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Escorpiões ferroam dragões enquanto estes dormem

Imagem: Istockphoto

O dragão aprendera, como regra de preservação e convivência que deveria ser “manso como a pomba e sagaz feito a serpente”. Manso mesmo ele não conseguira ser e escapara sempre à lista de animais em extinção pela bravura com que enfrentara as adversidades.

A mansuetude aparente na verdade disfarçava a intenção aguerrida de conquistar um território onde aquietar-se e produzir o bem-estar da família. Grande como era, precisava de um espaço próprio, qual acontece aos de sua natureza, dominador do mundo como fora prometido por quem o criou. E ele acreditava que dominaria tudo, tarefa difícil que precisava de fé, muita fé, e paciência para suportar a longa espera e os revezes, que não foram poucos.

Julgava-se imbatível pela força sobrenatural que lhe fora concedida de berço acrescida à missão descomunal de liderar todos os animais em nome da divindade que o criara. Sua existência, portanto, fora pontilhada de ataques e defesas, vitórias e derrotas, ficara quase extinto em várias ocasiões, escapando pela coragem, a persistência e a fé na proteção divina.

O escorpião e demais espécies de animais, originários da mesma fonte que o dragão, inconformados com a pretensa escolha de quem os gerara, sempre que puderam demonstraram irresignação. Coragem, astúcia e dissimulação, virtudes guerreiras vencedoras de muitos combates, tinham de sobra. Naquela noite, ele acompanhado por uma centena de combatentes, ferroou mais de mil inimigos e aprisionou diversos, levando-os para seus ninhos como escudos, moedas futuras de eventuais negociações.

Os invasores aterrorizaram o mundo mas não intimidaram os dragões que reagiram vomitando fogo e destruição sobre as hostes inimigas, sofredoras até hoje das consequências do seu ataque, sem levantar bandeira branca, invisíveis entre seus apoiadores que também pagam o preço.

Os dragões aprenderam que tamanho não é documento e vigilância há de ser indormida. Falta entenderem que a paz se sobrepõe à guerra. Só não entende isso os contendores não inteligentes. Aliás, o conflito em si nada mais é do que uma grande desinteligência.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE

Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

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28/10/2023 às 15:12

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