- Author, Luís Barrucho
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
- Twitter, @luisbarrucho
Um brasileiro que foi para a Ucrânia lutar contra os invasores russos foi gravemente ferido na cabeça e está hospitalizado com problemas na fala.
Ex-professor de artes marciais e ex-bombeiro civil, David Moura se identificava como ‘mercenário’, como são conhecidos os combatentes estrangeiros que atuam em guerras em troca de dinheiro.
A BBC News Brasil não conseguiu contato direto com ele, mas conversou com Clara Magalhães, idealizadora do Frente BrazUcra, frente de voluntários brasileiros que atuam na Ucrânia. Ela visitou Moura no hospital.
Segundo Magalhães, o soldado brasileiro aparenta estar bem, porém o ferimento causou lesão neurológica — num áudio compartilhado com a BBC News Brasil, a voz de Moura soa errática, e ele tem dificuldades em organizar pensamentos e formar frases.
Magalhães acrescenta que Moura não se lembra o que aconteceu; apenas que estava em uma missão com o Exército ucraniano em Kupiansk, na região de Kharkiv Oblast, no leste da Ucrânia, quando foi ferido.
“Há uns meses, conheci uma médica alemã que atua num batalhão aqui no leste da Ucrânia e, desde então, sempre lhe fornecemos insumos. Pediram nossa ajuda com geradores. E postaram uma foto nossa quando efetuamos a entrega. Um dos soldados desse batalhão viu a foto. Ele está no mesmo hospital que David e mandou mensagem para mim dizendo que ninguém conseguia se comunicar com ele e perguntando se eu poderia interceder”, conta Magalhães.
“Comecei a conversar com o David, e ele me pediu para visitá-lo. Agora, falei com a médica e ela nos passou os dados médicos dele para que eu possa enviar a um neurologista no Brasil e ter uma segunda opinião. E também estamos tentando achar uma fonoaudióloga para ajudar na reabilitação da fala dele”, acrescenta.
Magalhães diz que fez estrogonofe e brigadeiro para Moura, e ele segue internado num hospital em Poltava, a 340 km da capital Kiev, na região central da Ucrânia.
Em um post no Instagram, ela alerta: “(o caso de Moura) serve para nos (sic) que a guerra é séria, perigosa e muito arriscada”.
Magalhães também diz que, nos próximos dias, vai visitar outro brasileiro ferido — ele foi atingido no braço.
Além de Moura, outros vários brasileiros atuam como combatentes na guerra na Ucrânia. Não se sabe ao certo quantos. Muitos moram na Europa. Um deles, André Luis Hack Bahi morreu em junho do ano passado após ser baleado por tropas russas no leste do país.
Bahi também havia se apresentado voluntariamente para lutar contra os russos.
Em reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, em junho do ano passado, por ocasião da morte de Bahi, Moura disse que não tinha problema em ser chamado de “mercenário” e recebia US$ 1 mil (R$ 5,2 mil) por mês para lutar contra os russos.
“De certa forma, ao trocar tiros, posso cair, posso matar ou morrer em combate, sou um mercenário. Eu gosto”, disse ele ao Fantástico.
“Você é louco. Mas é normal para mim. Eu gosto daquilo, entendeu?”, acrescentou.
Mercenários
Há relatos de mercenários atuando tanto do lado russo quanto ucraniano, mas em proporções e sob regras distintas.
Moscou já recorreu a esse tipo de combatente em outros conflitos recentes dos quais participou, como a anexação da Península da Crimeia em 2014 e para apoiar a insurgência pró-Rússia que ocorreu nas regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia.
O mais famoso uso de forças irregulares pela Rússia, tanto na Ucrânia quanto em outras operações militares, é o Grupo Wagner, uma organização paramilitar privada, cujo um dos líderes é aliado do presidente russo, Vladimir Putin.
Já a Ucrânia também recrutou abertamente combatentes irregulares para se juntarem a milícias e forças voluntárias, incluindo a Legião Internacional de Defesa da Ucrânia.
Mas, segundo o governo ucraniano, as unidades de combatentes internacionais se enquadram formalmente nas forças armadas regulares da Ucrânia e se reportam aos comandantes ucranianos.
A Rússia, por outro lado, diz considerar os estrangeiros que lutam pela Ucrânia como mercenários.
Segundo as autoridades russas, se capturados, eles não teriam direito ao status de prisioneiro de guerra.
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