- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Israel iniciou na segunda-feira (3/7), no campo de refugiados de Jenin, a maior operação militar na Cisjordânia nos últimos 20 anos, o que resultou até o momento em pelo menos 11 mortes de palestinos e dezenas de feridos.
Centenas de soldados israelenses estão mobilizados, e combates forçaram a evacuação de ao menos 3 mil palestinos, segundo a organização humanitária Crescente Vermelho.
As tropas israelenses enfrentam as Brigadas de Jenin, unidade formada por diferentes milícias palestinas, sediadas no campo de refugiados que fica no centro da cidade.
Nesse campo, pessoas vivem em condição de superlotação: há cerca de 14 mil moradores em menos de meio quilômetro quadrado, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês). O local se converteu num campo de batalhas.
Segundo o exército israelense, o objetivo é destruir “infraestrutura terrorista” e desarmar as milícias.
Mas a correspondente da BBC em Jerusalém, Yolande Knell, alertou que “existe o risco de mais respostas palestinas, inclusive a partir de Gaza”.
Nesta terça-feira, um veículo atropelou sete pessoas na cidade israelense de Tel Aviv, ferindo gravemente três. O ataque foi classificado como “heróico” pela organização islâmica Hamas, que afirmou que a ação seria uma resposta à operação militar em Jenin.
O que desencadeou a operação militar em Jenin?
Nas últimas semanas, a violência aumentou no campo de refugiados.
Em 20 de junho, sete palestinos foram mortos em um ataque israelense a Jenin, no qual o Exército usou um helicóptero de combate.
No dia seguinte, dois militantes do Hamas mataram a tiros quatro israelenses em um posto de gasolina e em um restaurante perto do assentamento de Eli, 40 km ao sul de Jenin.
Após o ataque, centenas de colonos israelenses queimaram casas e carros na cidade vizinha de Turmusaya, onde um palestino foi morto a tiros.
Pouco tempo depois, um drone israelense matou três militantes palestinos em Jenin, depois que eles supostamente realizaram disparos em um posto de controle militar perto da cidade.
A espiral de violência resultou nessa operação militar, a maior dos últimos anos na Cisjordânia.
Israel afirma que seu alvo não são os palestinos, mas “milícias financiadas pelo Irã”, como o Hamas e a Jihad Islâmica – e que o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, define como “organizações terroristas”.
Para o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, a operação é “uma nova tentativa de destruir o campo e deslocar seu povo”. Ele afirmou que os palestinos não se renderão “enquanto essa ocupação criminosa continuar”.
“Os membros da linha dura do governo de direita de Israel têm pressionado há meses para que o Exército tomasse medidas enérgicas”, diz Paul Adams, correspondente de diplomacia da BBC.
Ele afirma, no entanto, que alguns dentro do exército israelense temem que isso possa inflamar ainda mais uma situação já volátil.
Adams lembra que, no passado, ataques em larga escala foram realizados contra grupos militantes em Jenin e em outros lugares, mas acrescenta que essas operações “têm pouco efeito para resolver os problemas subjacentes e geralmente servem como gatilhos para mais violência”.
Por que Jenin é um ponto de tensão?
Jenin é um dos lugares na Cisjordânia onde uma nova geração de militantes palestinos se estabeleceu, argumenta Adams.
“Esses jovens militantes nunca conheceram um processo de paz. Eles não têm perspectiva de uma resolução diplomática do conflito. Eles não têm absolutamente nenhuma fé em seus próprios líderes políticos. Então estão lutando contra a ocupação da única maneira que acham que podem.”
O campo de Jenin também tem uma das maiores taxas de pobreza e desemprego dos 19 campos de refugiados da Cisjordânia, segundo dados da ONU.
Diante desse cenário de desesperança, a resistência armada às medidas de segurança de Israel cresceu rapidamente na Cisjordânia, diz Alaa Daraghme, correspondente do serviço árabe da BBC, que viu o número de militantes em Jenin aumentar de dezenas para centenas em apenas dois anos.
Os palestinos insistem que Israel deve interromper a construção de assentamentos na Cisjordânia, que se multiplicaram nos últimos anos e que o atual governo israelense não tem planos de proibir.
Segundo Mustafa Barghouti, que lidera o partido Iniciativa Nacional Palestina, “a grande questão é: por que esses jovens estão seguindo esse caminho?”
“É porque estamos sob ocupação militar [israelense] há 56 anos, enquanto o mundo não fez nada para detê-la… Esses jovens estão desesperados porque a comunidade internacional permitiu que Israel continuasse a ocupação”, disse o político palestino à BBC.
A Autoridade Palestina (AP), que tem algumas responsabilidades administrativas e de segurança em partes dos territórios ocupados, também perdeu o controle do campo de refugiados de Jenin, afirma o editor internacional da BBC, Jeremy Bowen.
Para muitos palestinos, diz Bowen, a AP, liderada pelo presidente Mahmoud Abbas, que não realiza eleições há anos, perdeu a autoridade.
“Não há nada que a AP possa fazer agora para proteger os palestinos das atividades das forças de segurança israelenses e, mais especificamente, dos colonos que vivem em assentamentos patrocinados pelo Estado, que violam o direito internacional”, analisa Bowen.
Qual é a história do campo de refugiados de Jenin?
O campo foi criado no início dos anos 1950 para os palestinos deslocados durante a guerra de 1948-49, em que o recém-nascido Estado de Israel lutou contra seus vizinhos árabes.
À época, pelo menos 750 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas, no que os palestinos chamam de Nakba ou “catástrofe”.
Durante a Segunda Intifada, onda de violência que ocorreu em Israel e nos territórios palestinos entre 2000 e 2005, o campo de Jenin tornou-se um dos maiores focos de tensão.
Em abril de 2002, após uma campanha de atentados suicidas em Israel, na qual muitos dos perpetradores eram de Jenin, as forças israelenses lançaram um ataque em grande escala à cidade que durou 10 dias e ficou conhecido como a Batalha de Jenin.
Pelo menos 52 palestinos, metade deles civis, foram mortos nos combates, assim como 23 soldados israelenses. Cerca de 400 casas foram destruídas, e um quarto da população perdeu suas casas.
Um relatório das Nações Unidas criticou Israel por não permitir a entrada de ajuda humanitária no campo de refugiados, e o lado palestino por esconder militantes em casas de civis.
Fonte: BBC
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