- Faren Taghizadeh
- BBC News Persian
As mulheres no Irã têm protestado contra as rígidas regras do uso do véu islâmico, o hijab, retirando os lenços do rosto em público e publicando as imagens nas redes sociais.
“Não ao hijab obrigatório! Eu dirigi todo o caminho para o trabalho sem usar meu lenço na cabeça hoje para dizer não às regras! Nosso sonho é ser livre para escolher o que vestir”, disse uma mulher iraniana em um vídeo publicado nas redes.
Ativistas de direitos humanos pediram às mulheres em todo o país para que publiquem vídeos de si mesmas retirando o hijab em público, por conta do 12 de julho, o Dia Nacional do Hijab e da Castidade no calendário oficial do Irã.
Dezenas aderiram, apesar do risco de serem presas por este ato de desobediência civil, que é contra as leis do país sobre “vestimenta islâmica”.
Mulheres de diferentes partes do país gravaram vídeos em parques, ruas da cidade e até na praia, mostrando-se sem seus hijabs, algumas usando tops e shorts.
Em um vídeo compartilhado por milhares de pessoas, uma mulher pode ser vista andando por um calçadão à beira-mar, antes de tirar o hijab, deixá-lo cair no chão, depois pisar nele e ir embora.
No mesmo dia, as autoridades organizaram manifestações públicas em massa para mulheres que usam o hijab celebrem sua “proteção islâmica”.
A TV estatal transmitiu uma cerimônia “Hijab e Castidade”, apresentando uma performance coreografada por mulheres vestindo longas vestes brancas e lenços verdes nas cores nacionais.
Enquanto isso, nas redes sociais persas, uma hashtag para a campanha traduzida do farsi como “Não significa não, desta vez não ao hijab obrigatório” rapidamente viralizou ao ser promovida por ativistas, além de alguns jornalistas e políticos da oposição.
Algumas mulheres se manifestaram contra os homens no poder que elas consideram responsáveis por restringir suas liberdades pessoais.
“Vocês nos veem apenas servindo à honra de vocês, como sua propriedade! Vocês nos veem como seres humanos fracos e frágeis. Vocês nos forçam a cobrir nossas cabeças com base em suas inseguranças”, disse uma mulher do norte do Irã em um vídeo, enquanto tirava o lenço na frente da câmera.
Pelo menos cinco mulheres que publicaram imagens como parte da última campanha foram presas.
O Irã teve campanhas semelhantes nos últimos anos, estimuladas por mulheres que lutam pelo direito de escolher usar ou não o véu.
Mas uma recente repressão da “polícia da moralidade” do Irã contra mulheres acusadas de não cumprir o código de vestimenta fez com que os opositores da política pedissem uma ação mais dura.
Desde a revolução islâmica de 1979, no Irã, as mulheres são legalmente obrigadas a usar roupas “islâmicas”. Na prática, isso significa que as mulheres devem usar um xador, uma manta de corpo inteiro ou um lenço na cabeça, e um manteau (sobretudo) que cobre os braços.
Alguns homens iranianos também têm apoiado a campanha contra o véu nas redes sociais, aparecendo em vídeos ao lado das mulheres que protestam.
Uma imagem mostrando a parede de uma mesquita em Teerã grafitada com a mensagem: “Pão, trabalho, liberdade, cobertura voluntária” foi amplamente compartilhada nas redes sociais, referindo-se à crise econômica do país e à lei sobre hijabs.
O chefe do Judiciário no Irã, Gholamhossein Mohseni Ajeei, sugeriu que potências estrangeiras estão por trás dessa campanha, instruindo as agências de inteligência a encontrar as “mãos por trás do véu despido”.
O presidente Ebrahim Raisi também prometeu reprimir a “promoção da corrupção organizada na sociedade islâmica”, em referência direta à campanha.
Mas muitas mulheres estão determinadas a continuar com os protestos, apesar das ameaças.
“Você pode nos prender, mas não podem parar nossa campanha”, disse uma mulher em um vídeo nas redes sociais.
“Não temos nada a perder. Perdemos nossa liberdade anos atrás e estamos reivindicando-a de volta.”
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