Crédito, Universidade de Chicago

Legenda da foto, O economista e cientista político britânico James A. Robinson foi um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2024

  • Author, Cecilia Barría
  • Role, BBC News Mundo

O economista James A. Robinson, que ganhou na segunda-feira (14/10) o Prêmio Nobel de Economia, ao lado de Daron Acemoglu e Simon Johnson, disse que não esperava por isso. “Estou um pouco em choque”, afirmou.

Robinson e seus colegas foram reconhecidos por seus estudos empíricos e teóricos para entender as disparidades na prosperidade entre as nações e sua análise da desigualdade.

Professor de estudos de conflitos globais e diretor do Instituto Pearson para o Estudo e Resolução de Conflitos Globais da Universidade de Chicago, nos EUA, ele se destacou por sua influente pesquisa sobre a relação entre o poder político, as instituições e a prosperidade.

O economista de 64 anos desenvolveu um interesse particular pelo estudo da África Subsaariana e da América Latina.

Isso o levou a ministrar cursos na Universidade dos Andes, em Bogotá, entre 1994 e 2022, e a realizar trabalhos de campo em países como Bolívia, Colômbia e Haiti, entre muitos outros.

Em parceria com Daron Acemoglu, Robinson publicou livros aclamados, como Origens Econômicas da Ditadura e da Democracia, Por que as nações fracassam: As origens do poder, da prosperidade e da pobreza e O corredor estreito: Estados, sociedades e o destino da liberdade.

Robinson conversou com a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, sobre a América Latina e os desafios que a região enfrenta.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A Fundação Nobel da Suécia entregou o prêmio a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson

BBC News Mundo – Parabéns pelo prêmio. Você passou três décadas pesquisando o tema da desigualdade na esfera econômica, mas também social e política. Qual considera a principal contribuição da sua pesquisa?

James A. Robinson – A maior parte do nosso trabalho tem se concentrado em tentar entender a desigualdade, tentar entender por que o mundo está dividido entre países que são prósperos e outros que são pobres.

Nos perguntamos como surgiu historicamente esta diferença, e como se manteve apesar das enormes consequências para o bem-estar humano.

Esse tem sido o foco principal da nossa pesquisa nos últimos 30 anos.

Especificamente, tentamos entender como as instituições estabelecem as regras que influenciam a prosperidade e a pobreza em diferentes sociedades.

BBC News Mundo – E, nas últimas décadas, a desigualdade melhorou? Houve progresso ou ainda estamos estagnados?

Robinson – Observamos grandes melhorias nos níveis de pobreza em algumas partes do mundo, como a China, mas isso não aconteceu em outras regiões, como a África Subsaariana e a América Latina.

E em países como os Estados Unidos, vemos ameaças à inclusão social e à prosperidade.

Ainda há enormes desafios para a criação de sociedades mais inclusivas, prósperas e democráticas no mundo.

Crédito, Universidade de Chicago

Legenda da foto, Robinson realizou pesquisas na América Latina, em países como Colômbia, Chile e Bolívia

BBC News Mundo – Você mencionou a América Latina. Quais são os principais desafios que a região enfrenta atualmente?

Robinson – Trabalhei muito na América Latina, em países como Colômbia, Chile e Bolívia.

Me parece bastante oportuno que o prêmio seja concedido nestes dias em que se recorda a chegada de Cristóvão Colombo e seu encontro com os povos indígenas latino-americanos.

A nossa pesquisa mostra que a pobreza e a desigualdade na América Latina estão profundamente enraizadas no colonialismo, na exploração dos povos indígenas e na existência da escravidão.

Essas desigualdades se autorreproduzem de várias maneiras atualmente.

A América Latina tem grandes problemas de inclusão, marginalização e exploração. É por isso que é pobre, e ainda está tentando encontrar uma saída.

Por outro lado, grande parte do nosso trabalho analisa como os Estados Unidos diferem historicamente desses padrões.

BBC News Mundo – Houve algum progresso na região em relação às questões de inclusão social?

Robinson – Houve progresso em países como o Chile nas últimas décadas, desde o colapso da ditadura. Podemos pensar na Costa Rica ou em países como a Bolívia no sentido da ascensão dos povos indígenas.

Mas outras partes da América Latina seguiram na direção oposta. Pense em países como a Venezuela ou a Argentina, que seguem padrões complicados, ou a Nicarágua e a consolidação de uma autocracia no país.

BBC News Mundo – Você vê uma grande ameaça à democracia na América Latina devido à profunda desigualdade que existe na região? Há pesquisas que mostram que as pessoas estão dispostas a sacrificar a democracia em favor de líderes considerados populistas.

Robinson – A democracia é um sistema relativamente novo na América Latina. Pense na América Central, que só conseguiu criar sistemas mais democráticos a partir da década de 1990.

Um dos problemas é que foram feitas muitas promessas às pessoas na América Latina sobre a democracia, prometeram a elas que seus problemas acabariam e, obviamente, isso não era verdade.

A democracia tem sido decepcionante na América Latina, as pessoas se desesperam e buscam outras soluções.

É que leva tempo para criar instituições democráticas que trabalhem para mudar a vida das pessoas.

Veja o que está acontecendo em El Salvador com o presidente Nayib Bukele. Há um motivo pelo qual as pessoas votam nele. Elas votam nele porque há muita insegurança.

Pense no presidente Andrés Manuel López Obrador, estes são tempos difíceis. Mas, por outro lado, pode-se dizer que existe uma verdadeira democracia no México.

Essa foi a decisão popular e devemos reconhecer que leva tempo para que a democracia funcione e mude a vida das pessoas.

A Colômbia provavelmente teve uma das suas eleições mais democráticas quando o presidente Gustavo Petro chegou ao poder, mas não é fácil, há muitos desafios pela frente.

Crédito, Universidade de Chicago

Legenda da foto, ‘Foram feitas muitas promessas às pessoas na América Latina sobre a democracia’, diz Robinson

BBC News Mundo – Há mais de uma década, você publicou o aclamado livro Por que as nações fracassam. O que mudou nos últimos anos desde que vocês fizeram essa análise?

Robinson – Eu vejo o mundo da mesma maneira. No entanto, no prólogo do livro, falamos sobre a “Primavera Árabe” e seu potencial para criar mais inclusão no Oriente Médio.

Mas vimos que isso fracassou completamente. Este é um exemplo interessante de como é difícil mudar o mundo no sentido da criação de instituições mais inclusivas.

BBC News Mundo – Como você disse, é muito difícil construir um mundo mais inclusivo e reduzir a desigualdade. Qual o melhor caminho para avançar em direção a esse objetivo?

Robinson – Trata-se de construir instituições políticas e econômicas mais inclusivas. Este é o problema na América Latina, na África Subsaariana, nos Estados Unidos e em muitos outros lugares.

Ainda há muitos elementos do que chamamos de instituições extrativistas, em vez de instituições inclusivas.

Nos Estados Unidos, persistem os altos níveis de pobreza, um grande aumento na desigualdade e um declínio na mobilidade social.

Eu moro em Chicago, e você vê isso todos os dias. Portanto, trata-se de incluir as pessoas e dar a elas oportunidades na esfera política e econômica.

BBC News Mundo – Analisando os desafios que este século nos traz a nível global, o que vem pela frente?

Robinson – A desigualdade desafia tudo, desafia o contrato fundamental das sociedades. É muito difícil ter uma sociedade culturalmente democrática quando há níveis enormes de desigualdade.