- Author, James Waterhouse
- Role, Correspondente da BBC News em Kiev
Quando foi nomeado para o cargo este mês, o novo chefe das Forças Armadas da Ucrânia, general Oleksandr Syrskyi, disse que “preferia a retirada do que sacrificar vidas”, e foi isso que ele fez nesta cidade no leste do país.
Embora os russos tenham sofrido enormes perdas, quatro meses de ataques implacáveis deixaram as tropas ucranianas em menor número, desarmadas e sem munições.
Essa foi a maior vitória de Moscou desde a fracassada contra-ofensiva da Ucrânia no ano passado.
Avdiivka foi brevemente ocupada pela Rússia em 2014, antes de ser retomada pela Ucrânia.
O que a queda de Avdiivka para os russos significa para o conflito em geral?
Guerra em mudanças
Agora que o conflito prolongado está se tornando uma guerra de desgaste, a diferença entre o tamanho da Ucrânia e da Rússia está tendo um impacto na guerra.
A população da Rússia, de 144 milhões, é mais de quatro vezes maior que a da Ucrânia.
Apesar de ter perdido milhares de soldados no processo, Moscou está fazendo valer o seu tamanho, reabastecendo suas tropas quase imediatamente.
As forças ucranianas também sofreram perdas, embora não na mesma extensão.
Mas como também acontece com outros assentamentos ucranianos na linha de frente, a Rússia assumiu o controle de uma cidade quase completamente destruída.
A 3ª Brigada de Assalto Ucraniana, posicionada lá, disse estar sendo atacada pela infantaria de todas as direções.
A Rússia concentrou os seus soldados mais bem treinados na área e acredita-se que esteja lançando até 60 bombas por dia contra posições ucranianas.
A última vez que os russos tomaram uma cidade ucraniana, Bakhmut, o general Syrskyi foi criticado. Ele foi acusado de buscar uma vitória simbólica à custa de baixas desnecessárias.
Essa experiência parece ter gerado uma mudança de postura.
Médio prazo
Este avanço russo não ocorreu da noite para o dia. Desde outubro passado, Moscou lançou onda após onda de ataques contra Avdiivka.
A partir das suas altas posições e das defesas reforçadas, os ucranianos conseguiram deter os russos com ataques direcionados, deixando a paisagem do Donbass repleta de corpos russos e veículos blindados destruídos.
Parece agora que as tropas russas penetraram nas defesas que tinham sido reforçadas ao longo dos dez anos desde o início da campanha de Moscou na região.
Para frustração de Kiev, a Ucrânia não conseguiu romper as linhas russas em outros locais, que foram construídas em uma questão de meses.
“A Rússia não pode atingir objetivos estratégicos, apenas objetivos tácticos”, afirma o major Rodion Kudryashov, vice-comandante ucraniano da 3ª Brigada de Assalto.
Ele afirma que suas tropas estão em menor número — em até sete para um. Em entrevista por telefone, ele me disse: “É como lutar contra dois exércitos”.
Ele está confiante de que os russos não avançarão ainda mais em direção a cidades como Pokrovsk e Kostantinovka, mas isso está longe de ser garantido.
Mas isso alivia a pressão sobre a cidade de Donetsk, que fica 15 quilômetros mais a leste e que a Rússia ocupa desde 2014.
No longo prazo
A Ucrânia já foi forçada a recuar desta forma em outras ocasiões, especialmente no verão de 2022.
Unidades russas grandes e bem equipadas cercaram cidades como Lisichansk e Severodonetsk. Os ucranianos pouco puderam fazer para contê-los.
No entanto, a chegada de armas ocidentais e uma mudança na táticas alterou os eventos do conflito no final desse ano, quando as tropas ucranianas libertaram áreas nas regiões de Kherson e Kharkiv.
Mas agora, esta é uma guerra diferente.
A política global está tendo um impacto mais significativo no campo de batalha.
A ajuda ocidental intermitente contribuiu diretamente para esta provável retirada ucraniana em Avdiivka.
Os Estados Unidos são o país que mais fornece armas à Ucrânia. Mas um pacote de US$ 95 bilhões de ajuda à Ucrânia está parado em Washington, e outros aliados não estão conseguindo preencher a lacuna deixada pelos EUA.
Isso significa que os ucranianos precisam racionar munições e gerir o moral baixo.
E Avdiivka pode não ser a única retirada que Kiev está considerando.
O presidente russo, Vladimir Putin, ainda quer invadir toda a Ucrânia — e ainda é possível que ele consiga tomá-la.
Essa perspectiva poderia restaurar a unidade ocidental contra a Rússia. Ou o contrário: aumentar o ceticismo de que a Ucrânia nunca seria capaz de vencer esta guerra, apesar da defesa extraordinária que implantou em Avdiivka e em outros locais.
Fonte: BBC
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