- Author, Elizabeth Bennett
- Role, BBC Worklife
Um descanso na praia, com bebida na mão. Caminhadas com amigos diante de uma vista espetacular do cume. Conhecer uma cidade estrangeira e comer a comida mais incrível que você já provou. Mas a melhor parte? Você mal gastou um centavo do seu próprio dinheiro nessas experiências.
Os benefícios que algumas empresas dão a seus funcionários mudaram na era da pandemia. Um incentivo emergente se destaca: distribuir orçamentos de quatro dígitos para que os funcionários conheçam o mundo.
Esses programas tiveram origem em grande parte em empresas relacionadas a viagens. Os funcionários do Airbnb recebem US$ 2 mil (cerca de R$ 9,7 mil) em créditos de viagem por ano, e a Expedia reembolsa os funcionários entre US$ 1.250 e US$ 1.750 (cerca de R$ 6,1 mil e R$ 8,5 mil) anualmente por despesas de viagem.
Agora, mais empresas de todos os setores estão seguindo o exemplo. O aplicativo de agendamento Calendly oferece uma bolsa anual de férias de US$ 1 mil (R$ 5 mil) para hotéis, voos ou aluguel de carros; a empresa de software Bamboo HR oferece o que eles chamam de “férias remuneradas pagas” por meio de uma bolsa anual de US$ 2 mil (quase R$ 10 mil) para usar em viagens.
Michael König, professor do departamento de estratégia e inovação da Universidade de Economia e Negócios de Viena, atribui essa tendência crescente à situação do trabalho, que ainda é, em grande parte, um mercado com mais demanda por trabalhadores do que oferta em todo o mundo, mesmo em meio a incertezas na economia.
As empresas que oferecem benefícios que vão além do normal conseguem atrair e reter os melhores trabalhadores de que precisam, muitas vezes contrariando a tendência de diminuição da lealdade dos funcionários.
“As empresas podem usar isso de forma inteligente na sua estratégia como empregadora”, afirma König. “A mensagem que as empresas passam é que os realmente se preocupam com o bem-estar da sua força de trabalho, além de meras medidas superficiais. Isso certamente compensa no longo prazo.”
Isso é especialmente verdadeiro para empresas que tentam recrutar e reter trabalhadores, diz Cary Cooper, professor de psicologia organizacional e saúde na Escola de Negócios Alliance Manchester, no Reino Unido.
“No Reino Unido, por exemplo, com a perda de tantas pessoas para o Leste da Europa como resultado do Brexit, os empregadores enfrentam dificuldade para recrutar pessoal qualificado ou até mesmo não qualificado em alguns setores, e consideram uma variedade de incentivos para atrair pessoal.”
E embora essa seja uma tendência global, os benefícios de viagens podem ser particularmente atraentes para os trabalhadores nos Estados Unidos, onde férias remuneradas não são um requisito legal e 46% dos trabalhadores que recebem esse benefício não as gozam na totalidade.
“Em primeiro lugar, muitas organizações têm um tempo de férias muito limitado, para que pudessem atrair e reter funcionários prolongando o seu período de férias remuneradas. No contexto dos EUA, estas despesas provavelmente serão destinadas ao pessoal profissional ‘necessário’, como uma vantagem entre outras funções”, diz Cooper.
Além disso, no atual clima econômico, esse incentivo financeiro para viagens é mais valioso do que nunca.
“O aumento acentuado do custo de vida e o aumento das taxas de inflação em todo o mundo fazem das férias um verdadeiro luxo. As empresas que oferecem despesas de férias pagas estão abordando essa questão diretamente”, diz König. Para os empregadores, também se trata de um investimento inteligente. “Em muitos países, esses custos também são dedutíveis nos impostos, e o benefício líquido pode então ser ainda maior do que um aumento salarial, tanto para o empregado como para o empregador.”
Esses incentivos podem parecer vantajosos tanto para empregadores quanto para funcionários, mas Paula Allen, líder global e vice-presidente sênior de pesquisa e bem-estar da TELUS Health, uma provedora de benefícios de bem-estar com sede em Toronto, no Canadá, afirma que essas vantagens podem ser mais valiosas para alguns trabalhadores do que para outros.
“Para funcionários como pais ou cuidadores, viajar pode não ser viável. Nesse caso, as organizações devem considerar alternativas, para que os funcionários não sintam que alguns estão obtendo vantagens preferenciais em relação a outros”, diz ela.
À medida em que as preocupações de sustentabilidade das viagens aéreas também se tornam mais pertinentes, Allen diz que as empresas também terão de pensar em como equilibrar a oferta de vantagens de viagens gratuitas e, ao mesmo tempo, considerar as questões climáticas.
Allen também diz que os incentivos financeiros não devem ser usados como uma alternativa para resolver problemas maiores.
“Essas vantagens não substituem a necessidade de apoio à saúde e ao bem-estar e de uma cultura de local de trabalho forte e eficaz. Se um local de trabalho não for psicologicamente seguro, o apoio financeiro adicional não elimina esse impacto negativo”, diz ela.
No entanto, daqui para frente, Allen acredita que continuaremos vendo empresas aderirem a essa tendência de alguma forma.
“Com o aumento dos trabalhadores nômades e das políticas dentro das empresas que permitem aos funcionários trabalhar em diferentes partes do mundo, há claramente um estímulo para viajar”, diz ela. Em termos gerais, acrescenta, “os empregadores vão se concentrar cada vez mais no apoio ao bem-estar financeiro e ligarão cada vez mais o bem-estar financeiro e mental”.
König concorda. “Toda a ideia do que se coloca em um pacote salarial está prestes a mudar”, diz ele. “Despesas pagas de férias, apoio médico, qualificação ao longo da vida, etc., se tornarão muito mais importantes.”
Fonte: BBC
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