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  • Author, Will Grant
  • Role, Correspondente da BBC para a América Central

O Haiti está caminhando para a anarquia. A violência na capital, Porto Príncipe, voltou a se intensificar no fim de semana.

Integrantes de facções criminosas fortemente armados atacaram o Palácio Nacional e incendiaram parte do Ministério do Interior com bombas de gás.

Isso tudo após o forte ataque ao aeroporto internacional, que permanece fechado para todos os voos – inclusive para o retorno ao país de Ariel Henry, que renunciou ao cargo de primeiro-ministro na noite da segunda-feira (11/3).

Ele tentou retornar dos Estados Unidos na semana passada, mas seu avião não recebeu permissão para pousar. A autorização também foi negada pela vizinha República Dominicana.

Henry está agora em Porto Rico, impossibilitado de pisar no Haiti.

Um grupo de militares dos EUA conseguiu entrar no país, no entanto.

Após um pedido do Departamento de Estado dos EUA, o Pentágono confirmou que havia realizado uma operação para, em suas palavras, “aumentar a segurança” da embaixada dos EUA em Porto Príncipe e transportar toda sua equipe não essencial para um local seguro, por via aérea.

Logo depois, o embaixador alemão e alguns diplomatas da União Europeia seguiram o exemplo deixando o país, imerso em violência e em sua maior crise humanitária desde o terremoto de 2010.

Milhões de haitianos, no entanto, simplesmente não têm essa sorte. Eles estão presos, não importa o quão ruins as coisas fiquem.

A situação é terrível no Hospital da Universidade Estadual do Haiti, conhecido como hospital geral, no centro de Porto Príncipe. Não há qualquer sinal de equipe médica.

Um cadáver, coberto por um lençol e tomado por moscas, permanece em uma cama ao lado de pacientes que esperam em vão por tratamento.

Apesar do cheiro avassalador, ninguém surge para remover o corpo, que se decompõe rapidamente no calor do Caribe.

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Não há equipes médicas no hospital geral de Porto Príncipe e pacientes dividem o espaço com corpos

Ameaças de guerra civil

“Não há médicos, todos eles fugiram na semana passada”, disse Philippe, um paciente que não quis dar seu nome verdadeiro.

“Não podemos sair. Ouvimos as explosões e os tiros. Então, devemos ter coragem e ficar aqui, não podemos ir a lugar algum.”

Sem um primeiro-ministro e com um governo em completa desordem, o poder das gangues sobre a capital é quase absoluto.

Eles controlam mais de 80% de Porto Príncipe, e o líder de gangues mais conhecido do país, Jimmy “Barbecue” Cherizier, pediu novamente a renúncia do primeiro-ministro.

“Se Ariel Henry não renunciar e a comunidade internacional continuar a apoiá-lo”, disse ele na semana passada, antes do primeiro-ministro anunciar sua renúncia, “eles nos levarão diretamente a uma guerra civil que terminará em genocídio”.

Enquanto isso, a polícia, em menor número e desmoralizada, luta contra os saqueadores. A delegacia de polícia de Salomon em Porto Príncipe foi atacada e queimada. Do lado de fora, restam os veículos policiais carbonizados.

E mesmo diante do colapso total da lei e da ordem, as pessoas ainda precisam ganhar a vida.

Em um mercado próximo, vários vendedores ambulantes disseram à BBC que não tinham outra opção a não ser sair de suas casas, mesmo com homens armados vagando pelas ruas.

“Eu tenho três filhos, e sou tudo o que eles têm – eu sou a mãe e o pai deles”, disse Jocelyn, uma comerciante que também não quis dar seu nome verdadeiro.

“Então, sou obrigada a ir para a rua. Ontem, homens armados vieram aqui e roubaram todo o nosso dinheiro. Muitos vendedores perderam todo seu dinheiro. Mas não há como ficar em casa quando você tem três bocas para alimentar.”

“A ansiedade está me matando quando estou na rua”, disse uma mulher mais velha vendendo frutas. “Eu fico pensando ‘e se eu for morta a tiros? Quem vai cuidar dos meus filhos então?’ Não tenho família para me sustentar.”

A oeste, em um dos vizinhos mais próximos do Haiti, a Jamaica, os dignitários, diplomatas e chefes de estado do grupo regional Caricom se reuniram na segunda-feira para uma cúpula de emergência.

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O líder da gangue armada Jimmy ‘Barbecue’ Cherizier e seus homens são vistos em Porto Príncipe, em 5 de março de 2024

A instabilidade no Haiti é um problema para toda a comunidade caribenha e para Washington também. A ideia de uma nação de cerca de 11 milhões de pessoas sendo administrada por gangues é de enorme preocupação, especialmente pelo potencial impacto que pode ter na migração para fora do país em pleno ano eleitoral nos EUA.

O bloco Caricom deixou claro que Henry era visto como um obstáculo à estabilidade do Haiti — e que teria de renunciar para que a troca para um conselho de transição pudesse começar.

O governo Biden nos EUA inicialmente queria que Henry voltasse ao Haiti para supervisionar o processo de transição, mas a gravidade da violência no país mudou a opinião de Washington nos últimos dias.

Um plano apoiado pela ONU para uma força de reação rápida liderada pelo Quênia para enfrentar as gangues ainda está longe de se tornar uma realidade.

Esses presos agora estão de volta às ruas e dando apoio a suas gangues.

As portas das celas estão abertas, o lugar está praticamente abandonado e o chão está manchado de sangue após homens armados dominarem os guardas.

Com um primeiro-ministro que renunciou após crescente pressão, gangues violentas no controle da capital e cadáveres se acumulando nas ruas: o Haiti é atualmente uma nação tão próxima de um estado fracassado quanto é possível.

Com a colaboração de Jeremy Dupin