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A Austrália sofreu graves inundações em outubro de 2022

As temperaturas globais e os padrões de chuva são afetados por um fenômeno climático conhecido como Sistema El Niño Oscilação Sul (ou ENSO, na sigla em inglês).

O evento tem dois estados opostos — o El Niño e o La Niña — e ambos alteram significativamente o clima em todo o mundo.

Mas o que acontece durante esses fenômenos?

Nos últimos anos, o mundo vive um período de La Niña, que reduziu as temperaturas e trouxe fortes chuvas para o Canadá e a Austrália.

Os ventos que sopram na parte superior do Oceano Pacífico — do leste, na América do Sul, para o oeste, na Ásia — foram mais fortes do que o normal.

Esses ventos alísios depositam uma camada de água quente na costa da Ásia e elevam o nível da superfície do mar. Já no leste, perto das Américas, a água fria sobe para a superfície.

Durante o El Niño, acontece o oposto — ventos alísios mais fracos significam que a água quente se espalha de volta para as Américas, e menos água fria sobe para a superfície na região.

O fenômeno foi observado pela primeira vez por um pescador peruano em 1600.

À época, ele notou que as águas quentes pareciam atingir o pico perto das Américas em dezembro. Por isso, o fenômeno foi apelilado de El Niño Navidad, ou “Menino Jesus”, em espanhol.

Qual o impacto do El Niño e do La Niña em nosso clima?

Nem todo El Niño ou La Niña é igual, mas os cientistas sabem que alguns efeitos costumam acontecer em cada um desses fenômenos.

Temperaturas

As temperaturas globais aumentam cerca de 0,2 °C durante um episódio de El Niño e caem cerca de 0,2 °C durante o La Niña.

Isso ocorre porque o El Niño significa que a água mais quente se espalha com maior intensidade e fica mais próxima da superfície.

Isso libera calor na atmosfera, e cria um ar mais úmido e quente.

Inclusive, o ano de 2016, o mais quente já registrado, foi um ano de El Niño.

Entre 2020 e 2022, o Hemisfério Norte teve três episódios consecutivos do La Niña.

Apesar do triplo La Niña, na terça-feira (10/1), dados do serviço de monitoramento climático da União Europeia revelaram que 2022 foi o quinto ano mais quente já registrado.

Adam Scaife, pesquisador do Serviço Nacional de Meterologia do Reino Unido (Met Office), afirmou: “A temperatura média global nos últimos três anos esteve em níveis quase recordes, mas teria sido ainda maior sem os efeitos de resfriamento de um La Niña prolongado.”

Um aumento de 0,2 ºC na temperatura representaria um aumento de 20% na subida da temperatura global relacionada às mudanças climáticas.

O especialista ainda apontou que o Met Office espera que La Niña termine ainda em 2023, o que “aumenta a perspectiva de temperaturas globais ainda mais altas”.

Mudanças nas chuvas

Durante os eventos do El Niño, a água mais quente empurra as fortes correntes de ar do Pacífico mais para o sul e para o leste nas Américas.

Isso traz um clima mais úmido para os Estados do sul dos EUA e do Golfo do México, enquanto as áreas do norte dos EUA e do Canadá podem sofrer com mais secas.

Partes da Ásia, da Austrália e da África Central e Austral também podem sofrer mais com as secas.

Nos eventos La Niña, ocorre o oposto: seca no sul dos Estados Unidos e chuvas intensas no Canadá e na Ásia.

Em outubro de 2022, a Austrália experimentou chuvas e inundações recordes impulsionadas justamente pelo La Niña.

Tempestades tropicais

O La Niña também gera mais furacões no Atlântico — o que afeta a Flórida e outros Estados do sul dos EUA —, mas menos tempestades tropicais no Pacífico.

No El Niño, o cenário se inverte (mais tempestades tropicais no Pacífico, menos furacões no Atlântico).

Os episódios de El Niño e La Niña ocorrem a cada dois a sete anos, em média, e geralmente duram de nove a 12 meses.

Eles não necessariamente se alternam: os eventos de La Niña são menos comuns que os episódios de El Niño.

Como esses eventos nos afetam?

Os eventos climáticos extremos causados pelo El Niño e pelo La Niña afetam os sistemas de infraestrutura, alimentação e energia em todo o mundo.

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A lagoa Navarro, em Buenos Aires, na Argentina, secou completamente em dezembro

O evento El Niño de 2014 a 2016 causou secas no Canadá e na Ásia. Isso, por sua vez, resultou em uma quebra de safra e prejudicou a segurança alimentar de mais de 60 milhões de pessoas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Os eventos do El Niño também dificultam a subida dos nutrientes estocados no fundo do oceano para a superfície, na região mais próxima das Américas.

Isso significa que há menos comida disponível para espécies marinhas, como as lulas e os salmões, o que diminui a oferta de peixes para as comunidades pesqueiras sul-americanas.

As mudanças climáticas afetam o El Niño e o La Niña?

Em 2021, os cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas disseram que os eventos ENSO que ocorreram a partir de 1950 são mais fortes do que os observados entre 1850 e 1950.

No entanto, eles destacam que evidências históricas, como anéis de crescimento das árvores, corais e registros de sedimentos, mostram que aconteceram variações na frequência e na força desses episódios desde 1400.

O IPCC concluiu que ainda não há evidências claras de que as mudanças climáticas tenham afetado os eventos El Niño ou La Niña mais recentemente.