• Julia Braun
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

Crédito, Getty Images

O atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) provavelmente terá dificuldades em encontrar novos eleitores na disputa do 2° turno das eleições presidenciais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), avalia Ryan Berg, diretor do setor de América do think tank americano Center for Strategic and International Studies.

“Não sei de onde Bolsonaro pode tirar os votos que precisa para vencer”, afirmou Berg em entrevista à BBC News Brasil. “Não acredito que haja eleitores suficientes para levá-lo à margem necessária contra Lula.”

Bolsonaro e Lula se enfrentarão no 2° turno em 30 de outubro. Com 99,9% das urnas apuradas, o petista estava em primeiro com 48,41% do total dos votos válidos e o atual mandatário, em segundo, tinha 43,22% dos votos válidos.

O desempenho de Bolsonaro surpreendeu os institutos de pesquisa. Na véspera do primeiro turno, as pesquisas Datafolha e Ipec mostravam ambas uma distância de 14 pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro.

“Lula não foi tão bem quanto as pesquisas previam, mas ele ainda está em vantagem e nem precisa de todos os eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes para chegar a 50% dos votos”, diz o cientista político que morou por cerca de 2 anos no Brasil.

“Já Bolsonaro precisaria de basicamente todos os eleitores de Tebet e Ciro, além dos de outros candidatos. Mas não consigo ver isso acontecendo.”

Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) ficaram, respectivamente, em terceiro e quarto lugar no 1° turno.

Com 99,9% das urnas apuradas, Tebet tinha 4,16% dos votos válidos e Gomes tinha 3,04%.

Eleição para o Congresso

Mas segundo Berg, Bolsonaro se mostrou mais eficiente em atrair votos para aliados concorrendo a cargos no Senado e na Câmara dos Deputados do que Lula.

O PL, legenda de Bolsonaro, ampliou sua presença na Câmara e elegeu a maior bancada, com 99 deputados, diante dos 76 atuais, de acordo com os resultados preliminares. Também deve ter a maior bancada do Senado, com 15 representantes ao todo.

Das 27 vagas disputadas em 2022 para o Senado, 14 foram conquistadas por nomes apoiados pelo presidente.

“A campanha do Bolsonaro, assim como seus apoiadores, se mostrou mais energizada e capaz de mobilizar do que a de Lula”, diz o pesquisador americano.

Legenda da foto,

‘O Congresso brasileiro é provavelmente o mais poderoso da América Latina e uma maioria por ali significa muito’, diz Berg

Para Berg, a força de alguns dos candidatos ligados ao bolsonarismo nas redes sociais também pode ter impactado os resultados.

“O Congresso brasileiro é provavelmente o mais poderoso da América Latina e uma maioria por ali significa muito”, afirma.

“E mesmo que Bolsonaro não seja reeleito, certamente seu movimento e suas ideias já foram injetadas na sociedade brasileira e continuarão para além de seu governo.”

O diretor do setor de América do think tank Center for Strategic and International Studies diz ainda que as grandes bancadas de centro-direita e direita no Congresso certamente serão um desafio para Lula, caso o ex-presidente confirme sua vantagem e seja eleito no segundo turno.

“Esse cenário pode dificultar a aprovação de algumas propostas que ele já disse ter intenção de colocar em debate, como de programas sociais”, diz.

“E no Brasil há ainda uma ameaça constante de impeachment que paira sobre presidentes que enfrentam grande oposição no Congresso.”

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