As ondas de calor estão se tornando cada vez mais comuns na Índia devido ao aquecimento global. Em 2022, os termômetros chegaram a 49°C, uma temperatura sem precedentes em Nova Délhi.
Em dias de calor, não há onde se esconder, especialmente para quem mora em regiões de favela. Além de pouca vegetação e sombra, essas zonas são repletas de casas abafadas, com pouca ventilação e que abrigam famílias grandes.
Mas em diversas partes do país, a população tem buscado maneiras simples e baratas de se refrescar.
Blocos de gelo
Em Délhi, a fabricação e venda de blocos de gelo se tornou um alívio para muitos.
O gelo é feito em fábricas usando uma técnica antiga, de 120 anos atrás, em que a amônia é misturada na água salgada para criar um fluido congelante. O método é mais ecológico do que outros usados para a refrigeração.
“A água salgada é necessária para manter a temperatura para a formação do gelo”, explicou à BBC Anwar Tariq, dono de uma fábrica local de blocos de gelo.
Depois de prontos, os blocos são vendidos na cidade por comerciantes por cerca de 5 ou 10 rúpias (menos de R$ 1).
O gelo é usado por restaurantes e comerciantes para manter alimentos e produtos conservados, mas também por moradores e lojistas para se refrescar.
“As pessoas levam para suas casas e lojas, o leiteiro leva para seu leite, o vendedor de lassi leva para seu lassi e o açougueiro leva para que sua carne não apodreça”, explica Mohd Sameer, comerciante de gelo em Délhi.
O lassi, uma mistura de iogurte, água, especiarias e, às vezes, frutas, é uma bebida tradicional na Índia e que é servida com gelo em momentos de calor.
“Aqueles que pegam um pedaço pequeno são pessoas afetadas pela pobreza, exaustas do trabalho diário, que compram para sentir algum alívio”, diz Sameer.
Mas, à medida em que a Índia fica mais rica e mais quente, mais pessoas estão comprando geladeiras. Isso contribui para a mudança climática e prejudica o comércio de gelo.
“Em 10 ou 20 anos, este trabalho desaparecerá”, diz Sameer.
Telhados pintados de branco
Outra técnica que tem se tornado mais popular é a pintura de telhados e lajes de branco.
Em Amedabade, uma das cidades que mais sofrem com o calor na Índia, as temperaturas frequentemente atingem 42°C — e às vezes chegam a até 48°C.
Shakeela Bano é avó e vive em uma casa sem janela com mais cinco pessoas na cidade. Para sua família, muitas vezes é impossível fugir do calor.
No auge de uma onda de calor em 2021, eles passavam os dias mais quentes sentados na rua e, de noite, se revezavam em turnos para tentar dormir nas partes mais frescas da casa.
O calor era tanto que uma das netas de Shakeela desenvolveu feridas no rosto por conta da temperatura e do suor.
Até que eles foram abordados por uma associação habitacional que ajuda famílias a resfriarem suas casas.
A instituição sugeriu que Shakeela pintasse a laje superior de sua casa de branco, como forma de minimizar a absorção de calor. A medida ajudou a refrescar o ambiente e os netos da indiana agora conseguem dormir dentro de casa com um pouco mais de conforto.
As lajes de concreto absorvem o calor, mas a tinta branca reflete até 90% da luz solar, reduzindo a temperatura.
“Após a aplicação, a temperatura pode cair de 3 a 4° C”, explica Krishna Yadav, do Fundo Habitacional de Krishna.
Ela recomenda pintar lajes e telhados com duas camadas de tinta branca, sendo que a segunda deve ser aplicada quatro horas após a primeira.
Em Amedabade, o fundo oferece empréstimos com juros baixos para as famílias comprarem a tinta e pintarem os telhados.
Estupas de gelo
Em Leh, mais ao norte da Índia, um novo uso foi encontrado para o gelo. O ecologista Sonam Wangchuk desenvolveu uma técnica que usa cones gigantes feitos de gelo e que armazenam água como forma de resfriar e regar a vegetação durante o verão e a seca.
As chamadas estupas de gelo têm 12 andares de altura e podem conter cerca de 10 milhões de litros de água. Elas são construídas no inverno e servem como alívio no verão.
“Por causa de sua forma geométrica, elas não derretem até junho [verão no Hemisfério Norte]”, diz Wangchuk.
Uma estupa de gelo de 30 metros leva quase três meses para ser construída. Os cientistas conectam um tubo que liga o rio mais próximo ao local onde o cone de gelo ficará.
“Há uma pressão que joga água no céu do inverno com -20°C e assim ela congela em um cone de gelo”, explica o ecologista.
No verão, a água armazenada a partir do derretimento do gelo é então usada para regar a vegetação e melhorar a situação da seca.
“Árvores podem ser plantadas no deserto. O fluxo dos córregos pode ser ampliado para que os fazendeiros tenham um pouco mais de água no período de crise”, explica.
Fonte: BBC
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