- Author, Anthony Zurcher
- Role, BBC News
O primeiro debate presidencial republicano, na quarta-feira (23/8), foi turbulento, com oito candidatos mergulhando de cabeça em discussões acaloradas.
Houve quem pensasse que o debate seria desinteressante sem o ex-presidente Donald Trump, mas definitivamente não foi o caso.
O ex-presidente deu vida ao partido durante os debates das primárias em 2016, mas os oito rivais que agora se encontraram provaram que são capazes de garantir algum entusiasmo sem a presença trumpista.
Enquanto alguns candidatos se destacaram, outros pareceram encolher.
A seguir, confira um resumo dos vencedores e perdedores.
Vencedores
Vivek Ramaswamy: O homem que nunca concorreu a um cargo público – nem sequer votou num presidente entre 2004 e 2020 – simplesmente dominou o mais recente debate republicano.
Com sorriso largo e língua afiada, ele frequentemente parecia ser o único candidato se divertindo no palco.
Ele se defendeu com facilidade dos ataques dos demais candidatos, sugerindo que Chris Christie estava fazendo um teste para um programa no canal de notícias de tendência à esquerda MSNBC, e que Nikki Haley estava procurando vagas no conselho de empresas de segurança por suas posições sobre a Ucrânia.
“Sou a única pessoa no palco que não é comprada e paga”, disse ele em uma discussão sobre mudanças climáticas – gerando indignação por parte de seus rivais.
Volta e meia, Ramaswamy se posicionava como um outsider contra um grupo de membros tradicionais do sistema político.
Muitas das suas opiniões – defender que a Ucrânia ceda território à Rússia, usar força militar para proteger a fronteira dos EUA com México e proibir empresas norte-americanas de fazerem negócios com a China – estão bem fora da corrente política dominante, mesmo dentro do Partido Republicano.
Mas, como Trump demonstrou em 2016, mesmo propostas políticas estranhas e pouco práticas podem ser eficazes para atrair atenção.
Ramaswamy pode não ter combustível político para desafiar Trump pela nomeação republicana, e pode até nem querer fazê-lo, mas o debate desta semana garante que ele continuará a ser uma força nesta corrida nos próximos meses.
Mike Pence: O político veterano, que já atuou como parlamentar, governador e vice-presidente, ainda tem energia.
Embora a sua campanha presidencial tenha sido divisiva – detestada pelos apoiadores de Trump e vista com desconfiança pelos críticos de Trump –, sua experiência em debates ajudou na noite de quarta-feira.
Ele partiu para o ataque cedo, criticando a inexperiência de Ramaswamy e dizendo: “Agora não é hora para treinar trabalhador”.
Ele fez um apelo apaixonado, com base religiosa, por limites ao aborto em escala nacional. Isso provavelmente não funcionará tão bem nas eleições gerais do próximo ano, mas poderia ajudá-lo a conquistar os republicanos evangélicos em estados como Iowa e Carolina do Sul, com um peso enorme no processo de decisão do candidato do partido.
Na segunda metade do debate, durante discussão sobre Trump, Pence deu a última palavra, dizendo que colocou a Constituição em primeiro lugar no dia 6 de janeiro de 2021, quando se recusou a rejeitar os resultados eleitorais a pedido de Trump.
Vários de seus rivais até se manifestaram a seu favor.
Obstáculos importantes à campanha de Pence continuam existindo, mas pelo menos por uma noite ele mostrou por que já foi considerado por muitos republicanos conservadores um potencial presidenciável.
Nikki Haley: A ex-embaixadora dos EUA na ONU tem o hábito de surpreender quem a subestima.
Ela nunca perdeu uma campanha para um cargo público, mesmo quando desafiava candidatos republicanos mais estabelecidos para o governo da Carolina do Sul.
Na noite de quarta-feira, ela se destacou por fazer críticas duras tanto a Trump quanto ao Partido Republicano como um todo.
“Os republicanos também fizeram isto com vocês”, disse ela ao descrever o enorme déficit orçamentário dos EUA. “Precisamos parar com os gastos, parar com os empréstimos.”
Quando o debate se voltou para o ex-presidente, ela disse que Trump era o “político mais odiado da América” – e alertou que o Partido Republicano sofrerá por causa disso nas eleições gerais.
Ela também mostrou disposição de combate. Discordou de Ramaswamy sobre a continuação da ajuda dos EUA à Ucrânia, o que ela apoia. E entrou em conflito com Pence sobre o aborto, definindo suas propostas de proibição nacional do aborto como irrealistas e politicamente nocivas.
Mesmo que desta vez ela não consiga liderar o grupo, seu desempenho no debate poderá posicionar bem a pré-candidata de 51 anos em futuras candidaturas presidenciais.
Meio do caminho
Tim Scott e Chris Christie: Christie fez exatamente o que muitos esperavam que ele fizesse: atacou Trump, mirou Ramaswamy e foi frequentemente agressivo e combativo.
Ele foi vaiado quando foi apresentado, quando criticou Trump e quando fez ataques a Ramaswamy.
Sua principal frase de efeito veio quando ele disse que o neófito político “soa como o ChatGPT” – mas o ataque não gerou muita empatia da audiência.
Quanto a Tim Scott, com sua atitude de bom moço, ele frequentemente ficava fora da briga nos momentos mais acalorados do debate. Isso não o ajudará a conquistar muitos eleitores, mas poderá melhorar suas credenciais se ele quiser ser o escolhido para candidato a vice-presidente por Trump.
Perdedores
Ron DeSantis: No início do ano, a corrida pela nomeação republicana parecia ser uma disputa entre DeSantis e Trump.
Desde então, no entanto, o governador da Flórida caiu nas pesquisas.
Não foi um desempenho terrível – ele teve seus momentos, especialmente quando falou sobre o seu histórico de serviço militar e seus apelos a políticas governamentais mais agressivas para lidar com a epidemia de opiáceos.
No entanto, DeSantis esteve à margem de todos os momentos-chave do debate. Ramaswamy deu várias voltas nele. Outros candidatos, como Pence e Haley, tiraram-no do caminho em questões como o aborto e a ajuda dos EUA à Ucrânia.
Ele parecia estar desconfortável quando o assunto se voltou para Trump e suas recentes acusações.
Não foi um desempenho suficiente para diminuir a distância em relação a Trump. O homem que já foi considerado o futuro do Partido Republicano foi ontem simplesmente um elemento secundário.
Asa Hutchinson e Doug Burgum: O ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson foi o último candidato a se qualificar para o debate.
O governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, pagou sua entrada no palco com um artifício – oferecendo vale-presentes de US$ 20 (aproximadamente R$ 100) a um número suficiente de pessoas que doassem US$ 1 (R$ 5) para sua campanha.
Ambos os candidatos precisavam desesperadamente mostrar que mereciam estar lá, e ambos foram, em geral, fracos.
As críticas de Hutchinson a Trump pareciam inconsistentes em comparação com os ataques mais contundentes de Christie. E o conservadorismo espantoso de Burgum nunca se destacou.
Os padrões ficaram mais rigorosos para o debate primário do próximo mês na Califórnia, e nenhum dos dois candidatos apresentou o suficiente na noite de quarta-feira para conquistar o nível de apoio necessário para aparecerem de novo no palco.
Fonte: BBC
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