Kamala Harris aceitou formalmente a nomeação como candidata à presidência dos Estados Unidos durante a Convenção Nacional do Partido Democrata nesta quinta-feira (22/08), onde fez o discurso mais importante da sua carreira até agora.
Harris iniciou o discurso abordando sua vida pessoal — comemorando em suas primeiras frases os dez anos de casamento com Douglas Emhoff e relembrando a história de sua família.
A candidata também abordou temas sensíves para a campanha, como a imigração e a guerra em Gaza. Ela afirmou que pretende resgatar um projeto bipartidário para reforçar o controle nas fronteiras e o sistema de imigração.
Sobre a situação em Gaza, disse que sempre defenderá Israel, forte aliado dos EUA, mas clamou por uma solução rápida.
“Agora é o momento de fechar um acordo sobre reféns e um cessar-fogo”, disse.
Boa parte do discurso teve ataques ao candidato republicano Donald Trump, que ela disse não ser “um homem sério”. Ela mencionou as acusações e condenações que o ex-presidente enfrenta na Justiça, além do que classificou como retrocessos durante o governo Trump, como restrições ao aborto e cortes de impostos para super-ricos.
A democrata afirmou que, se for eleita, será “uma presidente para todos os americanos”.
“Não como membros de qualquer partido ou facção, mas como americanos”, disse Harris, que também fez acenos à classe média.
“A classe média será um objetivo central na minha presidência, porque acredito firmemente que quando a classe média é forte, a América é forte”, afirmou, acrescentando que ela própria tem origem na classe média.
A candidata também abordou no discurso a recente decisão por sua candidatura.
“O caminho que me trouxe até aqui nas últimas semanas foi sem dúvida inesperado”, disse Harris, um mês depois de o presidente Joe Biden ter desistido da reeleição.
“Mas jornadas improváveis não são algo estranho para mim.”
Apesar da aclamação nesta noite, Harris, de 59 anos, enfrentou anos de dúvidas de dentro do próprio partido sobre sua capacidade de concorrer ao cargo público mais alto dos Estados Unidos.
Depois do fracasso da sua rápida candidatura presidencial em 2019, Harris começou a vice-presidência de forma instável, marcada por tropeços em entrevistas importantes, rotatividade na equipe e baixos índices de aprovação.
E, nos últimos três anos e meio na Casa Branca, ela teve dificuldade para atingir os eleitores americanos.
Seus aliados e assessores afirmam que, nos anos que se passaram desde aquelas dificuldades iniciais, Kamala Harris melhorou suas habilidades políticas, criou coalizões leais dentro do seu partido e estabeleceu credibilidade sobre temas importantes para a base democrata, como o direito ao aborto.
Ou seja, ela se preparou exatamente para o momento atual.
O discurso desta quinta-feira se tornou uma oportunidade para Harris se reapresentar no cenário nacional americano — menos de 80 dias antes da eleição que poderá torná-la a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.
Mas, paralelamente, ela terá que provar que é capaz de comandar um partido que nunca a considerou sua líder natural e permanece dividido em relação à guerra em Israel e na Faixa de Gaza.
Protestos pró-Palestina viraram um incômodo para os dirigentes democratas durante a convenção, que em seus vários dias de evento essa semana tiveram manifestantes do lado de fora.
Nessa quinta-feira, um grupo de delegados deram até as 18h do horário local para que a organização da convenção definisse se alguém ligado à causa palestina poderia discursar no evento.
Sem o pedido atendido, alguns delegados fizeram um pequeno protesto do lado de fora do evento.
Acima de tudo, Harris precisará afastar qualquer dúvida remanescente entre a base democrata de que ela pode enfrentar o desafio de vencer o ex-presidente Donald Trump em uma eleição que permanece acirrada e imprevisível.
O caminho rumo à Casa Branca
Antes de se tornar uma figura de expressão nacional, Kamala Harris foi procuradora de São Francisco a partir de 2004 e procuradora-geral da Califórnia a partir de 2011.
Na candidatura para a procuradoria-geral da Califórnia, que acabou vitoriosa, ela recebeu o apoio do então presidente Barack Obama, de quem é amiga.
Mas quem acompanhou sua carreira de perto observou seus altos e baixos.
Como promotora, ela enfrentou protestos do público por se recusar a pedir a pena de morte para um homem condenado por matar um jovem policial. E, como procuradora-geral, ela defendeu a pena de morte vigente no Estado, mesmo com a sua oposição pessoal.
Após chegar ao topo da política estadual, Harris foi eleita para o Senado americano na mesma noite em que Donald Trump venceu Hillary Clinton, na eleição presidencial de 2016.
No seu curto mandato, Kamala Harris chegou às manchetes ao criticar e questionar diretamente o juiz da Suprema Corte Brett Kavanaugh, durante sua agitada audiência de confirmação para o cargo, em 2018.
“Você consegue se lembrar de alguma lei que dê ao governo o poder de tomar decisões sobre o corpo masculino?”, perguntou ela ao juiz, indicado por Trump.
O diálogo reverberou nas redes sociais e nos programas de TV.
Como Obama, ela foi uma jovem senadora com muitas ambições. E, a meio caminho do seu primeiro mandato, ela lançou sua candidatura à Presidência.
Foi uma campanha recebida com grande alvoroço, como a atual. Mais de 20 mil pessoas se reuniram na sua cidade natal de Oakland, na Califórnia, para o lançamento.
Mas sua tentativa de se tornar a candidata democrata desmoronou antes mesmo das primeiras eleições primárias do partido.
Harris não conseguiu estabelecer uma identidade política clara que a diferenciasse de um grupo de rivais como Joe Biden e o senador de esquerda Bernie Sanders. Para os críticos, ela apoiou uma série de políticas progressistas, mas parecia não demonstrar claramente sua convicção a respeito.
Em um momento notório dos debates, em junho de 2019, Harris questionou o histórico do seu então oponente Biden sobre o fim da segregação racial das escolas.
Ela atacou Joe Biden sobre um momento anterior da campanha, no qual ele relembrou, orgulhoso, seu trabalho com dois senadores segregacionistas. Harris o acusou de ser contrário ao transporte de estudantes entre as escolas para ajudar na integração.
“Havia uma menina da Califórnia que fazia parte da segunda classe integrada na sua escola pública, e ela ia de ônibus para a escola todos os dias”, declarou Harris.
“Aquela menina era eu.”
Mas os conflitos internos de campanha e a indecisão sobre quais questões deveriam receber mais importância acabaram afundando sua tentativa de chegar à Presidência naquele ano.
A campanha foi marcada por “uma série de erros de principiante”, segundo Kevin Madden, assessor das campanhas presidenciais do republicano Mitt Romney em 2008 e 2012.
Para ele, “simplesmente não havia a substância necessária para que ela fosse aprovada no teste para ser comandante-chefe e realmente tirasse algumas das dúvidas dos eleitores.
“O resultado foi que seus oponentes preencheram essas lacunas para ela”, apontou Madden.
Oito meses depois, Biden colocou de lado a rivalidade nas primárias e anunciou Kamala Harris como sua vice na chapa.
Ela se tornou a primeira mulher negra a ser indicada para o cargo — e, em janeiro de 2021, a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos.
Começo acidentado
Cinco meses depois da posse como vice, Harris enfrentou seu primeiro contratempo público, durante uma viagem para a Guatemala e o México.
O objetivo da viagem era demonstrar seu papel no desenvolvimento de iniciativas econômicas para restringir o fluxo de migrantes da América Central para a fronteira sul dos Estados Unidos – uma missão de política externa atribuída a ela pelo presidente Biden.
Mas seu trabalho foi rapidamente ofuscado por uma entrevista constrangedora para o jornalista Lester Holt, da rede de TV americana NBC News. A vice-presidente ignorou várias questões sobre ela ainda não ter visitado a fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Mais tarde no mesmo dia, Harris tentou recuperar a narrativa durante uma entrevista coletiva com o então presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei.
Ela deu uma dura mensagem para os migrantes que pensavam em viajar para os Estados Unidos.
“Não venham”, disse ela. “Não venham.”
A entrevista à NBC News alimentou os ataques dos republicanos, que permanecem até hoje. Mas os comentários na segunda coletiva despertaram a ira dos progressistas e se espalharam rapidamente pelas redes sociais, embora outras autoridades do governo já tivessem manifestado a mesma retórica da vice-presidente.
Os aliados de Kamala Harris culparam a Casa Branca por não ter preparado adequadamente a vice-presidente e por atribuir a ela uma missão impossível.
Eles se queixaram de que, como a primeira mulher, afro-americana e asiático-americana a exercer a vice-presidência do país, ela sofreu expectativas irreais desde o início do mandato, sem que tivesse tempo para se estabelecer.
“No início, houve uma imensa pressão para assumir coisas”, declarou um antigo auxiliar, em condição de anonimato.
Nos meses seguintes, Kamala Harris sofreu novos julgamentos com a alta rotatividade do seu pessoal, uma série de manchetes negativas sobre seu desempenho e aparições inexpressivas nos meios de comunicação.
E, cerceada pelas restrições da pandemia de covid-19, seus compromissos públicos foram limitados, alimentando a percepção de era quase invisível.
Ela passou a ser rotulada como um “enfeite”, por ficar frequentemente atrás do presidente Biden nas cerimônias de sanção de leis. Embora seus antecessores vice-presidentes homens tambem frequentemente ficassem nessa posição, atrás dos presidentes, a Casa Branca optou por retirá-la desses eventos.
Segundo auxiliares, esta decisão trouxe para Harris novas críticas pela sua ausência.
“As pessoas tinham a expectativa de observá-la na vice-presidência como se ela fosse Michelle Obama, mas ela estava em um cargo… estabelecido para Al Gore ou Mike Pence”, afirma Jamal Simmons, estrategista democrata de longa data que trabalhou como diretor de comunicação de Kamala Harris durante seu segundo ano de mandato.
Roe x Wade e política de coalizão
Quando sua equipe buscava melhorar sua fraca imagem pública, Harris embarcou em uma função mais alta na política externa. Ela viajou para a Polônia logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022.
A vice-presidente também manteve reuniões bilaterais na Ásia, em meio ao aumento das tensões com a China, e substituiu Joe Biden na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, naquele mesmo ano.
Mas, em maio de 2022, um terremoto político mudaria completamente a trajetória da vice-presidente.
Em um raro vazamento na Suprema Corte americana, veio a público o rascunho de um parecer revelando os planos de revogação da histórica decisão do caso Roe vs. Wade, que protegeu o direito federal das mulheres americanas ao aborto por quase meio século.
Harris aproveitou a oportunidade para ser a principal porta-voz de uma questão que Biden — católico devoto, descendente de irlandeses, que até evita pronunciar a palavra “aborto” — relutava em assumir.
“Como eles ousam dizer a uma mulher o que ela pode e o que não pode fazer com seu próprio corpo?”, declarou ela a uma multidão, em um evento de um grupo pró-escolha, no mesmo dia da publicação do vazamento bombástico.
Kamala Harris estava decidida a atacar os principais juízes do país antes que a decisão do tribunal fosse publicada oficialmente.
Esta questão se tornou uma força mobilizadora nas eleições de meio de mandato, poucos meses depois. Ela ajudou os democratas a atingirem resultados melhores do que o esperado no pleito legislativo e a tomar o controle do Senado.
Ao buscar se tornar a porta-voz do governo americano sobre o aborto, Kamala Harris abordou a questão com “clareza de propósito”, segundo a ex-assessora Rachel Palermo.
Ela reuniu parlamentares estaduais, líderes religiosos, especialistas em direito constitucional, empresas de assistência médica e ativistas para participar de mesas redondas.
O movimento foi duramente criticado por alguns ativistas como não correspondendo à seriedade do momento, mas foi parte de uma estratégia para formar coalizões de políticos locais e estaduais. E também ajudou a estabelecer as bases da futura campanha presidencial.
Harris passou a maior parte da sua carreira entre o delicado leque de políticos democratas mais progressistas e mais tradicionais. E ela sabia que todos os eventos eram importantes.
Sua equipe registrava cada reunião em planilhas detalhadas, mostrando cada oportunidade de fotografia ou jantar, seja com empresários negros ou com mulheres empreendedoras hispânicas. E Harris pôde usar estas informações no momento de convocar uma rede política de apoio mais profunda.
O fato é que Kamala Harris sempre manteve em vista sua possível candidatura para a Casa Branca em 2028, como sucessora natural de Joe Biden, caso um segundo mandato fosse conquistado por ele nas eleições de 2024.
Mas, quando surgiram os clamores pela substituição de Joe Biden como candidato, após os tropeços no debate contra Donald Trump no final de junho, alguns democratas a negligenciaram abertamente.
Eles e muitos analistas sugeriram governadores populares — como Gavin Newsom, da Califórnia, Josh Shapiro, da Pensilvânia, ou Gretchen Whitmer, de Michigan — como melhores substitutos para motivar os eleitores e assumir a luta contra Trump.
Até que, em 21 de julho, Biden telefonou para Harris e a informou dos seus planos de sair da disputa e apoiá-la como sua sucessora. A decisão tomou muitos dos seus aliados mais próximos de surpresa, mas a vice-presidente logo entrou em ação.
Naquele domingo, em um intervalo de 10 horas, ela ligou para mais de 100 autoridades do partido, membros do Congresso, líderes trabalhistas e ativistas. E, em questão de dias, todos os seus possíveis rivais, incluindo os poderosos governadores, já haviam desistido da disputa.
Ficava claro que Harris assumiria a candidatura democrata sem grandes dificuldades.
Como candidata, a atual vice-presidente ainda precisa apresentar uma agenda política detalhada e se preparar para rigorosas entrevistas coletivas com a imprensa.
Ela publicou um rascunho econômico em 16 de agosto, propondo reduções de impostos para as famílias e um esforço mais amplo para limitar o preço dos medicamentos. É sua visão mais detalhada para o futuro do país apresentada até aqui.
Embora os republicanos a acusem de evitar se expor, sua equipe não vê necessidade de suspender o entusiasmo construído por ela no último mês. Estrategistas políticos afirmam que a campanha está pronta para capitalizar toda essa energia acumulada.
“O que Kamala Harris está vivenciando é uma maciça necessidade reprimida das pessoas de votar em alguém que não se chame Biden nem Trump”, afirma Kevin Madden.
“Mas o teste sempre vem com a exposição a entrevistas, à imprensa, aos debates e aos desconfortáveis holofotes da campanha.”
O historiador presidencial Douglas Brinkley, que ajudou a organizar uma reunião de historiadores na residência oficial de Kamala Harris no ano passado, afirma que o fato de ela ser uma tela algo vazia para os eleitores traz mais benefícios do que prejuízos.
“Ela pode não ter conseguido florescer totalmente com Biden, mas também nunca teve atritos com ele”, explica Brinkley. “Por isso, ela conseguiu se posicionar para este momento e pode assumir o que há de bom nos anos de Biden e descartar as malas que ela quiser, ou discordar levemente.”
Sua entrada na campanha trouxe uma onda de apoio entre os democratas, mas não está claro se ela conseguirá transformar este apoio em um apelo generalizado.
Harris conseguiu adentrar em alguns grupos demográficos fundamentais que haviam escapado de Joe Biden, particularmente os eleitores negros, latinos e jovens. Mas ela está atrasada em outros setores que compuseram a coalizão vencedora de Biden em 2020.
As pesquisas recentes colocam Harris à frente ou empatada com Trump em seis dos sete Estados decisivos, segundo o boletim Cook Political Report publicado na quarta-feira (14/08). Em maio, quando Biden ainda era o candidato democrata, Trump estava à frente ou empatado em todos os sete Estados.
O discurso da noite de quinta-feira (22/8), durante a convenção do Partido Democrata, será o momento mais importante da carreira política de Kamala Harris.
Enquanto a convenção republicana serviu de coroação para Donald Trump (nomeado candidato do partido pela terceira vez consecutiva), o súbito crescimento de Harris faz com que seu discurso passe a ser o momento fundamental para definir quem ela realmente é.
Harris já esteve no palco antes, mas um de seus altos auxiliares declarou que o discurso irá se concentrar mais na sua história pessoal do que fizeram os candidatos anteriores.
“Esta é a questão principal. Por que ela está concorrendo à Presidência? Qual é sua visão para o país?”, declarou Jamal Simmons. “[O discurso] irá ajudar a unir os cordões da sua política e da sua vida política, para que faça sentido para as pessoas.”
Mas, ao longo dos quatro dias de convenção, Kamala Harris precisa definir sua mensagem sobre criminalidade, inflação, economia e imigração – questões que a campanha de Trump irá discutir implacavelmente até o dia das eleições.
O estrategista republicano de longa data Whit Ayres afirma que Harris também precisará, em algum momento, esclarecer as posições à esquerda que ela assumiu em 2019, durante sua candidatura fracassada à Presidência.
“Sua maior vulnerabilidade é que existem muitas evidências de que ela é uma liberal de São Francisco com todo um conjunto de posições políticas de extrema esquerda que estão fora do pensamento americano comum”, afirma ele, “e ela ainda não precisou responder a respeito.”
Apesar de algumas dúvidas sobre como Harris vai responder a situações em que ficará mais exposta e a cobranças da ala mais à esquerda do eleitorado democrata, aliados e assessores que a prepararam ao longo da última semana defendem que ela construiu as bases da sua candidatura presidencial ao longo dos últimos quatro anos.
“A oportunidade é a preparação com um pouco de sorte”, afirmou um importante assessor político. “Eu não chamaria isso de sorte, já que ninguém queria que fosse desta forma, mas ela certamente estava preparada para este momento de oportunidade.”
A doadora democrata Susie Tompkins Buell é uma das fundadoras das empresas Esprit e The North Face. Ela ajudou Kamala Harris a arrecadar US$ 12 milhões (cerca de R$ 64,9 milhões) para a campanha em um evento em São Francisco, no início deste mês.
Tompkins Buell conhece Kamala Harris desde os anos 1990 e afirma que não se surpreendeu com seu desempenho nas últimas semanas.
Nos dias que se seguiram ao duvidoso desempenho de Biden no debate, Tompkins Buell compareceu a um evento com a vice-presidente. Ela declarou que pôde perceber a mudança em andamento.
A empresária conta que, quando disse a Harris que apertasse seu cinto de segurança, a futura candidata democrata brincou: “Eu nasci com um cinto de segurança.”
“Gostei da sua resposta”, comenta Tompkins Buell. “Foi rápida e certeira. Ela está pronta.”
*Com informações de Courtney Subramanian, da BBC News
Fonte: BBC
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