- Rafael Barifouse
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Fernando Meligeni só jogou uma única vez contra Roger Federer, que acaba de anunciar sua aposentadoria. Foi na segunda rodada do torneio de duplas do Aberto da Austrália, em 2003. Ao lado do francês Anthony Dupuis, Meligeni foi eliminado por Federer e o também suíço Yves Allegro por 2 sets a 0.
“Federer sempre foi um cara extretamente talentoso. Dá raiva ver ele jogar, porque tudo que ele tenta fazer ele faz com maestria. Mas, quando você joga contra ele, não pensa muito nisso e tenta ganhar, mas não consegui”, diz o brasileiro, um dos principais nomes da história do tênis no país, em entrevista à BBC News Brasil.
Federer é um dos tenistas mais vitoriosos de todos os tempos. Ele estreou profissionalmente aos 16 anos, em 1998, e, ao longo dos 25 anos seguintes, ganhou 20 vezes um Grand Slam, como são chamados os quatro principais torneios do calendário anual do esporte (Aberto da Austrália, Aberto dos Estados Unidos, Roland Garros e Wimbledon).
Só o espanhol Rafael Nadal, com 22 títulos de simples de Grand Slam, e o sérvio Novak Djokovic, com 21, venceram mais que o suíço. Mas Meligeni diz que sua admiração por Federer vai muito além de sua coleção de troféus.
“Ele foi um gigante, o maior, não só pelos resultados, mas pelo que ele representa para o esporte. Ele transcende a quadra, sempre se preocupou com os outros atletas, lutou pela modalidade. Não pensava só na carreira dele, (não) olhava só para o próprio umbigo”, diz Fininho, como o tenista brasileiro é conhecido.
Meligeni dá como exemplo disso o embate travado por Federer com os organizadores dos principais torneios de tênis para aumentar o valor do prêmio pago aos jogadores que participavam das primeiras rodadas. “Foi ele que encabeçou isso. Os jogadores sempre reivindicaram e nunca foram escutados. Mas o Federer conseguiu mudar essa mentalidade.”
Aposentadoria
Fininho diz que uma atitude assim se destaca ainda mais em um esporte como o tênis. “O problema de um esporte individual é conseguir unir as pessoas, porque cada um olha para o seu. E, enquanto alguns são milionários, outros não têm dinheiro, então, para juntar todo mundo precisa de líderes como o Federer”, afirma.
O tenista suíço anunciou que se aposentará após disputar a Laver Cop, que será realizada em Londres, no Reino Unido, neste mês. Ele não joga desde o torneio de Wimbledon de 2021, depois do qual passou por uma terceira operação no joelho.
“A mensagem do meu corpo para mim ultimamente tem sido clara”, disse o suíço de 41 anos. “Joguei mais de 1,5 mil partidas. Agora, tenho que reconhecer quando é hora de encerrar minha carreira competitiva.” Ele acrescentou: “Para o jogo de tênis, eu [digo] te amo e nunca vou te deixar”.
Meligeni avalia que o anúncio já era esperado e diz que Federer até demorou para fazer isso. “O tênis é muito dinâmico. Para se manter em um nível altíssimo como o dele, é preciso treinar todos os dias, e, com uma lesão como a dele, não dava para fazer isso. Está claro que não dá mais para ele jogar, era inevitável, mas não deixa de ser uma pena”, afirma.
“O tênis morre um pouco com a aposentadoria de Federer.”
‘Federer é a prova que não precisa ser arrogante para ser o cara’
Federer chegou ao topo do ranking do tênis mundial pela primeira vez em 2004 e passou ao todo 310 semanas nesta posição – recorde que só foi superado por Djokovic em 2021. Também ganhou o ouro olímpico em duplas para a Suíça ao lado de Stan Wawrinka em Pequim, em 2008, e prata em simples em Londres, em 2012.
O último triunfo de Federer em um Grand Slam aconteceu no Aberto da Austrália de 2018, aos 36 anos. Meligeni, ao comentar sobre o talento e a carreira de Federer, o compara a grandes nomes de outros esportes, como o futebol, o basquete e o automobilismo.
“O que o Messi, o Michael Jordan ou o Senna têm de especial? Treinam mais? Nasceram com isso? Eles trabalham duro, obviamente, mas têm uma habilidade nata, um talento único.”
Mas a importância e o legado de Federer para o tênis vão além das jogadas magistrais, diz Meligeni. “O esporte vive de ídolos. E ele é o cara que há 20 ou 30 anos carrega a bandeira do tênis no mundo. Ele faz a roda andar, ele vem para o Brasil e junta 15 mil pessoas que vão lá só para ver ele jogar”, afirma.
Meligeni atribui parte desse sucesso ao carisma de Federer. “A personalidade dele une as pessoas. Não lembro de uma atitude ou declaração dele que se possa criticar. Ele é a prova de que uma pessoa não precisa ser arrogante para dizer que é ‘o cara'”, diz.
Por isso, Meligeni acredita ser difícil apontar um sucessor de Federer ou alguém que será capaz de superá-lo pelo seu conjunto da obra dentro e fora de quadra. “Pode ser que alguém tenha melhores resultados ou que seja mais legal, mas vai ser difícil ver alguém que reúna todas essas qualidades. Vai ser difícil bater ele. Federer é o maior.”
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