- Author, Esme Stallard e Helen Briggs
- Role, BBC News
Propostas controversas para permitir a mineração no fundo do mar estão no centro de negociações globais que começaram na segunda-feira (10/07) na Jamaica.
A proibição de dois anos da prática expirou quando os países não conseguiram chegar a um acordo sobre as novas regras.
Os cientistas temem que uma possível “corrida do ouro” por metais preciosos sob os oceanos possa ter consequências devastadoras para a vida marinha.
Mas os defensores argumentam que esses minerais são necessários se o mundo quiser atender à demanda por tecnologias verdes.
A polêmica começou em 2021, quando a pequena ilha de Nauru, no Pacífico, fez um pedido formal à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) — o órgão da ONU que supervisiona a mineração em águas internacionais — para obter uma licença comercial para iniciar a mineração no fundo do mar.
Isso desencadeou uma cláusula que dava à ISA um prazo de dois anos para avaliar o pedido, apesar de haver uma regulamentação mínima em vigor.
Os países têm se reunido regularmente desde então para tentar finalizar as regras de monitoramento ambiental e repartição de royalties, mas sem sucesso.
Eles agora estão reunidos em Kingston, na Jamaica, para três semanas de negociações.
A oposição à mineração comercial no fundo do mar para extrair rochas contendo metais valiosos vem crescendo.
Quase 200 países, incluindo Suíça, Espanha e Alemanha, estão pedindo uma pausa ou suspensão na prática devido a preocupações ambientais. Agora, espera-se que os países tenham a chance de votar sobre uma nova proibição no próximo mês.
Apesar de o Reino Unido não ter pedido uma nova proibição, um porta-voz do governo disse à BBC: “O Reino Unido vai manter sua posição de precaução de não apoiar a emissão de qualquer licença de exploração, a menos e até que haja evidências científicas suficientes sobre o potencial impacto nos ecossistemas do fundo do mar.”
Cientistas marinhos levantaram a preocupação de que foram realizadas pesquisas limitadas no oceano profundo para entender os animais e plantas que vivem lá e, portanto, quais os impactos que a mineração no fundo do mar poderia ter sobre eles.
Técnicas potenciais para coletar os minerais do fundo do mar podem gerar poluição sonora e luminosa significativa e liberar plumas de sedimentos que correm o risco de sufocar espécies que se alimentam por filtração, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
“Não podemos deixar que esta seja uma nova corrida do ouro, na qual mergulhamos de cabeça para devastar ainda mais nosso planeta sem realmente entender o que estamos fazendo”, declarou Catherine Weller, diretora de política global da instituição beneficente de conservação Fauna & Flora.
Cientistas anunciaram recentemente que mais de 5 mil animais diferentes foram encontrados na Zona Clarion-Clipperton (CCZ, na sigla em inglês) do Oceano Pacífico — uma área-chave destinada a futuros esforços de mineração.
A CCZ e outras áreas prontas para mineração, como a Zona da Crosta Prime, são ambientes únicos com fontes hidrotermais, montanhas subaquáticas e vastas planícies a até 6.500 m abaixo da superfície. Os cientistas acreditam que elas poderiam abrigar espécies excepcionalmente adaptadas que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo.
Nem todos os países se opõem abertamente à prática. A ISA já emitiu 31 contratos de exploração para empresas que desejam pesquisar o oceano profundo, e estes foram patrocinados por 14 países, incluindo China, Rússia, Índia, Reino Unido, França e Japão.
E a ISA só permite contratos em águas internacionais — os países são livres para realizar a exploração em suas águas nacionais.
No mês passado, a Noruega abriu de forma controversa áreas no Mar da Groenlândia, no Mar da Noruega e no Mar de Barents, totalizando uma área de 280.000 quilômetros quadrados para empresas de mineração solicitarem licenças.
“Precisamos de minerais para sermos bem-sucedidos com a transição verde”, disse o ministro do Petróleo e Energia da Noruega, Terje Aasland, em comunicado.
A The Metals Company, que tem uma parceria com três nações insulares do Pacífico — a República de Nauru, a República de Kiribati e o Reino de Tonga —, está determinada a levar adiante as solicitações.
A empresa afirmou que o fundo do mar oferece uma fonte promissora de metais como cobre, cobalto e níquel, necessários para tecnologias como telefones celulares, turbinas eólicas e baterias de veículos elétricos.
Nick Pickens, diretor de pesquisa de mineração global da Wood Mackenzie, disse à BBC que muitos desses minerais são relativamente abundantes em terra, mas podem ser difíceis de alcançar.
A República Democrática do Congo, que detém um dos mais altos teores de cobre do mundo, enfrenta violentos conflitos étnicos internos em partes do país.
Há também um número limitado de locais para refinar os minerais — transformando-os em componentes úteis a partir de sua forma bruta.
“A mineração no fundo do mar não resolve necessariamente nenhuma dessas questões… você ainda vai ter desafios geopolíticos”, avalia Pickens.
Fonte: BBC