• James Gallagher
  • Repórter de Saúde e Ciência da BBC

Crédito, Getty Images

Cientistas descobriram que podem turbinar a memória das pessoas por pelo menos um mês, estimulando partes do cérebro com eletricidade sem causar danos.

Os voluntários que participaram do estudo apresentaram um desempenho melhor em jogos de memorização de palavras, que testaram tanto sua memória de “trabalho” (armazenamento temporário de informação com capacidade limitada) quanto sua memória de longo prazo.

Ainda não está claro, no entanto, o que os resultados significam exatamente para a vida cotidiana.

Mas as ideias vão desde ajudar os idosos a lidar com o declínio da memória, até tratar doenças e auxiliar na preparação para provas.

Robert Reinhart, da Universidade de Boston, nos EUA, descreveu a técnica de estimulação como “uma abordagem totalmente diferente para isolar e turbinar partes do cérebro”, que oferece “um campo inteiramente novo de possíveis opções de tratamento”.

As pessoas que participaram do estudo usaram uma touca repleta de eletrodos. Uma corrente elétrica controlada, que se assemelha a um comichão ou formigamento, foi então utilizada para alterar com precisão as ondas cerebrais em regiões específicas do cérebro.

Os voluntários foram submetidos a 20 minutos de estimulação diariamente durante quatro dias seguidos. Ao longo do estudo, eles tiveram que memorizar listas de palavras — e foram solicitados a lembrar-se novamente delas um mês depois.

Reinhart disse que o tratamento “pode ​​causar melhora na memória seletiva que dura pelo menos um mês”.

Os resultados, publicados na revista científica Nature Neuroscience, mostram que os voluntários que tiveram dificuldade com os jogos de memória no início do experimento foram aqueles cuja memória melhorou mais.

Como a memória funciona

Os sinais elétricos mudaram o ritmo da atividade cerebral — ondas cerebrais — nas áreas direcionadas.

Os cientistas acreditam que as quatro rodadas de estimulação reforçaram esses padrões e levaram a melhorias duradouras à medida que o cérebro se adaptava e se reconectava — o que é conhecido como neuroplasticidade.

“É uma espécie de conexão com a chamada linguagem do cérebro, que fala consigo mesmo e se comunica consigo mesmo por meio de impulsos elétricos”, diz Reinhart.

No entanto, são necessários diferentes tipos de estimulação para aumentar os diferentes tipos de memória:

– A memória de trabalho é para o aqui e agora. É como você retém informações na sua mente — como fazer anotações em sala de aula —, e é vital na resolução de problemas e na tomada de decisões.

– Turbiná-la exige a estimulação de baixa frequência do córtex pré-frontal, na parte da frente do cérebro.

– A memória de longo prazo é onde armazenamos as informações; é como podemos lembrar do nosso primeiro dia de aula ou de um casamento.

– Turbiná-la exige a estimulação de alta frequência do córtex parietal, na parte de trás do cérebro.

– Nos jogos de palavras — recordar aquelas dadas no início testa a memória de longo prazo, enquanto recordar após um mês testa a memória de trabalho.

Todas as 150 pessoas que participaram do estudo eram saudáveis, sem comprometimento cognitivo e tinham entre 65 e 88 anos.

Tornar-se mais esquecido é muitas vezes um sinal da idade, mas ainda não se sabe se esta forma de estimulação pode ajudar o envelhecimento cerebral no mundo real, além dos jogos de palavras.

A demência, incluindo o Mal de Alzheimer, é causada por um cérebro doente com células cerebrais que estão morrendo — levando a problemas de memória.

Os pesquisadores estão investigando se a tecnologia pode ser usada no Alzheimer para estimular as células cerebrais sobreviventes, assim como na esquizofrenia e no Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

“Não sabemos se as técnicas de estimulação cerebral têm potencial para ajudar pessoas com demência, mas há pesquisas em andamento nessa área”, afirma Susan Kohlhaas, diretora de pesquisa da ONG Alzheimer’s Research UK.

Atualmente, esse método de estimulação — estimulação transcraniana por corrente alternada — só é possível em laboratórios de pesquisa.

Então, se você está pensando em usar essa técnica de melhoria cognitiva para passar em uma prova, por exemplo, os cientistas dizem que seu uso caseiro é para um futuro distante.

Mas o pesquisador Shrey Grover afirma acreditar que ela pode ser usada junto a métodos mais tradicionais para manter a mente afiada, como palavras cruzadas e Sudoku.

“Qualquer esforço para permanecer cognitivamente engajado é sempre bem-vindo, este tipo de abordagem talvez seja algo que possa ser adicionado às coisas que as pessoas já estão fazendo”, diz.

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