- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Pela primeira vez, uma equipe internacional de cientistas observou uma série de ondas sísmicas atravessando o núcleo de Marte.
Essas observações revelaram que o núcleo do planeta vermelho é menor e mais denso do que se estimava (com um raio de aproximadamente 1.780 km-1.810 km) — e é composto por uma liga de ferro completamente líquida com altas porcentagens de enxofre e oxigênio.
Esta descoberta, feita a partir de medições da sonda Insight da Nasa, a agência espacial americana, vai oferecer uma melhor compreensão de como o planeta se originou e de como ele difere geologicamente do nosso.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Dois grandes eventos sísmicos
Em 1906, cientistas descobriram o núcleo da Terra pela primeira vez, observando como as ondas sísmicas causadas por terremotos eram afetadas ao passar por ele.
“Mais de cem anos depois, estamos aplicando nosso conhecimento sobre ondas sísmicas em Marte”, explicou Vedran Lekic, professor associado de geologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e coautor do estudo.
A equipe conseguiu acompanhar a progressão de dois eventos sísmicos (um causado por um terremoto, e outro pelo impacto de um asteroide), que ocorreram no hemisfério oposto ao que se encontra a Insight.
Ao medir o tempo que levavam para atravessar o núcleo e compará-lo com as ondas do manto, e ao combinar essa informação com outras medições sísmicas e geofísicas, os pesquisadores conseguiram estimar a densidade e a compressibilidade do material atravessado pelas ondas.
Isso mostra que o núcleo de Marte é provavelmente completamente líquido, diferentemente do núcleo da Terra, que tem uma parte externa líquida e um núcleo interno sólido.
Campo magnético
Por outro lado, o núcleo de Marte contém uma alta proporção de elementos leves misturados dentro dele. Cerca de um quinto de seu peso é formado por esses elementos (predominantemente enxofre, com quantidades menores de oxigênio, carbono e hidrogênio).
Isso significa que estamos diante de um núcleo bem menos denso do que o da Terra, e essa diferença aponta para condições diferentes na formação dos dois planetas.
“As propriedades do núcleo podem servir como um resumo de como o planeta se formou e como evoluiu dinamicamente ao longo do tempo”, explicou Nicholas Schmerr, professor de geologia da Universidade de Maryland, outro coautor do estudo.
E o resultado final desses processos de formação e evolução são aqueles que podem ou não dar origem a condições favoráveis à vida.
“A singularidade do núcleo da Terra permite gerar um campo magnético que nos protege dos ventos solares, nos permitindo conservar a água”, afirmou Schmerr.
Em contrapartida, “o núcleo de Marte não gera esse escudo protetor, sem o qual as condições na superfície do planeta são hostis à vida.”
Embora esse campo magnético não esteja presente em Marte hoje, pesquisas anteriores sugerem que ele poderia ter existido no passado, mas foi perdendo certos elementos e evoluindo de tal forma que passou de um planeta com um ambiente potencialmente habitável a um planeta hostil.
“Determinar a quantidade desses elementos no núcleo planetário é importante para entender as condições em nosso sistema solar quando os planetas estavam se formando e como essas condições afetaram os planetas que se formaram”, explicou Doyeon Kim, da Escola Politécnica Federal de Zurique, na Suíça, outro coautor do estudo.
Estudar o interior de Marte — principal objetivo da missão Insight — vai ajudar os pesquisadores a entender melhor como todos os planetas rochosos, incluindo o nosso, se formaram.
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