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Brasil bate mil mortes por dengue pela primeira vez, e Fiocruz alerta para falta de campanhas

Em 2022, o Brasil bateu não apenas o recorde histórico de maior número de mortes durante um ano, como também ultrapassou pela primeira vez a marca de mil óbitos no período de 12 meses. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 1.016 vítimas da doença, 313% a mais que as 246 registradas no ano anterior, e 3% superior às 986 em 2015, ano mais letal até então. Outras 109 mortes ainda estão em análise.

O contexto levou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a alertar para a falta de campanhas de prevenção contra o mosquito da dengue no país, o Aedes aegypti, principal estratégia de combate à doença. Isso porque a vacina aprovada no Brasil, que seria outra forma de evitar o agravo pelo vírus, tem impacto restrito: é destinada apenas à faixa etária de 9 a 45 anos, somente para proteger contra uma segunda infecção, que costuma ser mais grave, e só está disponível na rede privada.

Diminuiu significativamente o número de campanhas de conscientização sobre o Aedes e, por isso, muitas pessoas esqueceram de vistoriar suas casas em busca de focos de água parada. Também, com o distanciamento social, agentes de endemias não estavam autorizados a visitar residências para ações de prevenção, fundamentais para relembrar moradores da importância de eliminar criadouros do mosquito, afirma a pesquisadora Rafaela Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Em relação aos casos, foram 1,45 milhões de diagnósticos realizados no ano passado, número 162,5% maior que o total de contaminações de 2021. Na comparação com o registrado em 2019, último ano antes da pandemia, o total foi 6,2% menor – indicando que 2022 foi um ano com maior letalidade da doença.

Para Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC/Fiocruz, uma das justificativas para o avanço dos casos fatais pode estar relacionada ao diagnóstico tardio, o que dificulta o tratamento. Essa demora seria devido ao desvio das atenções para a urgência da Covid-19.

Se observarmos os dados que antecedem a pandemia, percebemos que, durante aumentos dos casos de dengue, a quantidade de óbitos ainda permanecia em menor proporção, visto que os pacientes eram diagnosticados mais rapidamente e, consequentemente, tratados de forma adequada, diz a especialista.

Essa mesma elevação na mortalidade não teria sido observada em 2020 e 2021 pelo fato de a dengue ser uma doença cíclica, ou seja, que tem altas geralmente de três em três anos. Como a última grande onda, antes de 2022, havia sido em 2019, os primeiros anos da pandemia foram um período em que naturalmente se esperava um recuo da disseminação do vírus.

Além desses fatores, Denise acrescenta que há a semelhança entre sintomas da dengue com os de outras doenças, como a própria Covid-19, o que dificulta o diagnóstico adequado. Os sinais iniciais incluem febre, dores de cabeça e no corpo, mal-estar e fraqueza.

A letalidade da dengue está associada à demora na identificação e no tratamento da doença. No último ano, ainda sob efeito da Covid-19, pacientes que estavam seguindo o isolamento social podem ter levado mais tempo para buscar assistência médica, e muitos podem ter recebido diagnóstico impreciso por conta da vigência de outra doença com sintomas parecidos, diz a especialista.

Os estados com mais mortes por dengue em 2022 foram São Paulo (282), Goiás (162), Paraná (109), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66). Outras doenças transmitidas pelo mesmo mosquito, a zika e a chikungunya, também apresentaram crescimento de 24% e 78,9%, respectivamente, no número de casos em comparação com 2021.

Esses números podem diminuir a partir deste ano com as dinâmicas da sociedade se assemelhando ao período pré-pandêmico. Porém, isso apenas acontecerá se também recuperarmos nossas ações de conscientização acerca do Aedes aegypti, afirma Rafaela.

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