O criador de Dragon Ball, um dos quadrinhos japoneses mais influentes e mais vendidos de todos os tempos, morreu aos 68 anos.
Akira Toriyama sofreu um hematoma subdural agudo, um tipo de sangramento próximo ao cérebro, informou seu estúdio nesta sexta-feira (8/3).
Toriyama tinha obras incompletas no momento da sua morte. Ele morreu em 1º de março e apenas sua família e poucos amigos compareceram ao seu funeral, de acordo com um comunicado do site Dragon Ball.
Dragon Ball, a história que muitos especialistas consideram responsável pela popularização do mangá (equivalente japonês aos quadrinhos) no Ocidente, é extremamente popular em todo o mundo e a série de quadrinhos também gerou versões em desenhos animados e filmes.
A série de quadrinhos Dragon Ball estreou em 1984. Ela segue um menino chamado Son Goku em sua busca para coletar bolas de dragão mágicas para defender a Terra contra humanoides alienígenas chamados Saiyans.
O mangá de Toriyama deu origem ao anime (série animada de televisão japonesa) de mesmo nome, que marcou especialmente a geração que cresceu nos anos 1990 e 2000 no Brasil e faz sucesso até hoje.
“Esperamos que o mundo único de criação de Akira Toriyama continue a ser amado por todos por muito tempo”, disse o estúdio.
A seguir, entenda as origens e inspirações de Akira Toriyama e Dragon Ball.
O começo
Akira Toiriyama nasceu em 1955, na pequena cidade de Kiyosu, na província de Aichi, no leste do Japão.
Como o próprio Toriyama explicou, desde a escola ele se interessava por mangás, e foi entre seus colegas de classe que ele teve seu primeiro público.
“Sempre gostei de desenhar”, disse ele ao site Stormpages há alguns anos. “Quando eu era pequeno, não tínhamos tantas formas de entretenimento como hoje, então todos nós desenhávamos. Na escola primária, todos desenhávamos mangás ou personagens animados e os mostrávamos uns aos outros.”
Foi nessa época que Toriyama também começou a expandir seu horizonte de influências.
O criador de Dragon Ball se declarou um grande fã de filmes de animação da Disney em sua infância (ele tinha uma fixação particular com 101 Dálmatas), filmes de velho-oeste (que na época de Toriyama estavam atingindo sua expressão máxima com Sergio Leone), ficção científica (Toriyama fez muitas referências a Star Wars em suas histórias) e ação (de Bruce Lee e Jackie Chan a Aliens, de James Cameron).
Sua primeira oportunidade de escrever um mangá profissionalmente viria em 1977, depois que um dos editores da Shueisha – a editora de mangá mais importante do Japão – viu seu trabalho durante um concurso anual da revista Monthly Shonen Jump para encontrar novos talentos.
Contratado pela editora, o jovem Akira teve histórias menores que passaram desapercebidas por alguns anos.
Dr. Slump e Dragon Ball
O primeiro grande sucesso veio Akira Toriyama no mundo do mangá veio em 1980 com Dr. Slump. O mangá contava a história de uma garota androide tão bem feita que todos achavam que ela era uma garota de verdade com superpoderes.
A história foi o laboratório perfeito para o jovem autor começar a explorar elementos que mais tarde seriam fundamentais para a criação do mundo de Dragon Ball. Em Dr. Slump apareceram os primeiros animais antropomórficos, androides e mundos futuristas que mais tarde dariam a Dragon Ball seu estilo único.
Para seu próximo projeto, Toriyama diz que contou com a ajuda de sua esposa, que tinha um grande conhecimento dos contos tradicionais chineses. Um em particular, O Rei Macaco, chamava sua atenção.
Dragon Ball apareceu pela primeira vez nas páginas da revista Shounen Weekly em 1985. Contava a história de Son Goku, um garotinho com um rabo de macaco que se junta a seus amigos em uma jornada para encontrar as ‘esferas do dragão’. Ele também adaptou os poderes do rei macaco ao seu personagem principal, incluindo a capacidade de “surfar” nas nuvens.
O mangá original se inspirou em muitas fontes, incluindo a comédia de Jackie Chan de 1978, O Grande Mestre dos Lutadores, na qual um jovem mimado aprende a complicada forma de arte marcial do “macaco bêbado” de seu tio.
O impacto de Dragon Ball
Quando Toriyama parou de escrever o mangá de Dragon Ball Z, a sequência de Dragon Ball muito mais bem-sucedida, em 1996, ele havia escrito quase 9 mil páginas sobre as aventuras de Goku e seus amigos.
A saga original foi adaptada para uma bem sucedida série de televisão de 156 episódios, que foi vista em todo o mundo graças à participação do estúdio Toei Animation no projeto. O sucesso abriu as portas para o plano muito mais ambicioso de adaptar Dragon Ball Z para a televisão: foram produzidos 291 episódios da sequência, que foram transmitidos em pelo menos 81 países.
Até agora, existem 24 filmes de Dragon Ball e quase 50 videogames baseados nos personagens que Toriyama criou.
Em 2001, ano em que Dragon Ball Z foi a série mais assistida do canal americano de desenhos animados Cartoon Network, a palavra “dragonball” foi topo da lista de termos mais pesquisados na internet, superando até Britney Spears.
Dragon Ball também se tornou a “porta de entrada” para o mangá e o anime para milhares de artistas, fãs e escritores ao redor do mundo.
Toriyama depois de Goku
Em 1996, depois de ter escrito milhares de páginas sobre as histórias de Son Goku, Toriyama decidiu passar para outros projetos mais curtos.
Ele publicou uma série de mangás curtos que incluíam o Cowa! (1998), Kajika (1999), Sand Land (2000) e Neko Majin (2000), e redesenhou algumas das capas de Dragon Ball Z para seu relançamento em meados dos anos 2000.
Mas em 2012 ele retornou ao universo de Dragon Ball ao se envolver na criação do filme de animação Dragon Ball Z: Batalha dos Deuses (2013) e do filme Dragon Ball Super: Super Herói (2022).
Toriyama dizia que não entendia porque sua saga foi tão bem-sucedida.
“Realmente não faz sentido para mim”, disse ele à revista Shounen Weekly em 2018. “Recentemente reli a série pela primeira vez em anos e mesmo que a saga de Freeza (um poderoso inimigo de Goku em Dragon Ball Z) tivesse suspense suficiente para atrair meu interesse, eu ainda me pergunto por que a história ficou tão popular.”
Fonte: BBC
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