• Veronica Smink
  • Da BBC News Mundo em Buenos Aires

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Justiça acusa escola de ter prostituído alguns de seus alunos

O prédio de dez andares no bairro residencial de Villa Crespo, na região norte de Buenos Aires, não chamava muita atenção dos moradores. Ali, funcionou por 30 anos a Escola de Yoga de Buenos Aires (EYBA).

Muitos acreditavam que o edifício era simplesmente uma organização da “New Age”, que prometia curar as pessoas espiritualmente.

Mas, de acordo com a Justiça argentina, o que realmente funcionava naquele prédio era um perigoso esquema de pirâmide.

Por trás da fachada de “grupo espiritual”, a escola atraia “alunos” — incluindo vários moradores dos Estados Unidos — para explorá-los financeiramente e, no caso de algumas mulheres, para prostituí-las.

O objetivo era obter dinheiro e favores.

Os donos da escola não se pronunciaram.

Em 12 de agosto, membros do Departamento de Tráfico de Pessoas da Superintendência de Investigações da Polícia Federal argentina invadiram o prédio e cerca de 50 outros locais em busca de 20 pessoas acusadas de liderar a organização criminosa.

Ao todo, 20 suspeitos foram presos. Também foi pedida a prisão de outras quatro pessoas que estariam nos Estados Unidos.

O juiz federal Ariel Lijo, responsável pelo caso, acusou os detidos de crimes de tráfico de pessoas para efeitos de redução à servidão (agravado por coação, furto qualificado, lavagem de dinheiro, associação ilícita, exercício ilegal de medicina, venda irregular de medicamentos e tráfico de influência).

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Líder do grupo, Juan Percowicz, é um contador de 84 anos que já havia sido acusado dos mesmos crimes há quase três décadas

Um dos presos era Juan Percowicz, um contador de 84 anos que é considerado o líder do grupo.

Percowicz já havia sido acusado dos mesmos crimes em 1993, mas o caso não avançou. Alguns policiais disseram acreditar que a ligação de Percowicz com autoridades o protegeu de ser condenado na época.

Além de prender os acusados, as autoridades fizeram buscas em 37 propriedades, apreenderam 13 carros e mais de um milhão de dólares (cerca de R$ 5,1 milhões). Os bens do grupo também foram congelados.

Como funcionava o esquema

Segundo a investigação, a Escola de Yoga de Buenos Aires faz parte de uma organização maior, a BA Group, com sede na capital argentina.

Ela recrutava alunos em três cidades americanas: Nova York, Las Vegas e Chicago.

O caso lista “179 alunos, distribuídos em suas diversas localidades”.

A escola de ioga dizia ser “uma organização espiritual que ajuda a curar vícios e doenças, incluindo o HIV.”

Percowicz é o líder espiritual do grupo. Seus alunos o chamam de “O Professor” ou “Anjo”, e ele ocupa o posto mais alto da pirâmide: o sétimo.

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Parte do dinheiro e bens apreendidos durante as batidas

Abaixo dele havia toda uma hierarquia de poder.

Existiam os “Apóstolos”, no nível 6, e abaixo deles os “Gênios”. Os “Estudantes” formam o nível 4. Em 3, 2 e 1 havia o que o grupo chamava de “Humanos Comuns”.

Como o grupo era financiado

Os investigadores acreditam que, por trás desse esquema de pirâmide, existia uma organização criminosa que lucrava às custas de seus seguidores.

A escola teria obtido U$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) através de vários canais.

Um deles era conhecido como “gueixa VIP”.

Segundo a investigação, esse canal era uma das principais fontes de financiamento do grupo. Ele consistia na exploração sexual de alguns dos “alunos” da escola de ioga.

Algumas mulheres eram obrigadas a “ter encontros sexuais com pessoas de alto poder econômico para arrecadar dinheiro e obter proteção e/ou influência”.

O objetivo era atrair empresários ou pessoas de poder para “obter grandes somas de dinheiro para a organização”.

Outro canal era ligado a supostos tratamentos de saúde.

A escola operava uma clínica de “cura” para várias doenças, fornecendo medicamentos que prometiam “curar vícios”, por exemplo.

Muitos pacientes foram recrutados nos Estados Unidos e enviados a Buenos Aires para realizar tratamentos desse tipo.

Havia também o “cerimonial”, outro canal de financiamento.

Esse termo, na verdade, era uma mensalidade de US$ 200 (R$ 1.035) que os “alunos” tinham que pagar para fazer parte da organização.

As autoridades acreditam que alguns desembolsavam quantias muito maiores, chegando até US$ 10 mil (R$ 51,7 mil).

O grupo também tinha muitas propriedades.

Quando eram cooptados pela quadrilha, os “alunos” eram obrigados a colocar seus bens no nome da organização. A investigação encontrou 186 títulos de propriedades pertencentes à escola.

De acordo com a agência de notícias estatal argentina Télam, os acusados se recusaram a testemunhar à polícia.

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