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Almir Pernambuquinho, o “divino delinquente”

Almir era uma figura paradoxal. O mais carioca dos “pernambuquinhos”. No campo, era violento, nos sentidos literal e figurado. Um “marginal do futebol”, como ele próprio dizia, ainda que de forma rancorosa por ter suas histórias com os punhos contadas com mais frequência do que as com os pés. Nas palavras do escritor Nelson Rodrigues, o melhor paradoxo para definir o craque, com falecimento que completa 50 anos na segunda (6): o “divino delinquente”.

Formado no Sport, em 1956, Almir, aos 19 anos, deixou o Leão quando ainda era juvenil para assinar com o Vasco, fazendo o mesmo caminho que conterrâneos famosos, como os atacantes Ademir Menezes e Vavá.

O “não” para a Copa

“Meu pai sempre falou que o maior erro da carreira foi não ter jogado a Copa de 1958. O problema é que ele gostava mais do pessoal do Vasco do que da Seleção”, admitiu Álvaro Albuquerque, filho de Almir. O atacante vascaíno, depois também de uma conversa com o ex-goleiro Barbosa, traumatizado pelo vice-campeonato na Copa de 1950,  simulou uma lesão durante o período de preparação para o Mundial e foi cortado.

Pela Canarinho, Almir disputou cinco jogos, ficando marcado por uma briga generalizada no Sul-Americano de 1959, contra o Uruguai, no Monumental de Nuñez. O jogador tem outra história famosa de confusão, quando estava no Flamengo, em 1966. Os rubro-negros perdiam por 3×0 para o Bangu, pelo Campeonato Carioca, no Maracanã, até que o atacante deixou a bola de lado. “Quem estava na minha frente apanhou. Dei pernada, pontapé, soco e cabeçada. Fora os desaforos que disse a todo mundo”, relatou o atleta à Revista Placar.

“Pelé Branco”

Do Vasco, Almir seguiu para o Corinthians. “Ele sofreu um boicote dos outros jogadores, que tinham inveja de quanto ele ganhava, e preferiu sair para o Boca Juniors”, citou o filho, nascido na Argentina. Foi nessa época que veio o apelido de “Pelé Branco”, popularizado em um texto de Nelson Rodrigues.

Almir saiu do Boca após mais um episódio de confusão. Ainda passou por Genoa e Fiorentina, ambos da Itália, antes de chegar ao Santos e jogar ao lado do verdadeiro Pelé. Em 1963, coube ao pernambucano substituir o Rei em uma partida pelo Mundial de Clubes, contra o Milan, vencida pelos brasileiros.

“Entrei no campo disposto a tudo e com muita raiva dos caras que lá na Itália. Procurei mostrar que não estava para brincadeira e dei logo um ‘pau’ no Amarildo”, disse, por conta de uma entrevista do compatriota que jogava na equipe italiana, em que disse considerar o camisa 10 do Peixe “acabado”. “Não admito um brasileiro falar mal do Pelé”.

Almir Pernambuquinho, deitado, ao lado do filho, Álvaro. Foto: Arquivo Pessoal

Outra forma de ser lembrado

Há quem lembre do Almir que quebrou a perna do zagueiro Hélio, do América/RJ, provocando a aposentadoria precoce do defensor. Quem o compare com outros craques de gênio forte, como Edmundo ou Serginho Chulapa. Álvaro prefere citar outro lado.

“Meu pai também era um cara brincalhão. Foi um dos criadores do futevôlei. Dava conselho aos atletas sobre contratos, foi ídolo do Santos, do Vasco, do Boca Juniors…Foi mais do que a imagem de ‘bad boy’ que passam”.

Violentamente, Almir se foi

Almir adorava Copacabana. Encerrou a carreira aos 31, após passagem no América/RJ, e foi um dos criadores do tradicional futevôlei nas praias cariocas. Porém, em 1973, após uma briga de bar no bairro, ele encontrou um adversário cruel. Um grupo de portugueses que estavam no local ofendeu artistas do “Dzi Croquetes”. O ex-jogador tomou as dores e foi atingido por um tiro na cabeça. O autor do disparo não foi preso. Curiosamente, uma de suas famosas frases, quando um treinador o mandou escolher entre o Vasco ou a praia, foi: “só deixo Copacabana por muito dinheiro ou então morto”.

Há meio século, o craque deixou a vida da mesma forma que fez nos gramados: lutando por quem estava ao seu lado. Vítima de um jogo sujo – muito além dos que o acusavam de fazer.

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Fonte: Folha PE

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