- Cristina J. Orgaz @cjorgaz
- BBC News Mundo
Um balanço saudável e contas equilibradas costumam ser o objetivo de qualquer ator econômico: um Estado, uma empresa ou até mesmo uma família.
Estar com excesso de dívida é, no fim das contas, uma maneira de colocar em risco a saúde das finanças.
Porém, existem empresas e grandes conglomerados que precisam pedir empréstimos com frequência para poder seguir com seus negócios.
Esse é o caso sobretudo de empresas de capital intensivo (que precisam de grande volume de dinheiro para a sua operação), como as petrolíferas, que fazem dezenas de explorações antes de encontrar petróleo bruto no subsolo. Elas têm que investir muito.
Ou das marcas de automóveis em constante inovação para fabricar motores melhores ou carros mais seguros.
Outras, como as farmacêuticas, investem anos para desenvolver novos medicamentos.
Se olharmos para o caso da Netflix, antes de poder encher a sua plataforma de streaming com séries e filmes, ela tem que pagar atores, produtores, roteiristas…
“A Netflix continuou aumentando os seus empréstimos para financiar a criação de conteúdo, embora seu balanço seja muito mais saudável hoje do que no passado, como evidenciado por classificações de créditos”, diz um estudo da empresa Janus Henderson Investors.
E para tudo isso, é preciso dinheiro. Muito dinheiro.
Não é por acaso que as 10 empresas mais endividadas do mundo, segundo o relatório da Janus Henderson, pertencem a setores em que é preciso fazer muita pesquisa, em que a inovação é fundamental ou a concorrência é acirrada.
Nas primeiras posições do ranking estão as empresas automotivas Toyota e Volkswagen, com dívida líquida em 2021 de US$ 186 bilhões e US$ 185 bilhões, respectivamente.
Elas são seguidas por três provedores de telecomunicações: AT&T, Verizon e a alemã Deutsche Telekom, com US$ 182 bilhões, US$ 174 bilhões e US$ 153 bilhões em dívidas cada.
Para efeito de comparação, esses números são semelhantes aos de toda a dívida pública da Noruega em 2021 (US$ 176 bilhões) ou da Colômbia (US$ 171 bilhões) no mesmo ano.
Dívidas das empresas na América Latina
Em sexto lugar, está outra marca de automóveis bem conhecida: a Mercedes-Benz, que tinha US$ 109 bilhões em dívidas pendentes em seu balanço no ano passado.
Se olharmos para os países, as empresas do México acumulam US$ 36 bilhões em dívidas, enquanto as da Colômbia deviam cerca de US$ 20 bilhões até junho deste ano.
As do Chile, US$ 12 bilhões.
“As empresas de mercados emergentes devem relativamente pouco, o que é reflexo de condições econômicas mais voláteis”, dizem os analistas da Janus Henderson, Seth Meyer e Tom Ross.
Mas embora as dívidas sempre indiquem a saúde financeira de uma empresa, ter muitas não é necessariamente uma coisa negativa.
Existem setores da indústria, como fabricantes de automóveis ou empresas de telecomunicações, que precisam de muito capital para funcionar.
“As empresas precisam pedir dinheiro emprestado porque elas têm a necessidade de crescer em muitos setores. O investimento sempre exige financiamento, que pode ser via mais capital, dinheiro de sócios ou empréstimos”, comenta Pedro Aznar, professor do departamento de Economia, Finanças e Contabilidade da Escola de Negócios ESADE, na Espanha.
Para o professor, o endividamento é uma boa opção desde que o retorno esperado do investimento supere o custo da dívida, algo que tem sido comum em alguns setores, com tipos de juros mais baixos.
Então é ruim ter muitas dívidas?
Tudo depende, dizem os especialistas, do equilíbrio entre o valor do que uma empresa possui e o que ela deve.
“É uma questão relativa. A dívida pode ser colocada em relação ao total de ativos da empresa, ao valor de tudo que ela tem. Se uma empresa tem ativos que podem perder valor, ou de valor volátil, a dívida é um risco”, diz Aznar à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
“Mas se uma empresa tem ativos com valor seguro que suportam sua dívida, um certo grau de endividamento não é negativo: pelo contrário, permite que ela cresça e também aumente a rentabilidade”, acrescenta.
E como esses números são do último ano fiscal, é provável que, no novo contexto econômico, as empresas comecem a ser mais conservadoras na forma de se financiar.
Se os lucros caírem, o pagamento dos empréstimos pode ser mais complicado.
E um aumento de juros — como temos visto nestes meses — também afeta, já que os juros da dívida sobem e isso prejudica os resultados.
“O fato de ter que pagar juros e o valor principal no vencimento torna a dívida mais arriscada do que o patrimônio como fonte de financiamento para a empresa”, diz Pierre Verlé, chefe de dívida corporativa da empresa de investimentos Carmignac.
“O crescimento econômico global mais lento, incluindo as recessões em algumas partes do mundo, está tornando as empresas mais cautelosas”, estimam Meyer e Ross.
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