntamente com equivalentes modernos cedidos por países aliados.

Os refletores presentes na estrutura, segundo os militares ucranianos, atraem as estruturas de defesa das aeronaves ucranianas, que podem acabar presas aos objetos.

Crédito, Forças Armadas da Ucrânia

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Forças Armadas ucranianas compartilharam imagem do tipo de refletor usado nos balões

‘Iscas’

Ao tirar de atividade o máximo possível da defesa antimísseis, os balões permitiriam que os caças, bombardeiros, mísseis de cruzeiro e drones de ataque da Rússia atingissem alvos ucranianos mais facilmente.

A ideia por trás do uso dos artefatos é refletir a energia emitida pelos radares e confundir a defesa antiaérea ucraniana. Flutuando sob ventos fortes em altitude, os balões podem se assemelhar a aeronaves ou helicópteros.

O especialista militar russo Andrei Klintsevich avalia que a Rússia usou a mesma estratégia para proteger a ponte sobre o estreito de Kerch, que dá acesso à Crimeia, de um ataque.

“Iscas” mais sofisticadas foram usadas ​​em conflitos anteriores para confundir as defesas aéreas. Há relatos, por exemplo, de que Israel os teria usado contra SAMs sírios no vale de Bekaa em 1982, assim como os EUA nas primeiras horas da Operação Tempestade no Deserto, no Iraque, durante a Guerra do Golfo, em 1991.

Os sistemas SAM modernos enviados para a Ucrânia – como Nasams, Iris-T e Patriot – conseguem diferenciar os balões de ameaças reais. Mas, na perspectiva russa, qualquer possível distração que afete os militares ucranianos será vista como uma tática válida.

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