• Author, David Brown
  • Role, BBC News

A China vê Taiwan como uma província separatista que um dia voltará a estar sob o controle de Pequim.

No entanto, Taiwan se vê como um país independente, com sua própria Constituição e líderes democraticamente eleitos.

O presidente da China, Xi Jinping, diz que a “reunificação” com Taiwan “deve ser cumprida” — e não descarta o possível uso da força para conseguir isso.

Para a eleição legislativa e presidencial no fim de semana, a China quer enfraquecer o apoio ao partido do atual governo taiwanês, o Partido Progressista Democrático (PPD).

O possível sucessor da presidente Tsai Ing-wen, o atual vice-presidente William Lai, é considerado pela China um “divisionista” e defensor da independência formal de Taiwan.

Enquanto isso, Taiwan é uma peça importante para a política externa americana na região oeste do Pacífico.

Onde fica Taiwan?

Taiwan é uma ilha a cerca de 160 quilômetros da costa sudeste da China.

Ela fica na chamada “primeira cadeia de ilhas”, que inclui uma lista de territórios aliados dos EUA que são cruciais para a política externa americana.

Se a China assumir o controle de Taiwan, alguns especialistas ocidentais acreditam que ela projetaria seu poder na região oeste do Pacífico, ameaçando bases militares dos EUA em pontos distantes, como Guam e Havaí.

Mas a China insiste que suas intenções são puramente pacíficas.

Taiwan sempre foi separada da China?

Fontes históricas apontam que a ilha ficou sob controle total chinês pela primeira vez no século 17, quando a dinastia Qing passou a administrá-la.

Em 1895, eles entregaram a ilha ao Japão depois de perder a primeira guerra sino-japonesa.

A China tomou a ilha novamente em 1945, depois que o Japão perdeu a Segunda Guerra Mundial.

Mas uma guerra civil eclodiu na China continental entre as forças do governo nacionalista lideradas por Chiang Kai-shek e o Partido Comunista de Mao Tse-tung.

Os comunistas venceram em 1949 e assumiram o controle em Pequim.

Chiang Kai-shek e o que restou do partido nacionalista – conhecido como Kuomintang – fugiram para Taiwan, onde governaram pelas décadas seguintes.

A China cita essa parte da história para dizer que Taiwan é na sua origem uma Província chinesa.

Mas os taiwaneses citam a mesma história para argumentar que nunca fizeram parte do Estado chinês moderno, que foi formado após a revolução em 1911 – ou da República Popular da China, que foi estabelecida sob Mao em 1949.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Chiang Kai-shek e o Kuomintang fugiram para Taiwan

O Kuomintang tem sido um dos partidos políticos mais proeminentes de Taiwan desde então — governando a ilha por uma parte significativa de sua história.

Atualmente, apenas 13 países (além do Vaticano) reconhecem Taiwan como um país soberano.

A China exerce uma pressão diplomática considerável sobre outros países para que não reconheçam Taiwan ou façam qualquer coisa que implique reconhecimento.

Taiwan pode se defender?

A China poderia tentar fazer a “reunificação” por meios não militares, como o fortalecimento dos laços econômicos.

Em caso de confronto militar, as Forças Armadas da China superariam em muito às de Taiwan.

A China gasta mais do que qualquer outro país em defesa, tirando os EUA.

O país conta com uma enorme variedade de recursos, desde poder naval até tecnologia de mísseis, aeronaves e ataques cibernéticos.

Em um conflito aberto, alguns especialistas ocidentais preveem que Taiwan poderia, na melhor das hipóteses, tentar retardar um ataque chinês, impedir um desembarque em terra por forças anfíbias chinesas e realizar ataques de guerrilha enquanto espera por ajuda externa.

Essa ajuda pode vir dos EUA, que vendem armas para Taiwan.

A política de “ambiguidade estratégica” de Washington tem como objetivo não esclarecer sobre se ou como defenderiam Taiwan no caso de um ataque.

Diplomaticamente, os EUA aderem à política de “Uma Só China”, que reconhece apenas um governo chinês — em Pequim — e possuem laços formais com a China, e não com Taiwan.

Mas em várias ocasiões, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que, no caso de uma ofensiva chinesa, seu país defenderia Taiwan militarmente.

Em uma entrevista em abril de 2023 ao programa Fareed Zakaria GPS na CNN, o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, afirmou que Biden não mudou a postura americana acerca de Taiwan e defendeu que a política de “Uma Só China” inclui lidar com tensões.

“Se você começa a analisá-la [a política de ‘Uma Só China’], vai reconhecer que é sobre lidar com um mundo de tensão interna dentro da política e tentar administrar essas tensões de forma efetiva para garantir paz e estabilidade no estreito de Taiwan”, disse Sullivan.

Por que Taiwan é importante para o resto do mundo?

A economia de Taiwan é extremamente importante.

Grande parte dos equipamentos eletrônicos do dia a dia do mundo — de telefones a laptops, relógios e consoles de jogos — usa chips de computador fabricados em Taiwan.

Uma única empresa de Taiwan — a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company ou TSMC — domina mais da metade do mercado mundial.

A TSMC é uma “fundição” — uma empresa que fabrica chips projetados por outros clientes, até mesmo militares. É uma indústria que valia quase US$ 100 bilhões em 2021 (R$ 487 bilhões no câmbio atual).

O povo taiwanês está preocupado?

Apesar das recentes tensões entre China e Taiwan, pesquisas indicam que muitos taiwaneses estão relativamente tranquilos.

Em outubro de 2021, a Fundação de Opinião Pública de Taiwan perguntou às pessoas se elas achavam que haveria uma guerra com a China algum dia.

Quase dois terços (64,3%) responderam que não.

Diferentes pesquisas indicam que a maioria das pessoas em Taiwan se identifica como taiwanesa.

Pesquisas realizadas pela Universidade Nacional de Chengchi desde o início da década de 1990 indicam que a proporção de pessoas que se identificam como chinesas (ou chinesas e taiwanesas) caiu, e que a maioria das pessoas se considera hoje taiwanesa.

Este texto foi originalmente publicado em agosto de 2022 e atualizado em alguns trechos.