- Author, Omar Hasan
- Role, BBC News Arabic
“Vocês ouvem os caças sobrevoando; estamos atacando o dia todo. Isso é tanto para preparar o terreno para sua possível entrada, quanto para continuar a arruinar o Hezbollah”, disse Herzi Halevi aos soldados na quarta-feira (25/9).
A recente escalada do conflito entre Israel e o Líbano faz com que muitos se lembrem da guerra de 2006, na qual um intenso bombardeio aéreo foi seguido por operações terrestres israelenses dentro do território libanês.
Após os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, o grupo militante Hezbollah intensificou seus ataques a Israel a partir do sul do Líbano, e seguiu-se um ano de escalada contínua de ambos os lados.
Mas, se Israel decidir invadir o Líbano, como seria esta invasão? Será que Israel tentaria permanecer e controlar o território?
Israel se prepara para incursão terrestre no Líbano
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu mais de uma vez um retorno seguro para cerca de 60 mil moradores que foram retirados de suas casas no norte do país devido à escalada de conflitos com o Hezbollah.
Na quarta-feira (25/9), ficou claro que Israel pretende entrar no Líbano de alguma forma, a fim de neutralizar a ameaça que o Hezbollah representa para esses moradores.
Herzi Halevi disse às tropas: “Hoje, vamos continuar, não vamos parar; vamos continuar atacando e atingindo eles em todos os lugares. O objetivo é muito claro — levar de volta com segurança os moradores do norte”.
Ele disse que o Exército está “preparando o processo de manobra, o que significa que suas botas militares, suas botas de manobra, vão entrar em território inimigo, vão entrar em vilarejos que o Hezbollah preparou como grandes bases militares”.
Antes disso, na segunda-feira (23/9), a recente escalada atingiu um estágio crítico, com mais de 550 pessoas mortas após uma intensa onda de ataques aéreos contra o que Israel disse serem alvos do Hezbollah no Líbano.
A autoridade de saúde local informou que dezenas de civis, incluindo mulheres, crianças e médicos, estavam entre os mortos.
Embora os ataques aéreos tenham continuado, muitos analistas estão prevendo que Israel também vai enviar forças terrestres para o Líbano em breve.
Como seria a operação israelense no Líbano?
Em guerras anteriores no Líbano, Israel seguiu diferentes métodos em suas operações terrestres.
Para entender os possíveis cenários, é importante relembrar as invasões passadas de Israel no Líbano, em 1982 e 2006.
Guerra de 1982: uma invasão terrestre em grande escala
Em 1982, as forças israelenses invadiram o Líbano para tentar impedir incursões e disparos palestinos na fronteira, acabar com a presença e a influência síria no Líbano e “ajudar a formar um governo mais amistoso no Líbano, que seria capaz de assinar um tratado de paz com Israel” — de acordo com o site das missões diplomáticas israelenses.
Naquele momento, os palestinos, liderados por Yasser Arafat e sua Organização para a Libertação da Palestina (OLP), não reconheciam Israel, e Israel não apoiava um Estado palestino.
A invasão foi de grandes proporções, envolvendo milhares de soldados e centenas de tanques e veículos blindados. Ela coincidiu com um intenso bombardeio aéreo, naval e de artilharia. Os israelenses penetraram em várias frentes e, em uma semana, chegaram aos arredores da capital libanesa, Beirute, cercando a cidade.
Como o mundo viu a invasão de 1982?
O líder da OLP, Yasser Arafat, e cerca de 2 mil soldados sírios que o apoiavam contra Israel foram forçados a deixar o Líbano.
Um correspondente da BBC escreveu na época: “Parece improvável que Arafat, que agora está indo para a Grécia de navio, encontre outro governo árabe disposto a acolhê-lo depois do efeito calamitoso de sua permanência no Líbano”.
Mas Israel foi amplamente condenado em todo o mundo, uma vez que, em setembro de 1982, centenas de palestinos foram massacrados por milícias cristãs em Beirute, enquanto as tropas israelenses não fizeram nada.
O episódio, que mais tarde ficou conhecido como Massacre de Sabra e Chatila, foi noticiado na época como uma vingança pelo assassinato do presidente eleito Bashir Gemayel quatro dias antes.
Guerra de 2006: uma incursão terrestre limitada de Israel no Líbano
A incursão terrestre em 2006 foi limitada e relativamente lenta em comparação à de 1982, e restrita a cidades e seus arredores a não mais do que alguns quilômetros dentro do Líbano.
O analista político israelense Yoav Stern disse à BBC, em 23 de setembro, que não achava que a próxima incursão terrestre seria semelhante à que aconteceu em 1982 — mas, sim, que seria uma incursão lenta, cautelosa e calculada.
Ele sugeriu que Israel poderia ocupar as cidades do sul do Líbano uma a uma, em vez de lançar uma invasão rápida e em grande escala. Seria semelhante ao que aconteceu em 2006, mas em uma profundidade maior dentro do território libanês, chegando até o Rio Litani. O Rio Litani é, há muito tempo, um limiar importante para ambos os lados que buscam o controle de áreas importantes do Líbano.
Stern baseia sua previsão na presença de longa data do Hezbollah nas cidades do sul do Líbano, o que impediria que Israel ocupasse estas cidades e as deixasse rapidamente.
O analista militar e ex-general Hisham Jaber argumenta que, em uma possível invasão de Israel ao sul do Líbano, as tropas israelenses não permaneceriam no local por um longo período.
“Israel vivenciou as consequências de tentar manter o terreno em uma invasão em 2006”, ele diz, acrescentando que qualquer possível invasão agora assumiria uma forma muito diferente.
Jaber espera que as operações terrestres israelenses no Líbano sejam limitadas a ataques pela fronteira com um escopo muito restrito. Isso inclui áreas limitadas, com cada ataque que Israel possa realizar não durando mais do que um dia.
Ele acredita que Israel vai dispensar a opção de uma invasão terrestre e, em vez disso, continuar a intensificar os ataques aéreos, amplificados por assassinatos e operações de segurança cibernética.
Onde poderia ser a invasão?
Jaber espera que as operações terrestres israelenses sejam restritas a “áreas muito limitadas em cidades libanesas na fronteira”, mas ele não descarta que Israel realize o que se assemelha a “operações de comando” em outras áreas do Líbano.
Stern, por outro lado, acredita que o escopo da possível operação terrestre inclua o sul do Líbano, ou seja, “a área entre a fronteira libanesa-israelense e o Rio Litani”.
Ele não descarta que considerações táticas poderiam forçar Israel a se infiltrar em algumas áreas ao norte do Rio Litani, e depois se retirar delas, ou a realizar pousos em áreas livres de combate. Ele sugere que Israel poderia se infiltrar em áreas no interior do Líbano, com o objetivo de criar uma vantagem de negociação no futuro.
A incursão na guerra de 1982 concentrou-se em três eixos principais — dois deles partiam de uma área conhecida como Dedo da Galileia em direção ao Vale do Bekaa, no leste do Líbano, e às regiões montanhosas no centro, enquanto o terceiro eixo era ao longo da estrada costeira do sul até Beirute.
A invasão também incluiu a realização de um desembarque naval de soldados de infantaria e veículos blindados ao norte da cidade de Sidon, no sul do país.
Quais seriam os objetivos da invasão?
O objetivo declarado da guerra de 1982 e de suas operações terrestres era retirar as cidades do norte de Israel do alcance efetivo dos foguetes e da artilharia dos combatentes palestinos no sul do Líbano, fazendo-os retroceder 40 km da fronteira libanesa-israelense.
Israel citou o objetivo adicional de destruir a infraestrutura da OLP, incluindo sua sede em Beirute, e expulsar as forças sírias do Líbano.
O ataque israelense em 1982 não se limitou ao sul do Líbano, mas incluiu grandes áreas no Vale do Bekaa, nas Montanhas de Chouf e em Beirute.
Hisham Jaber acredita que as penetrações terrestres de curto alcance — ou incursões limitadas — podem ter um efeito militar geral mínimo a longo prazo.
Stern, por outro lado, acredita que Israel terá como objetivo principal, ao promover uma possível incursão no sul do Líbano, fazer com que os combatentes do Hezbollah retrocedam para o norte do Rio Litani, por dois motivos principais:
“Para impedir o disparo de foguetes de curto alcance contra cidades israelenses, e para evitar a repetição de um ataque semelhante ao ataque de 7 de outubro no norte de Israel.”
Fonte: BBC
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