Há poucas mulheres participando das negociações sobre as mudanças climática na COP27, que está acontecendo nesta semana no Egito.
Uma análise da BBC mostra que as mulheres são menos de 34% das delegações dos países que estão na conferência da ONU sobre o clima.
Essa disparidade chama a atenção considerando as evidências que mostram que as mulheres são as que mais sofrem com as consequências da mudança no clima do planeta.
Ativistas dizem que sem maior representação feminina nas discussões, o problema não será verdadeiramente resolvido e a vida das mulheres vai piorar.
A brasileira Shirley Djukurna Krenak, do povo Krenak em Minas Gerais, disse à BBC que as mulheres sempre foram guerreiras em defesa do planeta.
“As mulheres entendem o que significa viver em comunidade”, disse ela, e portanto sabem o que significa cuidar das pessoas e do ambiente. Ela afirmou também que as mulheres indígenas sempre lutaram por mais proteção ambiental e precisam ser ouvidas e respeitadas.
Na semana passada, líderes mundiais se reuniram na COP27 para tirar a foto inaugural da conferência. Havia 110 líderes presentes, mas apenas 10 eram mulheres.
O Brasil na COP
O presidente Jair Bolsonaro não está participando da conferência, assim como não participou da edição anterior do evento. Mas a delegação enviada pelo governo com a viagem paga para o Egito é a maior da conferência, com 570 pessoas.
Embora a delegação do governo brasileiro tenha mulheres, muitas delas não têm papel ativo na conferência: são esposas de políticos e de seus assessores acompanhando os maridos na viagem. A delegação brasileira também tem empresários e policiais militares.
Chamou a atenção a baixa presença de pesquisadoras e a falta de ONGs ambientalistas, organizações indígenas e movimentos sociais na delegação oficial.
A presença de brasileiros, no entanto, não se resume aos enviados pelo governo. Muitos ativistas e pesquisadores participam do evento por conta própria.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse em 1º de janeiro, viajou para a conferência com sua própria comitiva para se encontrar com líderes mundiais e discutir medidas de proteção ambiental em seu governo.
A comitiva de Lula conta também com a presença da deputada eleita Marina Silva, que é cotada para assumir o Ministério do Meio Ambiente na próxima gestão.
Queda na participação
O evento deste ano tem uma das concentrações mais baixas de mulheres nas COPs, segundo a entidade WEDO (Organização de Mulheres para o Ambiente e o Desenvolvimento), que registra a participação feminina das conferência.
A presença de maioria masculina é geral entre as delegações que os países enviaram, mas alguns países chegam a ter equipes mais de 90% compostas por homens.
Essas equipes participam de negociações sobre questões climáticas importantes, como financiamento e limitação do uso de combustíveis fósseis.
Em 2011, os países se comprometeram a aumentar a participação feminina no evento, mas a participação neste ano caiu bastante desde o pico de 40% em 2018, segundo a WEDO.
A ministra do Meio Ambiente de Ruanda, Jeanne d’Arc Mujawamariya, disse à BBC que os resultados das negociações serão afetados pela falta de participação feminina. A delegação do país é 52% composta por mulheres.
O mesmo foi dito pela deputada Kathy Castor, presidente do Comitê dos EUA sobre a Crise Climática.
“É absolutamente fundamental para a ação climática que eduquemos mulheres e meninas, mas isso significa que elas devem ter um lugar à mesa em conferências internacionais”, disse ela à BBC.
Na segunda-feira, um novo relatório da ActionAid revelou que mulheres e meninas estão enfrentando riscos cada vez maiores e específicos a elas a medida que a crise climática piora.
O relatório revela que em muitos países em desenvolvimento – que enfrentam os piores impactos da mudança climática – as mulheres têm maior responsabilidade em garantir água, comida e combustível para suas famílias, o que pode ser mais difícil durante enchentes, secas ou outras crises relacionadas ao clima.
A maioria dos trabalhadores agrícolas também são mulheres, portanto, quando há uma seca severa, como ocorre atualmente na África Oriental, sua renda pode ser drasticamente reduzida. A ONU estimou que 80% das pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas são mulheres.
A médica Sila Monthe, gerente de saúde do Comitê Internacional de Resgate e voluntária no Campo de Refugiados de Kakuma, no Quênia, disse à BBC que viu um aumento de deficiências nutricionais em mulheres e meninas na área afetada pela seca, já que em alguns países é costume que elas sejam as últimas da família a comer. “Elas costumam comer por último e pior”, explica.
Também há preocupações de que, à medida que as mulheres vão mais longe para coletar comida e água, elas ficam expostas a riscos crescentes de violência.
Sophie Rigg, consultora sênior de clima da ActionAid, disse à BBC que a mudança climática está exacerbando as desigualdades de gênero e que as soluções discutidas na COP27 devem ser adaptadas às questões específicas enfrentadas pelas mulheres.
E as mulheres jovens estão atualmente liderando a ação climática, de acordo com a ONU. Alguns dos casos legais mais famosos movidos contra governos por inação em relação às mudanças climáticas foram movidos por mulheres.
A diretora global para questões de gênero do Banco Mundial, Hana Brixi, disse que há evidências crescentes de que a participação de mulheres melhora os resultados em negociações globais como a COP27.
Rigg, da ActionAid UK, concorda. “Não há como enrolar quando as mulheres estão na sala, elas criam soluções que comprovadamente são mais sustentáveis”, diz ela.
Brixi disse que está vendo progresso na participação feminina à medida que organizações e governos despertam para o impacto que essa participação pode ter.
A análise da BBC das equipes dos países na COP27 no Egito mostra que países europeus, norte-americanos e insulares são mais propensos a ter equipes equilibradas, enquanto os países da África e do Oriente Médio são mais propensos a ter mais participantes do sexo masculino.
Kathy Castor, da delegação dos EUA, disse que os negociadores de seu país levantaram a questão da participação feminina com os anfitriões deste ano no Egito e o farão o mesmo com outros países.
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