- Author, Hugh Schofield
- Role, BBC News
A ética ecológica das árvores de Natal é um assunto que preocupa muita gente no Parque Natural Morvan, na França.
Estas remotas terras altas da região da Borgonha produzem mais de um milhão de pinheiros bebês para o mercado todos os anos, tornando a região o maior produtor francês.
Mas para cada local que está satisfeito com o dinheiro e os empregos criados pelas árvores de Natal, há outro que lamenta o seu impacto no meio ambiente.
Aqui, como em outros lugares, apenas uma pequena porcentagem das plantações de árvores de Natal é feita de maneira orgânica.
A grande maioria depende da aplicação de tratamentos químicos.
E enquanto esforços estão sendo feitos para reduzir o uso de herbicidas e pesticidas, ninguém contesta seriamente os seus efeitos negativos.
“A produção de árvores de Natal, devido à utilização de herbicidas químicos, pode ter impacto nos recursos hídricos”, diz o site do parque.
“É por isso que medidas estão sendo tomadas para reduzir ao máximo o impacto dessa atividade.”
Essa admissão por parte das autoridades é o mínimo, dizem ativistas.
Muriel André, uma agricultora e ativista local, mostrou o que ela diz ser uma típica plantação de pequena escala numa encosta perto da sua casa.
O campo antes usado como pasto agora contém cerca de 20 mil mudas, plantadas por um agricultor do condado vizinho.
Ao redor do perímetro externo, grama e ervas daninhas crescem abundantemente, mas sob os pequenos pinheiros não há nada – apenas terra e alguns tufos de vegetação morta.
“Isso vem dos herbicidas, que eles pulverizam para conter qualquer planta que possa competir com as árvores”, diz ela.
“Ainda há os pesticidas para insetos e os fungicidas para os parasitas. É uma monocultura que mata a biodiversidade e enche de produtos químicos os nossos rios.”
Alternativas ‘verdes’
“Não tenho nada contra árvores de Natal. Tenho boas lembranças de decorá-las quando era menina”, diz André.
“Mas os tempos mudaram. Estamos vivendo uma transição ecológica. Tudo o que polui tem que parar. As pessoas nas cidades são enganadas pelo marketing que diz que as árvores de Natal são ‘naturais’ – como se fossem todas de uma floresta mágica. A realidade é que se trata de uma forma de agricultura intensiva.”
Não são só os ativistas ambientais que questionam a ética das árvores de Natal.
Os consumidores franceses também estão cada vez mais curiosos sobre a proveniência dos seus pinheiros.
Será responsável, perguntam eles, acelerar o crescimento de milhões de árvores jovens apenas para que sejam cortadas e mantidas em salas de estar por duas ou três semanas?
Conversando com locais perto de um fornecedor de árvores no centro de Paris, todos as pessoas que questionamos disseram que o ambiente era agora um fator importante para a sua escolha de ter ou não um pinheiro de Natal.
Alguns disseram que pararam definitivamente de comprá-los. Para outros, foi um dilema. Embora reconhecessem o impacto ambiental das plantações, eles se questionavam se importar uma árvore de plástico da China seria realmente uma alternativa melhor.
Poucos consideraram alternativas “verdes”, como esculturas de árvores em madeira ou montagens caseiras.
De acordo com os produtores na região, os compradores estão cada vez mais curiosos sobre a origem das suas árvores. Mas até agora isso teve apenas um efeito marginal nas vendas.
Na empresa Naudet de Planchez, que cultiva árvores de Natal desde 1956, porta-vozes admitem que no passado pouca atenção foi dada aos problemas dos herbicidas. Mas isso mudou, eles dizem.
“Todas as críticas que recebemos se baseiam numa total ignorância das nossas práticas atuais”, disse o diretor-geral Martin Naudet.
“Estamos fazendo esforços enormes para minimizar a utilização de produtos químicos e existe muita biodiversidade.”
Numa plantação próxima, eles nos mostraram fileiras de árvores onde a relva parecia de fato rica e abundante. Em outro campo, eles estavam semeando trigo sarraceno (sarrasin) entre as fileiras, servindo como supressor natural de ervas daninhas.
Martin Naudet salienta que apenas 1% das terras agrícolas viáveis no Morvan são destinadas a árvores de Natal. Na vasta extensão de colinas e florestas, as plantações constituem apenas uma pequena parte da paisagem.
Mas permanece o fato de que praticamente nenhuma produção de árvores de Natal é isenta de produtos químicos. “As pessoas tentaram”, diz Martin Naudet. “Mas as árvores não vendem. São muito caras e não parecem boas.”
Em outras palavras, nossas verdes árvores de Natal não são tão “verdes” assim.
Fonte: BBC
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