O belo e o feio não são absolutos nem o contrário um do outro. São gradações do mesmo valor resultantes da apreciação humana, portanto qualificados pela relatividade no tempo e no espaço e a dependência de um suporte em que possam os sentidos percebê-los para cada pessoa avaliá-los. Não havendo valoração eles não existem porque são expressões da cultura, abstrações do espirito humano.
O belo, na arte, é finalista no intuito de acariciar, massagear a alma e os sentimentos daqueles a que se expõe. Com frequência somos carentes dele, as vezes o olhamos e não o vemos, parecemos cegos, porque ele é cheio de armadilhas, de artimanhas, de mistérios que precisam ser decifrados.
Mora nas curvas e sinuosidades, cheio de estilo como na Monalisa, em que sua presença é forte, mas temos que interpretá-lo, quase que adivinhá-lo embasados em conhecimentos pertinentes. Ele é encontrado também nas retas, misturado a tédio, sonolência, cansaço, como nas estradas no tempo em que se buscava a menor distância entre dois pontos geográficos. A engenharia construía longos percursos retilíneos de beleza impactante vistos à distância e extremamente monótonos, cansativos, quando haviam de ser percorridos, desconsiderando-se os valores utilidade e segurança.
A beleza é meio suicida quando esconde sua razão de ser: Tornar o mundo mais suave. O que seria dela se não fôssemos nós alimentando-lhe a vaidade? O belo e o feio residem nos observadores mais do que no algo visto, que pode ser artístico ou natural, assim, André Comte-Sponville, em sua obra A filosofia, editora Martins Fontes, 2005, página 107, assegura: “A universalidade do belo, efetivamente sempre discutível, é a das faculdades humanas, em seu jogo livre, e não a de uma objetividade exterior ou
transcendente. Existe belo na natureza, mas esse belo só o é para a humanidade”.
Vi um escorpião negro, medonho, brilhoso, ameaçador, enorme, asqueroso, na quietude inofensiva de uma foto ilustrando escrito meu no Blog do Andros, e concluí que o feio também pode ser bonito, produzir felicidade ao invés de desagrado. O belo das artes, exclusivo do obrar humano, não exclui e não supera o da natureza, produzido pelo Grande Arquiteto do Universo.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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