- Author, Will Grant
- Role, Da BBC News em Guayaquil
Com 36 anos, o presidente mais jovem da história do Equador está no cargo desde novembro, mas enfrenta agora a maior crise do período moderno do país.
Nos últimos dias, dois líderes de gangues fugiram da prisão, agentes penitenciários foram feitos reféns e explosivos foram detonados em várias cidades.
Falando exclusivamente à BBC durante a sua primeira visita a Guayaquil desde o início dos episódios de violência, o presidente reconheceu que é assustadora a tarefa que tem pela frente para pacificar o país.
“Não me candidatei pensando que seria fácil”, diz ele à beira-mar da cidade portuária em conflito.
“Não podemos continuar com este jogo que estes grupos terroristas estão a tentando estabelecer.”
Agora, insiste o presidente equatoriano, as mudanças estão em curso.
Noboa ordenou que os militares “neutralizassem” 22 grupos armados que ele redefiniu como “organizações terroristas”.
Agora, Washington oferece a sua ajuda. Uma delegação com agentes policiais, militares e diplomáticos dos EUA deverá chegar ao Equador nas próximas semanas.
Os seus críticos veem o intervencionismo dos EUA em jogo, mas o presidente Noboa enaltece a iniciativa.
“É encorajador ver a comunidade internacional realmente prestando atenção ao que está acontecendo aqui”, ele sorri. “Isso afeta o mundo inteiro: os narcoterroristas que operam aqui têm operações na Europa, nos EUA”.
“Precisamos resolver o problema pela raiz, e a raiz do problema está aqui.”
Restam algumas questões urgentes.
Em primeiro lugar, cerca de 180 agentes penitenciários ainda estão nas mãos de gangues criminosas em diversas prisões. As suas famílias estão cada vez mais desesperadas e têm realizado protestos na capital, Quito.
Dado que Noboa disse que a tomada de reféns é o “lado feio da guerra” e se recusa a negociar com os gangues, a BBC perguntou o que seu governo está fazendo para garantir a libertação deles.
“Não posso dar detalhes exatos sobre o que estamos fazendo”, diz ele, “mas estamos em constante comunicação com as forças armadas e a polícia.”
Outra questão urgente é o paradeiro do notório líder de uma gangue de traficantes, José Adolfo Macias, vulgo Fito.
A fuga da prisão do temido chefe da facção Choneros no início desta semana pareceu desencadear grande parte da violência subsequente.
O presidente Noboa admitiu que as suas forças ainda não sabem onde o líder da gangue está.
“Neste momento, estamos à procura dele. Temos algumas pistas que estamos seguindo com as forças armadas e com cooperação internacional.”
Seu governo afirma que pretende procurar o líder fugitivo — e Fabricio Colon Pico, chefe de uma gangue concorrente que também está foragido — até ter sucesso.
Porém, se há algo que esta semana revelou é que os problemas do Equador são profundos. As gangues, que se acredita operarem em conjunto com poderosos cartéis mexicanos, estão contrabandeando toneladas de cocaína dos portos do Equador, como Guayaquil, para os EUA e a Europa.
A detecção das drogas dentro dos contêineres é insuficiente e o presidente Noboa diz que quer reforçar o controle nos portos do país.
Porém, com os seus lucros consideráveis, as facções conseguiram corromper o sistema judicial, prisional e político.
O presidente equatoriano diz que quer implementar reformas profundas nos próximos anos. Seus críticos dizem que ele está tentando assumir uma tarefa quase intransponível, com relativamente pouca experiência em política de linha de frente.
“Acredito que podemos vencer”, ele rebate, “e não vou parar de lutar até que o consigamos”.
Membros da equipe presidencial nos mostram uma nova campanha turística feita para estimular os estrangeiros a visitarem as maravilhas naturais dos Andes.
No entanto, o mundo viu um lado mais feio do Equador nos últimos dias, à medida que o país mergulha cada vez mais no conflito armado e se distancia da estabilidade.
Uma nação que provavelmente caminha para se tornar um “narcoestado” falido.
O presidente Noboa refuta esse cenário, dizendo que está determinado para que o país não chegue a esse ponto.
“Estamos lutando todos os dias para que não se torne um narcoestado”.
Para conseguir isso, mesmo os seus mais ferrenhos apoiadores concordariam que ele tem um trabalho difícil pela frente.
Fonte: BBC
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