- Author, Peter Swoboda
- Role, The Conversation*
Mas o momento de fazer esses exercícios faz diferença? Devemos dividir esse tempo ao longo da semana ou será que perdemos uma parte dos benefícios se reunirmos tudo no fim de semana?
Cerca de 90 mil pessoas saudáveis de meia idade usaram pulseiras com acelerômetros para acompanhar sua atividade. Os aparelhos registraram seus níveis de atividade por uma semana, com ênfase específica sobre as atividades moderadas a intensas, como veremos mais adiante.
Os pesquisadores concluíram que, nos seis anos após a avaliação pelos acelerômetros, houve menos casos de AVC, ataques cardíacos, paradas cardíacas e fibrilação atrial (que causa irregularidades do ritmo cardíaco) entre as pessoas que praticaram regularmente atividade física moderada a intensa, em comparação com as pessoas sedentárias.
Mas a descoberta inovadora deste estudo foi que não houve diferença entre as pessoas que concentraram mais da metade da sua atividade física no sábado e no domingo e as que diluíram os exercícios ao longo da semana. A atividade física moderada a intensa foi associada à melhor saúde do coração, independentemente de quando eram feitos os exercícios.
No estudo, os autores chamaram de “guerreiros de fim de semana” as pessoas que concentraram em 1-2 dias a maior parte dos seus 150 minutos semanais de atividade física moderada ou intensa. Esta denominação parece trazer à mente imagens de grupos de ciclistas em roupas de Lycra percorrendo montanhas ou homens de meia idade enlameados, jogando futebol em uma exaustiva partida de 90 minutos.
Ocorre que mais de 37 mil participantes do estudo corresponderam à definição de “guerreiro de fim de semana”. Por que então as estradas não estão congestionadas de ciclistas e os parques, repletos de jogadores de futebol?
Certamente, é algo que parece contradizer a epidemia de obesidade e estilo de vida sedentário de que tanto ouvimos falar.
Guerreiros de fim de semana? Sério?
Pode parecer questão de semântica, mas é importante definir quem são os “guerreiros de fim de semana”.
Neste estudo, o limite empregado para exercício moderado a intenso foi de três METs (equivalente metabólico de tarefa, na sigla em inglês).
A escala de METs é usada para medir a atividade física. Lavar os pratos, por exemplo, equivale a 2,5 METs. Aspirar a casa são 3,3 METs e andar a 5 km/h são 3,5 METs. Em termos de comparação, andar de bicicleta a 24 km/h em terreno plano equivale a 10 METs.
Por isso, o limite estabelecido no estudo, de 3 METs, é um tanto despretensioso. Parece algo que muitas pessoas conseguiriam na vida diária sem um esforço concentrado para praticar exercícios.
Por isso, quando pensamos nas pessoas deste estudo, em vez de chamá-los de “guerreiros de fim de semana”, talvez devêssemos dizer “andarilhos do sábado”, ou alguém que faz alongamento aos domingos.
O outro ponto com relação a este estudo é que essas pessoas não eram atletas ou praticantes de esportes, mas sim pessoas normais de meia idade em suas atividades rotineiras. Algumas dessas atividades incluíam exercícios e outras eram atividades normais, medidas em um acelerômetro.
Este contexto é importante para analisar como podemos usar estes resultados para informar os pacientes.
Eu não gostaria de ver ninguém pensando que aspirar o pó por duas horas e meia ou passear no fim de semana seja suficiente para evitar doenças cardíacas. Este é o mínimo indispensável de exercício físico. Para ver benefícios reais, é preciso suar um pouco.
A relação entre o exercício físico e a saúde do coração é simples: quanto mais exercício, melhor para a sua saúde.
O estudo demonstra, na verdade, que fazer alguma atividade física é melhor para o seu coração do que o sedentarismo – o que é uma mensagem importante para as muitas pessoas que não praticam 150 minutos de atividade moderada por semana.
Conhecendo estas limitações do estudo, precisamos abandonar a ideia de que está tudo bem em viver uma vida sedentária de segunda a sexta-feira e depois redimir-se fazendo pouco mais de uma hora de caminhada no sábado e no domingo.
As conclusões deste estudo não confirmam esta interpretação. Se tudo o que você consegue são 150 minutos sem suar, não importa quando você o faça. Mas, se você puder se dedicar a algo mais extenuante, você realmente deve fazer um esforço para conseguir isso.
As conclusões do estudo também não se aplicam a exercícios mais intensos. Por isso, se você tiver a oportunidade de ir de bicicleta para o trabalho na terça-feira ou ir nadar na quinta, aproveite. O seu coração irá agradecer.
* Peter Swoboda é professor de cardiologia da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Fonte: BBC
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