- Author, Jared Lindzon
- Role, BBC Worklife
A WeWork, empresa global de coworking – cujo valor de mercado chegou a atingir US$ 47 bilhões (cerca de R$ 230 bilhões) – entrou com pedido de recuperação judicial em Nova Jersey, nos Estados Unidos, no dia 6 de novembro.
A notícia fez com que o preço de suas ações despencasse rapidamente, fazendo com que o valor da empresa caísse para menos de US$ 50 milhões (cerca de R$ 245 milhões). E, embora alguns locais permaneçam abertos, a WeWork começou a fechar escritórios em todo o mundo.
Seu nome ocupa posição de destaque na imaginação popular. “WeWork” se tornou praticamente sinônimo de “coworking”, como “Kleenex” para “lenço de papel” e “Google” para “busca”.
Agora, o mundo do coworking começa a sentir arrepios após a repercussão da falência da WeWork.
Mas as recentes dificuldades da empresa chegaram em uma época de histórico crescimento (ainda que silencioso) do mundo dos escritórios compartilhados. E os especialistas afirmam que, mesmo com o desaparecimento da WeWork, a necessidade e o desejo de espaços coworking irão permanecer – e outras empresas se preparam para aproveitar a oportunidade.
As falhas da WeWork
Um motivo importante que pode impedir a queda da WeWork de prejudicar o setor de coworking é a natureza das suas falhas, em grande parte relacionadas à posse de imóveis pela empresa.
Muitos administradores bem sucedidos de espaços de coworking preferem firmar parcerias com locadores comerciais para oferecer seu conjunto de amenidades e regalias aos seus membros, em troca de uma taxa fixa ou uma parcela dos lucros gerados pelas mensalidades.
Mas a WeWork assumiu uma série de locações de longo prazo e ela própria cobrava diretamente toda a renda dos seus membros. O modelo permitiu que a empresa aproveitasse mais os lados positivos do modelo, mas também a expôs a um risco bem maior.
No seu auge, a WeWork assumiu dívidas de cerca de US$ 19 bilhões (cerca de R$ 93 bilhões) para manter 777 locais de trabalho em 39 países. A maioria era de aluguéis de longo prazo que a empresa esperava pagar com as mensalidades dos seus membros.
Mas a pandemia fez com que os usuários cancelassem seus planos, deixando a WeWork sem os fundos necessários para pagar os aluguéis.
Especialistas afirmam que a crise causada pela covid-19 não foi a única causa da morte da WeWork.
“Não foi a pandemia que quebrou a WeWork, foi o seu modelo comercial”, acredita John Arenas, CEO (diretor-executivo) da empresa de coworking Serendipity Labs, que opera nos Estados Unidos.
“Passei por quatro recessões neste setor em 30 anos – mais a pandemia, então são cinco – e o aluguel de longo prazo dura mais que o ciclo – existe simplesmente uma assimetria”, afirma ele. É bom lembrar que Arenas trabalha neste setor desde os anos 1990 e deixou claras suas dúvidas sobre a viabilidade do modelo da WeWork – pelo menos, desde 2014.
Demanda crescente
Apesar dos problemas da WeWork, especialistas acreditam que o futuro do setor de coworking é muito promissor.
Sara Sutton, do Estado americano do Colorado, é a fundadora e CEO do serviço de trabalho remoto FlexJobs. Ela afirma que a normalização do coworking como forma de trabalho fez com que a oferta de escritórios compartilhados se tornasse mais importante do que nunca.
“Antes da pandemia, ainda era preciso muito trabalho de convencimento sobre como integrar o trabalho remoto e híbrido nas organizações”, afirma ela. “Não precisamos mais tentar convencer. Todos sabem que é algo estabelecido e as organizações, agora, estão formalizando seus cargos remotos ou híbridos.”
Sutton destaca que os espaços de coworking eram tradicionalmente populares junto aos freelancers e às pessoas que trabalham de forma remota, mas não contam com um ambiente de home office produtivo.
“Os espaços de coworking oferecem flexibilidade e uma grande oportunidade de interação social e comunidade, o que será muito importante para compensar alguns dos elementos do trabalho remoto que as pessoas estão conhecendo cada vez mais, como o sentimento de solidão ou o anseio de interação social”, explica ela.
“As organizações remotas estão se voltando cada vez mais para o ambiente de trabalho [flexível] como parte integrante das suas estratégias, oferecendo subsídios ou até fazendo com que suas equipes em uma mesma região usem espaços de coworking como sedes locais.”
Os profissionais também estão percebendo que os espaços de coworking se adaptam cada vez mais às suas novas vidas com o trabalho remoto.
Mark Dixon, fundador e CEO da IWG – gestora da rede de espaços globais de coworking Regus – afirma que uma parcela cada vez maior de clientes trata o acesso a esses espaços como se fosse uma academia de ginástica. Eles procuram regalias, recursos, programas sociais e amenidades, embora apenas uma pequena parte dos seus membros faça uso do espaço ao mesmo tempo.
Dixon também afirma que muitos dos seus clientes – um milhão, muitos dos quais trabalham principalmente em casa – também estão utilizando cada vez mais os escritórios virtuais da empresa no lugar dos espaços físicos, onde “fazemos toda a sua parte administrativa, atendemos chamadas e lidamos com todas as tarefas de administração”.
Esses profissionais também fazem uso de qualquer edifício que quiserem. “Isso vem crescendo significativamente nos últimos anos, como resultado direto dessa mudança para o ambiente de trabalho mais nômade”, ele conta.
Configurações deste tipo estão ficando cada vez mais atraentes e desempenham papel importante no mundo pós-pandemia. Elas oferecem uma experiência mais eficiente de trabalho híbrido: o melhor do escritório, quando e onde os trabalhadores quiserem.
E Dixon acredita que os profissionais, de fato, querem esta possibilidade. Ele nunca esteve tão otimista quanto ao futuro do setor. E, enquanto a WeWork enfrenta sua recuperação judicial, a IWG registra recordes de receita.
Quem irá ocupar o lugar da WeWork?
Com a demanda crescente pelos espaços de coworking, a falência da WeWork pode criar oportunidades para outros fornecedores, especialmente os que atendam às novas preferências dos profissionais.
A WeWork pode ser o nome mais conhecido do setor e sinônimo de coworking na linguagem popular. Mas várias outras empresas firmaram seu espaço nos últimos anos. Elas simplesmente não mereceram tantas manchetes, controvérsias e minisséries de TV.
Fundada 35 anos atrás, a Regus é uma dessas companhias com presença estável no mercado.
“Estamos no mesmo setor, estamos no mesmo segmento, mas eles estão vindo de outra direção”, afirma Mark Dixon. Segundo ele, a IWG mantém mais de 4 mil locais de trabalho em 120 países.
“[A WeWork] está muito concentrada em algumas cidades, de forma que a diferença é que nós temos uma grande rede espalhada por todos os Estados Unidos e pelo mundo, em muitas cidades.”
Dixon acredita que os profissionais não procuram mais escritórios no centro das cidades, como no lançamento da WeWork, em 2010 – voltada principalmente para profissionais urbanos que buscavam alternativas às cafeterias.
Agora, ele observa que a prioridade dos profissionais remotos é eliminar a necessidade de transporte nas cidades, procurando espaços ultralocais. A Serendipity Labs adota uma abordagem parecida, oferecendo espaços em subúrbios vizinhos a cidades importantes, como Nova York, nos Estados Unidos.
Para Sara Sutton, desde que ela lançou a FlexJobs em 2007, analistas vêm destacando diversos eventos que poderiam indicar o fim da era da flexibilidade.
“Certa vez, foi o Yahoo! e Marissa Mayer [ex-CEO que proibiu seus funcionários de trabalharem de casa], depois quando a IBM cancelou sua política de trabalho remoto“, relembra ela. “As pessoas estão sempre procurando um motivo para dizer que ‘isso não vai acontecer’.”
As recentes dificuldades da WeWork trazem a Sutton uma sensação de déjà vu: “os números mostram que o interesse pelos espaços de coworking está crescendo e não vejo esse interesse diminuir por causa da WeWork”.
Fonte: BBC
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