- Author, Pragya Agarwal
- Role, The Conversation*
É errando que se aprende. Pelo menos, a maioria de nós já ouviu isso.
Mas a ciência mostra que, muitas vezes, deixamos de aprender com os erros do passado. E, em vez disso, costumamos repetir os mesmos erros.
O que quero dizer com erros aqui?
Acho que todos nós concordamos que aprendemos rapidamente que, se colocarmos a mão em um fogão quente, nos queimamos. E, por isso, provavelmente não iremos repetir este erro.
Isso acontece porque o nosso cérebro cria uma resposta à ameaça de estímulos fisicamente dolorosos com base em experiências prévias.
Mas, quando a questão é o pensamento, os padrões de comportamento e a tomada de decisões, nós repetimos nossos erros com frequência — como ocorre quando chegamos atrasados para os nossos compromissos, deixamos tarefas para a última hora ou julgamos as pessoas com base na primeira impressão.
O motivo pode estar na forma em que o nosso cérebro processa as informações e cria os modelos que consultamos repetidamente. Esses modelos são, essencialmente, atalhos que nos ajudam a tomar decisões no mundo real.
Mas esses atalhos mentais, chamados de heurísticas, também podem nos ajudar a repetir os nossos erros.
No meu livro Sway: Unravelling Unconscious Bias (“Oscilações: desvendando o viés inconsciente”, em tradução livre), comento que os seres humanos não são naturalmente racionais, como nós gostaríamos de acreditar. A sobrecarga de informações é confusa e cansativa; por isso, nós filtramos o ruído.
Nós observamos apenas partes do mundo. Temos a tendência de observar o que é repetitivo, haja ou não algum padrão, e costumamos preservar a memória generalizando e recorrendo à tipificação.
Nós também tiramos conclusões a partir de dados esparsos e usamos atalhos cognitivos para criar uma versão da realidade na qual queremos implicitamente acreditar. Isso cria um fluxo reduzido de recebimento de informações, o que nos ajuda a ligar os pontos e preencher as lacunas com aquilo que já conhecemos.
E, por fim, o nosso cérebro é preguiçoso. É preciso muito esforço cognitivo para mudar os roteiros e atalhos que já construímos.
Por tudo isso, somos mais propensos a cair sempre nos mesmos padrões de ação e comportamento, mesmo quando sabemos que estamos repetindo nossos erros.
Este comportamento é chamado de viés de confirmação — nossa tendência de confirmar aquilo em que já acreditamos, em vez de alterar nossa mentalidade para incorporar novas ideias e informações.
Também fazemos uso com frequência dos instintos — uma espécie automática e subconsciente de pensamento, baseada no acúmulo de experiências passadas — para tomar decisões e fazer julgamentos em situações novas.
Às vezes, nós insistimos em certos padrões de comportamento e repetimos nossos erros devido a um “efeito do ego” que nos induz a manter nossas crenças pré-existentes. Temos a tendência de escolher seletivamente as estruturas de informação e feedback que nos ajudem a proteger nosso ego.
Um estudo mostrou que, quando as pessoas são relembradas dos sucessos do passado, elas costumam repetir mais esses comportamentos bem-sucedidos. Mas, quando elas estão cientes ou são ativamente relembradas dos seus fracassos, a probabilidade de alterar o padrão de comportamento que gerou aquela frustração é menor.
Ou seja, as pessoas, na verdade, costumam repetir os mesmos comportamentos.
Isso acontece porque, quando pensamos nos nossos fracassos do passado, provavelmente ficamos tristes. E, nesses momentos, somos mais dispostos a perdoar aquele comportamento que nos é confortável e familiar.
Mesmo quando pensamos de forma lenta e cuidadosa, o nosso cérebro tem um viés voltado para as informações e modelos que havíamos usado no passado, mesmo que eles tenham resultado em erros. Este é o chamado viés da familiaridade.
Mas também é possível aprender com nossos erros. Em outro experimento, por exemplo, macacos e seres humanos precisaram assistir a pontos barulhentos que se moviam sobre uma tela e analisar sua direção final de movimento.
Os pesquisadores concluíram que as duas espécies reduziam a velocidade depois de um erro. E, quanto maior o erro, maior seria a desaceleração posterior ao erro, o que demonstra que mais informações estavam sendo acumuladas.
Mas a qualidade dessa informação era baixa. Nossos atalhos cognitivos podem nos forçar a descartar qualquer informação nova que possa nos ajudar a evitar a repetição dos erros.
E, de fato, quando cometemos erros na realização de uma determinada tarefa, o “viés da frequência” nos torna propensos a repeti-los, sempre que fizermos a mesma tarefa outra vez.
Resumidamente, o nosso cérebro começa a considerar que os erros que cometemos anteriormente são a forma correta de realizar uma tarefa, criando o “caminho do erro” habitual.
Por isso, quanto mais repetirmos as mesmas tarefas, maior será a nossa chance de percorrer o caminho que levou ao erro, até que ele fique profundamente enraizado e se torne um conjunto de atalhos cognitivos permanentes no nosso cérebro.
Controle cognitivo
O panorama parece desanimador. Mas será que há algo que podemos fazer?
Nós temos uma habilidade mental que pode se sobrepor às heurísticas, conhecida como “controle cognitivo”. E há estudos neurocientíficos recentes com camundongos que estão nos dando uma ideia melhor de que partes do cérebro estão envolvidas nessa habilidade.
Os pesquisadores também identificaram duas regiões do cérebro que abrigam “neurônios monitoradores dos próprios erros” – células cerebrais que monitoram erros. Estas áreas estão no córtex frontal e, aparentemente, são parte de uma sequência de etapas de processamento, que inclui desde retomar a concentração até aprender com nossos erros.
Os pesquisadores estão estudando se uma melhor compreensão deste mecanismo pode ajudar a desenvolver melhores tratamentos para pacientes com Alzheimer, já que a preservação do controle cognitivo é fundamental para o bem-estar na idade avançada.
Mas, mesmo se não tivermos a compreensão exata dos processos cerebrais envolvidos no controle cognitivo e na autocorreção, há medidas mais simples que podemos tomar. Uma delas é nos sentirmos mais confortáveis quando cometermos erros.
Talvez imaginemos que esta seja uma atitude errada em relação aos fracassos — mas, na verdade, é um caminho mais positivo para o progresso.
Nossa sociedade rejeita as falhas e os erros e, por isso, costumamos sentir vergonha dos nossos erros e tentamos escondê-los.
Quanto mais culpa e vergonha nós sentirmos e quanto mais tentarmos esconder os nossos erros dos outros, maior a nossa probabilidade de repeti-los. E, quando não nos sentimos tão desapontados com nós mesmos, maior a chance de absorvermos novas informações que podem nos ajudar a corrigir os nossos erros.
Também pode ser uma boa ideia fazer um intervalo na realização de uma tarefa que queremos aprender a fazer melhor.
Reconhecer as nossas falhas e fazer uma pausa para analisá-las pode nos ajudar a reduzir o viés de frequência, nos tornando menos propensos a repetir nossos erros e a reforçar os caminhos que nos levam a eles.
* Pragya Agarwal é professora de desigualdade e justiça social da Universidade de Loughborough, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
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