- Author, Paul Pigott
- Role, BBC News
Um brilho misterioso emanava das florestas e das poças de maré do País de Gales, no Reino Unido, durante a semana anual do céu escuro, celebrada no início deste ano.
David Atthowe, um guia de expedição na natureza de Norwich, foi convidado a iluminar com suas lanternas de luz ultravioleta (UV) algumas das principais paisagens naturais dos condados de Pembrokeshire e Monmouthshire.
As fotografias que ele tirou da floresta tropical temperada do País de Gales revelam formas, estruturas e cores que rivalizam com as dos recifes de coral nos oceanos.
“Estão escondidas dos nossos sentidos humanos, esperando para serem descobertas”, diz ele.
A missão de Atthowe, de 34 anos, era iluminar com luz ultravioleta o que ele chama de “mundo mágico”, no qual plantas e animais emitem fluorescência para se comunicar.
“O País de Gales tem muita sorte de ter tantos locais bonitos [para a biofluorescência], com as suas poças de maré e floresta tropical temperada”, afirma.
As cores da noite
Atthowe visitou florestas no vale de Wye e no Parque Nacional da Costa de Pembrokeshire, guiando passeios durante a semana do céu escuro do País de Gales — evento que foi realizado de 9 a 18 de fevereiro deste ano, e tem como objetivo alertar sobre o impacto da poluição luminosa na biodiversidade.
“As florestas antigas estão repletas de musgos e líquenes que se iluminam sob a luz ultravioleta, e também de muitas criaturas, como piolhos e centopeias, todos fazendo coisas interessantes.”
Com mais de 400 espécies conhecidas de líquenes, a reserva natural de Ty Canol Wood, em Pembrokeshire, é uma das “florestas mais mágicas e especiais do Reino Unido”, segundo ele.
“Meu dia começa à noite, devido à nossa falta de capacidade de ver a luz ultravioleta”, explica.
“Quando escurece, se transforma no habitat mais colorido e vibrante.”
“Os musgos podem adotar todas as cores, dependendo de onde estão crescendo.”
“Os líquenes, as algas, todos têm cores diferentes. Sua beleza rivaliza com a de um recife de coral, é simplesmente muito vibrante”, completa.
Criando consciência
Ruth Waycott, da Wye Valley National Landscape, ajudou a organizar uma das caminhadas de biofluorescência, em Whitestone, uma floresta de propriedade da organização Natural Resources Wales, perto de Chepstow, em Monmouthshire.
“Foi muito fascinante, fui fisgada na hora”, diz ela.
“A biofluorescência é outro nível de comunicação que os seres humanos não conseguem ver.”
“Mas se acendermos uma luz ultravioleta, de repente veremos uma planta verde ou amarela horrenda dizendo: ‘Você não vai querer me comer, sou venenosa’.”
“É algo novo, e é por isso que é importante pensar nisso durante a semana do céu escuro”, avalia.
“Sabemos que a poluição luminosa afeta os animais, como a navegação dos morcegos ou os peixes migratórios, que ficam desorientados pelas luzes ao longo das margens de um rio, mas sabemos muito pouco sobre a luz ultravioleta”, acrescenta.
David Atthowe espera mudar isso.
“Como não temos a sorte de poder ver no espectro ultravioleta, estamos perdendo este mundo mágico que acontece ao nosso redor”, diz ele.
Uma de suas espécies favoritas é a lesma-leopardo.
“Ela libera um muco defensivo, que é amarelo brilhante sob a luz ultravioleta”, explica.
“Depois, em 30 segundos, muda de cor para azul brilhante. É muito bacana.”
“Nunca pensei que veria flores brilhando em um azul brilhante, cogumelos verdes iluminando o solo da floresta, e flores que parecem ter eletricidade correndo por elas”, acrescenta Atthowe.
E que conselho ele daria para quem quer explorar por conta própria este mundo que a iluminação ultravioleta pode revelar?
“Compre uma lanterna ultravioleta, e comece a ver o que você pode encontrar no jardim”, sugere.
“Comece com flores e uma lagarta, se conseguir encontrar uma, e você vai ficar surpreso com o que vai ver.”
Fonte: BBC
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