- Author, Matt McGrath
- Role, Correspondente de meio ambiente da BBC News
Uma nova maneira de capturar dióxido de carbono da atmosfera e armazená-lo no mar foi apresentada por cientistas.
Os autores da proposta, publicada na revista científica Science Advances, dizem que a nova abordagem captura o CO2 da atmosfera de forma até três vezes mais eficiente do que os métodos atuais.
O dióxido de carbono, que contribui para o aquecimento global, pode ser transformado em bicarbonato de sódio e armazenado de maneira segura e barata na água do mar.
O novo método pode acelerar a implantação da tecnologia de remoção de carbono, segundo especialistas.
Enquanto o mundo se esforçava para limitar e reduzir as emissões de dióxido de carbono nas últimas décadas, várias empresas se concentraram no desenvolvimento de tecnologias para retirar CO2 da atmosfera.
A Climeworks, na Suíça, talvez seja a mais conhecida. Nos últimos dez anos, a companhia desenvolveu máquinas para absorver o ar da atmosfera que filtram e retêm as moléculas de dióxido de carbono.
Em uma usina na Islândia, o CO2 capturado é injetado nas profundezas do subsolo, onde é permanentemente transformado em rocha.
A empresa começou recentemente a vender um serviço de remoção de carbono certificado para grandes clientes corporativos, incluindo Microsoft, Spotify e Stripe.
Mas o grande desafio para a maioria das abordagens atuais de captura direta do ar é o custo.
O CO2, embora seja um poderoso agente do aquecimento global, está relativamente diluído na atmosfera em cerca de 400 partes por milhão (ppm).
São necessárias então máquinas enormes que requerem grandes quantidades de energia para absorver e descarregar o CO2.
Essa nova abordagem, que utiliza resinas e outras substâncias químicas já disponíveis, promete uma eficiência muito maior e um menor custo, segundo os cientistas envolvidos.
A equipe de pesquisa recorreu a uma abordagem usada para aplicação na água e “ajustou” os materiais existentes para remover CO2 da atmosfera.
Nos testes, o novo material de absorção híbrido foi capaz de retirar até três vezes mais CO2 do que as substâncias existentes.
“Que eu saiba, não há material de absorção que, mesmo a 100.000 ppm, mostre a capacidade que obtivemos na captura direta de ar de 400 ppm”, afirmou o principal autor do estudo, Arup Sengupta, que é professor da Universidade de Lehigh, nos EUA.
“Essa capacidade simples de capturar CO2 em alta quantidade em um pequeno volume de material é um aspecto único do nosso trabalho.”
O desenvolvimento, que está em estágio inicial, foi bem recebido por outros representantes do setor.
“Fico feliz em ver este artigo publicado, é muito emocionante e tem uma boa chance de transformar os esforços de captura de CO2”, disse a professora Catherine Peters, da Universidade de Princeton, nos EUA, especialista em engenharia geológica, que não estava envolvida no projeto de pesquisa.
“O que é inteligente nisso é que o ponto de partida foi uma tecnologia projetada anteriormente para uso na água. Esse avanço aplica essa tecnologia à fase gasosa — uma ideia nova.”
“O desempenho demonstrado para a captura de CO2 é promissor.”
Um dos grandes desafios na captura de CO2 é o que fazer com o gás retido.
Armazená-lo sob o solo ou mar nos antigos poços de petróleo é uma abordagem amplamente utilizada. Mas o novo artigo sugere que, com o acréscimo de algumas substâncias químicas, o CO2 capturado pode ser transformado em bicarbonato de sódio e armazenado de maneira simples e segura na água do mar.
Sengupta contou que quer criar uma empresa spin-off para desenvolver ainda mais a tecnologia.
Ele acredita que a remoção de CO2 dessa maneira será não só fundamental para limitar o aumento das temperaturas globais, como também poderá ser diretamente empoderadora para os países em desenvolvimento.
“Temos que levá-la a lugares como Bangladesh, Barbados ou Maldivas, eles também têm um papel a desempenhar, não podem ser apenas espectadores que continuam sofrendo.”
Alguns cientistas são relutantes em colocar muita ênfase em tecnologias novas e emergentes, como a captura direta do ar, porque temem que possam diluir os esforços de redução das emissões de carbono por parte de governos e indivíduos.
Mas com os limites de temperatura estabelecidos pelo acordo climático de Paris ameaçados pelas crescentes emissões, muitos outros sentem que a rápida implantação da captura direta do ar, além da redução drástica no carbono, é a melhor chance de evitar mudanças climáticas perigosas.
“Se tornou ainda mais importante agora que definitivamente passamos do ponto, em que temos que recuperar o carbono do meio ambiente”, afirmou o professor Klaus Lackner, pioneiro no campo da remoção do CO2.
“A captura direta do ar terá que ficar mais barata para ser uma contribuição útil. Estou otimista de que se possa fazer isso.”
Sengupta compartilha desse otimismo, acreditando que a nova abordagem pode remover o CO2 da atmosfera por menos de US$ 100 por tonelada.
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