- Author, Rachael Sigee
- Role, Da BBC Culture
Já faz três anos que a personagem Agatha Harkness foi revelada como a grande vilã de WandaVision, uma série que se baseava em sitcoms clássicos e provava que o Universo Cinematográfico Marvel era capaz de contar histórias mais excêntricas do que sua produção cinematográfica estereotipada poderia sugerir.
A personagem Wanda Maximoff interpretada por Elizabeth Olsen foi finalmente confirmada como a lendária Feiticeira Escarlate, mas foi a Agatha, interpretada por Kathryn Hahn (e sua piscadela que viralizou) que roubou a cena como “Agnes”, a vizinha intrometida de Wanda que na verdade era uma bruxa malvada centenária.
E agora a favorita dos fãs tem seu próprio lançamento solo na série Agatha Desde Sempre, também comandada pela criadora de WandaVision, Jac Schaeffer.
Apropriadamente, para um spin-off de um spin-off, Agatha Desde Sempre inicialmente segue o exemplo de seu antecessor ao entregar uma história envolta em outra história.
A série segue os passos inovadores de WandaVision, começando depois que a tentativa de Agatha de roubar os poderes de Wanda deixou a própria Agatha sem poderes e presa dentro de sua fantasia.
Enquanto Wanda processava seu trauma por meio de sitcoms, a armadilha de Agatha levou sua mente a uma realidade alternativa mais sombria: um drama policial de prestígio.
Ele abre com Agatha como uma detetive de cidade pequena em uma paródia da série da HBO Mare of Easttown chamada Agnes of Westview. Assim como nas comédias de WandaVision, o programa dentro do programa é inteligente e excepcionalmente bem executado, com “Agnes” como uma policial independente, séria e usando camisa de flanela, diante de um caso repleto de estereótipos.
Mas a primeira camada da narrativa da boneca russa é descartada logo no início, com Agatha libertada do feitiço pela chegada de um fã obcecado por bruxas, interpretado por Joe Locke, de Heartstopper, que a convence de que o caminho para recuperar seus poderes (e se salvar do ira das terríveis Sete de Salem) é percorrer um caminho de provações conhecido como a Estrada das Bruxas.
Aqui, Agatha Desde Sempre se afasta de WandaVision e, nos quatro primeiros episódios disponibilizados para análise, começa a tomar sua própria forma. É uma série de quebra-cabeça que emprega elementos verdadeiramente de terror ao lado de elementos de aventura estilo Scooby-Doo e de caricatura de filmes como Abracadabra.
Precisando de um grupo de bruxas para acessar a Estrada, Agatha deve abrir mão de suas tendências de lobo solitário (ou pelo menos mascará-las por enquanto) e embarcar em uma campanha de recrutamento saída diretamente de um filme de assalto.
O bando que ela reúne é um agradável e desorganizado grupo de desajustadas.
Há Patti LuPone como Lilia, uma cartomante com problemas financeiros, Ali Ahn como Alice, filha de uma lendária bruxa estrela do rock, e Sasheer Zamata como Jen, uma bruxa que virou especialista em bem-estar e vende cremes de retinol e ovos de jade.
‘Química’ entre personagens
O que mais chama a atenção, no entanto, é Aubrey Plaza como Rio Vidal, uma bruxa verde com quem Agatha compartilha uma história espinhosa e uma tensão sexual evidente.
Aparecendo pela primeira vez como uma agente federal na fantasia de drama policial de Agatha, Rio provoca, provoca e tenta matar Agatha antes de se juntar ao grupo de bruxas como uma agente do caos. Plaza não poderia estar melhor.
A química escaldante da dupla está no cerne do que o elenco e os criadores orgulhosamente anunciaram como a oferta “mais gay” da Marvel até agora, uma afirmação apoiada por vários personagens queer, números musicais e uma série de transformações extravagantes.
Os temas de alteridade, identidade, perseguição e família escolhida falam com a comunidade LGBTQ e também demonstram uma preocupação com a história cultural da representação das bruxas.
Variando entre levemente assustadora e genuinamente de terror, a série argumenta que as bruxas são mais complexas do que a cultura pop nos faz acreditar e cumpre certas expectativas: mostra irmandade, invocações e maldições geracionais.
Em grande parte desprovidas de seus poderes sobrenaturais inerentes, as bruxas devem trabalhar duro para superar a Estrada, mas o elemento de busca da série é sustentado por mistérios maiores que já têm fãs teorizando: a identidade real do personagem de Locke conhecido apenas como “adolescente”; se Wanda (vista pela última vez se sacrificando em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura) ainda pode estar viva; e o que realmente aconteceu no passado de Agatha, especificamente em relação ao seu filho ausente.
Por estar escondida à vista de todos em WandaVision, Agatha e, portanto, Hahn, foram restringidas à periferia do show. Aqui, tanto a personagem quanto a atriz aproveitam a chance de brilhar, com Hahn expressando muito bem o egoísmo sarcástico de Agatha, bem como revelando suas vulnerabilidades (e demonstrando o valor de empregar atores cômicos verdadeiramente talentosos para entregar falas engraçadas).
Se ocasionalmente há uma frieza nas produções da Marvel — a tela verde e o espetáculo de computação gráfica distraindo do personagem e do peso emocional — Agatha prova que não há substituto para a boa e velha química.
Este é um elenco que está profundamente — e muitas vezes literalmente, graças às músicas — em sintonia e evidentemente encantado em entregar uma série mágica, que está tão disposta a ser boba quanto a ser sombria.
Fonte: BBC