Pelo menos 45 pessoas foram mortas, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, enquanto outras centenas foram tratadas por queimaduras graves, fraturas e ferimentos por estilhaços.
Netanyahu disse que o ataque foi um “acidente trágico”, mas acrescentou: “Não pretendo acabar com a guerra antes de todos os objetivos terem sido alcançados”.
Ele disse que é vital que Israel tome “todas as precauções possíveis” para proteger os civis e insistiu que as Forças de Defesa de Israel (FDI) estão se esforçando “para não prejudicar aqueles que não estão envolvidos” no conflito.
O Conselho de Segurança da ONU realizará uma reunião de emergência nesta terça-feira (28/5), a pedido da Argélia, para discutir o ataque de Rafah.
Em comunicado divulgado na segunda-feira (27/5), o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o ataque “matou dezenas de civis inocentes que procuravam apenas abrigo neste conflito mortal”.
“Não há lugar seguro em Gaza. Este horror tem de acabar”, disse ele.
Organizações internacionais condenaram o ataque. A União Europeia pediu que Israel respeite uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça da semana passada para suspender os ataques em Rafah. O principal diplomata do bloco, Josep Borrell, classificou o ataque de domingo como “horrível”.
Apesar da decisão do Tribunal, Israel prometeu continuar com a invasão de Rafah, com as autoridades insistindo que a decisão deixou espaço para o ataque cumprir o direito internacional.
O alto comissário dos direitos humanos da ONU, Volker Turk, disse que o ataque sugeria que não houve “nenhuma mudança aparente nos métodos e meios de guerra utilizados por Israel que já levaram a tantas mortes de civis”.
Israel lançou o ataque de domingo em Rafah, horas depois do primeiro ataque com mísseis do Hamas a Tel Aviv em vários meses.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram que o ataque a Rafah matou dois comandantes do Hamas e que estava investigando as mortes de civis na área.
Mas o Crescente Vermelho da Palestina disse que o ataque aéreo teve como alvo tendas que abrigavam pessoas deslocadas perto de uma instalação da ONU em Tal al-Sultan, cerca de 2 quilômetros a noroeste do centro de Rafah.
Vídeos da cena na área de Tal al-Sultan na noite de domingo mostraram uma grande explosão e incêndios. Imagens mostraram uma série de estruturas em chamas ao lado de uma faixa que dizia “Acampamento de Paz do Kuwait 1” e socorristas carregando vários corpos.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse na segunda-feira que uma de suas instalações recebeu corpos de pelo menos 28 pessoas mortas no ataque, incluindo mulheres e crianças.
A MSF afirmou ter tratado outros 180 palestinos feridos, a maioria com graves ferimentos por estilhaços, fraturas, lesões traumáticas e queimaduras.
A MSF rejeitou a alegação de Israel de que o ataque teria sido preciso, afirmando que o “ataque a um campo povoado na chamada ‘zona segura’ em Rafah mostra o total desrespeito pelas vidas dos civis em Gaza”.
Os EUA disseram que as imagens do ataque são “dolorosas”, mas insistiram que Israel tem o direito de se defender.
“Israel tem o direito de ir atrás do Hamas, e entendemos que este ataque matou dois importantes terroristas do Hamas que são responsáveis por ataques contra civis israelenses”, disse um porta-voz de segurança nacional da Casa Branca.
Mas o porta-voz também disse que “Israel deve tomar todas as precauções possíveis para proteger os civis”.
Importância estratégica
Rafah é considerada por Israel como a última fronteira da guerra em Gaza contra o Hamas.
A cidade que fica no território mais ao sul da Faixa de Gaza tem sido durante décadas um ponto estratégico por servir como fronteira entre Gaza e o Egito. Rafah é o ponto de entrada para assistência humanitária em Gaza e a porta de saída para doentes, feridos e viajantes.
Israel considera o local “o último bastião do Hamas” — e seu governo prometeu destrui-lo.
De acordo com a inteligência israelense, o Hamas está há anos construindo uma rede de túneis e esconderijos, a partir dos quais realiza os seus ataques contra Israel.
É por isso que Rafah virou alvo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que em maio lançou o seu exército em uma operação militar como parte da sua tentativa de “destruir” o Hamas.
Mas Rafah não é apenas um dos pontos de atenção dos militares israelenses.
É também o refúgio de dezenas de milhares de palestinos que para lá fogem da guerra que acontece em outras partes de Gaza.
Refúgio
Localizada na parte sul da Faixa e com uma área de cerca de 55 quilômetros quadrados, a cidade de Rafah era até maio o único acesso a Gaza não controlado por Israel.
Após o início da atual guerra — desencadeada pelo ataque surpresa lançado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro, no qual 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 foram feitas reféns, segundo as autoridades israelenses — Rafah virou o último ponto de refúgio para mais de um milhão de palestinos que foram deslocados das suas cidades atacadas por Israel.
Como resultado da chegada massiva de pessoas, a população de Rafah aumentou de cerca de 280 mil habitantes para cerca de 1,4 milhão. O chefe do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, diz que Rafah é “o maior campo de pessoas deslocadas do mundo”.
O impacto sobre os refugiados palestinos e o medo de uma catástrofe humanitária levaram os Estados Unidos a pedirem a Netanyahu que evitasse lançar uma ofensiva na área sem primeiro adotar medidas de proteção para os civis.
No entanto, o primeiro-ministro optou por levar adiante o seu plano, mesmo depois que o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que Israel deveria interromper as suas operações em Rafah.
Os acontecimentos em Rafah têm uma importância que vai muito além de uma operação local.
Último bastião do Hamas
Israel afirma que milhares de combatentes do Hamas, bem como alguns dos seus líderes, estão em Rafah. No início da sua ofensiva em maio, havia cerca de 4 batalhões do Hamas ali.
O Hamas e o seu esconderijo em Rafah são vistos como uma ameaça para os israelenses que vivem em cidades e assentamentos no sul do deserto de Negev.
Estima-se que 200 mil israelenses tiveram de abandonar as suas casas após o início da guerra com o Hamas, se mudando para áreas mais seguras, longe das zonas de fronteira, onde poderiam ser alvos do Hamas ou do seu aliado no Líbano, a milícia xiita Hezbollah.
Muitas destas pessoas já tinham vivido durante anos sob a ameaça de foguetes que eram lançados ocasionalmente de Gaza contra Israel — uma situação que o governo de Netanyahu pareceu tolerar durante algum tempo, até responder com um breve conflito que deu origem a um novo cessar-fogo.
A inteligência de Israel acredita que alguns dos foguetes que o Hamas dispara contra o país estejam armazenados em depósitos escondidos na sua rede de túneis em Rafah, que se tornou um refúgio para alguns dos seus principais líderes.
No domingo (26/5), um ataque israelense ao campo de refugiados de Tal al Sultan matou dois líderes do Hamas — Yassin Rabia e Khaled Nagar — responsáveis pelas atividades do grupo na Cisjordânia ocupada, ação que custou a vida a dezenas de civis palestinos.
Para Frank Gardner, repórter de segurança da BBC, não está claro o que Israel ganharia com sua operação em Rafah.
“Os últimos meses do conflito arrasador em Gaza não conseguiram provocar a tão esperada libertação dos reféns. A última vez que um número significativo de reféns saiu vivo de Gaza foi em novembro e foi resultado de uma troca cuidadosamente negociada por Catar e Egito”, diz Gardner.
“Os militares israelenses avaliam que quatro batalhões do Hamas sobreviveram acima e abaixo do solo em Rafah e querem terminar o trabalho como pretendido inicialmente. Mas mesmo que consigam destruir estas unidades, as hipóteses de os reféns escaparem ilesos são mínimas.”
Política e alianças em jogo
Politicamente, o que acontece em Rafah pode afetar negociações de meses com o Hamas, mediadas pelo Catar e pelo Egito, para alcançar um cessar-fogo, bem como a libertação de alguns dos israelenses sequestrados e dos palestinos detidos em Israel.
A evolução da situação em Rafah também poderá ter consequências no que acontece no sempre delicado equilíbrio do Oriente Médio como um todo, onde a diplomacia americana vem tentando promover há algum tempo uma normalização das relações de Israel com a Arábia Saudita e outros países árabes.
Se a campanha militar lançada após os ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro representou um obstáculo difícil de ultrapassar, a escalada da operação em Rafah prejudicou ainda mais a relação entre Israel e os seus vizinhos árabes.
A Arábia Saudita disse desde o início das operações em Rafah que espera que Israel concorde em acabar com a guerra com o Hamas e se comprometa a seguir um caminho que leve à criação de um Estado palestino.
A normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita é vista como um avanço importante não só devido às suas implicações bilaterais, mas porque ambos os países — tal como os Estados Unidos — veem com desconfiança a política do Irã no Oriente Médio e o seu plano nuclear.
Outra relação tensa pela ofensiva de Rafah é a entre Israel e o Egito, que foi o primeiro Estado árabe a reconhecer Israel.
Desde o início do conflito, o governo de Abdel Fattah al-Sisi tem estado preocupado com a possibilidade de a violência em Gaza levar os combatentes e líderes do Hamas para o Sinai.
Cairo não vê com bons olhos os membros do Hamas, uma organização que se originou como um ramo da Irmandade Muçulmana Egípcia e que considera uma ameaça à sua própria segurança.
O receio da chegada do Hamas a partir de Rafah é uma das razões que o Cairo alega para não abrir a fronteira com Gaza e permitir a entrada de refugiados palestinos em território egípcio.
Além da política, existe o impacto da ofensiva israelense na situação humanitária em Rafah.
Nos últimos meses, têm surgido preocupações na comunidade internacional com o perigo de as centenas de milhares de palestinos que se refugiaram em Rafah serem empurrados para a fronteira com o Egito.
O grupo conhecido como Jihad Islâmica também opera em Rafah, aliado do Hamas no seu ódio a Israel e que também lançou foguetes contra o território israelense em diversas ocasiões.
Fonte: BBC
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