• Jane Draycott
  • The Conversation*

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Cleópatra e seu filho Cesarião são ilustrados à esquerda, na parede sul do Templo de Hator, em Dendera, no Egito

O momento não poderia ter sido mais propício. Ao mesmo tempo em que celebram o centenário da descoberta do túmulo de Tutancâmon, arqueólogos e outros estudiosos agora se debruçam sobre uma nova e promissora descoberta que aparentemente foi feita no Egito.

Escavadores encontraram um túnel sob o templo Taposiris Magna, a oeste da antiga cidade de Alexandria, e afirmam que ele pode levar ao túmulo da rainha Cleópatra.

Esta hipótese ainda aguarda comprovação, mas a descoberta seria muito importante e poderia reescrever o que sabemos sobre a mais famosa rainha do Egito.

O historiador grego antigo Plutarco escreveu uma biografia do marido da rainha, o general romano Marco Antônio, e é responsável pelo relato mais longo e detalhado dos últimos dias do reinado de Cleópatra.

Segundo ele, Antônio e Cleópatra foram sepultados no mausoléu da rainha.

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Busto do general romano Marco Antônio, marido de Cleópatra, no Museu Nacional de Arqueologia de Madri, na Espanha

Plutarco conta que, no dia em que Augusto e suas forças romanas invadiram o Egito e tomaram Alexandria, Marco Antônio atirou-se sobre sua espada, morreu nos braços de Cleópatra e foi enterrado no mausoléu.

Duas semanas depois, Cleópatra foi ao mausoléu fazer oferendas e libações, tirando sua própria vida de forma ainda desconhecida. A concepção popular, mas errônea, é que ela teria sido picada por uma serpente.

Cleópatra também foi sepultada no mesmo mausoléu.

Nos dias que se seguiram, o filho de Antônio, Marco Antônio Antilo, e o filho de Cleópatra, Ptolomeu 15 César (também conhecido como Cesarião, “pequeno César”), foram ambos assassinados pelas forças romanas. E os dois jovens podem também ter sido sepultados ali.

Se o mausoléu de Cleópatra ainda não tiver desaparecido sob as ondas do Mediterrâneo, junto com a maior parte da cidade helenística de Alexandria, e um dia for comprovadamente encontrado, será uma descoberta arqueológica quase sem precedentes.

Uma descoberta que pode reescrever a história

Embora os túmulos de muitos governantes históricos famosos ainda estejam de pé – o mausoléu de Augusto, inimigo mortal de Antônio e Cleópatra, em Roma, é um exemplo – seu interior, em muitos casos, foi pilhado e perdido há séculos.

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Mausoléu de Augusto, em Roma, na Itália

Uma exceção notável é o túmulo de Filipe 2° da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, descoberto na cidade de Vergina, na Grécia, no final dos anos 1970.

O túmulo foi encontrado intacto, o que permitiu décadas de pesquisas científicas sobre o seu interior, fazendo avançar nosso conhecimento sobre os membros da família real da Macedônia e sua corte.

O mesmo ocorreria se o túmulo de Cleópatra fosse descoberto e estivesse intacto. A quantidade de novas informações que os egiptólogos, classicistas, historiadores antigos e arqueólogos poderiam recolher do seu interior seria imensa.

A maior parte do nosso conhecimento sobre Cleópatra e seu reinado vem de fontes literárias da Grécia e Roma antiga, escritas depois da sua morte e implicitamente hostis para a rainha egípcia.

Não existem muitas evidências que revelem a perspectiva egípcia sobre Cleópatra, mas o que temos disponível, como relevos em sua homenagem nos templos construídos por ela e tributos dedicados pelos seus súditos, fornece uma visão muito diferente da rainha.

A ética de desenterrar os restos de Cleópatra

Até o momento, nenhum outro túmulo de governante do período ptolomaico no Egito – que vai da morte de Alexandre, o Grande, até a conquista romana – foi encontrado. A informação que temos é que todos eles ficavam na região dos palácios em Alexandria e acredita-se que estejam no fundo do mar, com o restante daquela parte da cidade.

Somente a arquitetura e o material do interior do túmulo manteriam os historiadores ocupados por décadas, fornecendo informações sem precedentes sobre o culto aos reis ptolomaicos e a fusão entre a cultura egípcia e a macedônica.

Mas, se os restos de Cleópatra também estivessem ali, eles poderiam contar muito mais, incluindo a causa da sua morte, sua aparência física, e até responder à polêmica questão da sua etnia.

Mas devemos esperar encontrar os restos de Cleópatra e analisá-los?

Desde Tutancâmon até os cidadãos comuns do Antigo Egito cujas múmias foram escavadas ao longo dos séculos, existe um longo histórico de erros.

Felizmente, os dias em que as múmias eram desenroladas como forma de entretenimento em jantares da era vitoriana ficaram para trás. Mas existem preocupações crescentes levantadas por profissionais da área de patrimônio histórico sobre o tratamento adequado dos nossos ancestrais.

A descoberta do túmulo de Cleópatra seria inestimável para os egiptólogos e outros estudiosos, mas seria justo negar à rainha a oportunidade de ter na morte a paz e a privacidade que ela não recebeu em vida?

* Jane Draycott é professora de clássicos da Universidade de Glasgow, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.