- Author, Cristina J. Orgaz
- Role, BBC News Mundo
- Twitter, @cjorgaz
Como mães e pais, as pessoas têm inúmeras preocupações com o futuro de nossos filhos. Entre elas, está a segurança financeira.
No Brasil, oito em cada dez pais ou mães dizem conversar com seus filhos sobre finanças, segundo pesquisa realizada pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box, publicada em outubro de 2023.
O levantamento mostrou que 24% desses adultos disseram que começaram a falar com as crianças sobre o tema quando elas tinham até 5 anos.
Outros 23% afirmaram que tiveram a primeira conversa quando os filhos tinham de seis a oito anos, e 16%, de nove a 11 anos.
A pesquisa concluiu que os pais estão conversando cada vez mais sobre educação financeira com os filhos.
Seis em cada 10 adultos entrevistados disseram que nunca tiveram uma conversa sobre finanças com os seus pais quando crianças.
Estudos mostram que, quanto mais cedo as crianças aprendem sobre finanças pessoais, mais preparadas elas ficam para lidar bem com o dinheiro.
Mas poupar para o futuro não é nada tão simples, como explica o especialista em economia comportamental e escritor Dan Ariely, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
“Uma das desvantagens do dinheiro é que ele é abstrato. Por causa disso, achamos muito difícil pensar sobre o que ele realmente significa no longo prazo.”
O podcast Money Box, da BBC, conversou com Kirsty Stone, planejadora financeira da consultoria The Private Office, e Stephanie Fitzgerald, diretora de programas para jovens da ONG britânica The Money Charity.
As especialistas elencaram três dicas para ajudar os pais na tarefa de garantir um futuro financeiro mais tranquilo para os filhos.
“O que realmente importa é dar-lhes a oportunidade de ter algum controle e tomar algumas das decisões em relação ao dinheiro, para que talvez possam cometer alguns erros. Ou pelo menos experimentem a sensação de pensar: ‘Gostaria de poder economizar ou gastar em algo que seja mais duradouro.'”, resume Fitzgerald.
1. Pense no longo prazo
Como os filhos não precisam de dinheiro imediatamente e os produtos de poupança a longo prazo sempre oferecem benefícios maiores, o melhor é comparar as contas que são ofertadas pelos bancos e os juros de cada uma.
“Existem contas infantis simples, e essa é uma excelente forma de começar a educar a criança sobre a entrada e a saída de dinheiro”, acrescenta Fitzgerald.
Os bancos geralmente oferecem dois tipos de contas.
Em geral, com as contas de acesso instantâneo, você pode sacar ou depositar dinheiro a qualquer momento, mas normalmente tem acesso a uma taxa de juros mais baixa do que com contas ou aplicações de prazo fixo ou de prazo mais longo (que podem ficar presas por 12, 18 ou mais meses).
Há sites que fazem esse tipo de comparação e eles são um bom ponto de partida para quem está tentando encontrar a conta poupança ideal para os filhos.
Você também pode escolher uma conta que a criança só poderá acessar quando completar 18 anos.
“Isso limita a possibilidade de alguém remover dinheiro desnecessariamente para cobrir um custo que não é uma necessidade essencial”, disse Fitzgerald no podcast.
Mas, acima de tudo, é preciso preparar as crianças e ter uma conversa prévia para estabelecer as expectativas sobre como esse valor será utilizado no futuro. O dinheiro pagará a universidade? Será usado para contingências futuras? Ou na entrada do primeiro carro?
Outro ponto positivo ao economizar desde cedo é conversar com os filhos sobre como ter dinheiro reservado para imprevistos.
Isso pode fazer com que eles se sintam mais seguros.
2. Dê um passo de cada vez
Começar a poupança para uma criança hoje representa um grande presente para o futuro.
Com essa quantia, os jovens adultos não apenas conseguem começar a vida independente com mais tranquilidade.
Envolver as crianças no processo, desde cedo, também os ajuda a aprender lições importantes sobre dinheiro e economia.
Porém, se você não puder economizar para eles devido à situação familiar ou à crise financeira, não há problema em postergar os planos por um tempo.
O essencial é não se endividar, nem usar cartão de crédito sem condições de pagar o boleto no mês seguinte.
“É muito natural que um pai queira garantir que os filhos tenham o melhor futuro possível. Mas a realidade é que estamos numa crise financeira e a capacidade das pessoas para poupar está obviamente bastante restrita neste momento”, pondera Fitzgerald.
“Encorajaria as pessoas a garantirem que não se endividem ou nem deixem de pagar as próprias dívidas na esperança de poupar para o futuro dos filhos. As crianças não ficarão ressentidas, e o importante é garantir que a família esteja financeiramente segura neste momento. Esperamos que, à medida que as coisas melhorem, todos consigam poupar mais no futuro”, acrescenta.
3. Lembre-se da magia dos juros compostos
Alguns definem o juro composto como “dinheiro grátis” — outros, como a oitava maravilha do mundo.
Há quem diga que eles são uma bola de neve que aumenta o seu capital sem você perceber.
Tudo começa com uma conta poupança que rende juros. Vamos supor que você coloque US$ 100 (ou o equivalente em qualquer moeda) em uma conta que oferece uma taxa de juros de 5%.
Para entender a magia durante a leitura desta reportagem, você precisará se concentrar um pouco. Observe atentamente os números:
No final do primeiro ano, você terá US$ 105 na conta poupança.
Ou seja: os US$ 100 que você tirou do bolso os US$ 5 que o banco te deu por ser um bom cliente e não tocar naquele depósito durante um ano inteiro.
O conceito-chave é: a magia dos juros compostos acontece enquanto você não faz movimentações com esse dinheiro. Nem o valor inicial, nem aquele extra que o banco te dá.
“Você pode ganhar dinheiro de graça apenas ao manter capital em uma conta”, resume Fitzgerald.
Vamos agora para o segundo ano.
A poupança do filho agora tem US$ 105, mas este ano as finanças não permitem que você acrescente nada a mais.
Ainda assim, o dinheiro continuará a crescer. Como?
Porque no segundo ano você não vai ganhar US$ 5.
No final deste segundo ano você terá mais. Com a mesma taxa de juros de 5%, o banco passa a dar uma remuneração superior.
Os 5% que você ganha não são mais sobre os US$ 100 investidos no início. Os juros agora são aplicados ao total que sua conta possui no segundo ano (ou US$ 105).
Os juros para o segundo ano são, portanto, de US$ 5,25.
O filho começará o terceiro ano, portanto, com US$ 110,25 — e terminará com US$ 115,76.
Quarto ano: US$ 121,55.
Quinto: US$ 127,63
Quando ele completar 18 anos, graças à magia dos juros compostos, a poupança estará com US$ 240,66.
Imagine que, em vez dos US$ 100 iniciais, você colocou US$ 1.000. Ao completar 18 anos, a conta estará com US$ 2.406,62.
O recardo então é: economize aos poucos e deixe a matemática fazer o resto.
Mas atenção sobre qual investimento fazer: o retorno tem que ser superior à inflação do período, caso contrário, apesar de nominalmente você ter mais dinheiro, como vimos no exemplo, ele pode não valer tanto assim.
E, se você quer ensinar finanças ao filho, dê a ele um cofrinho.
Essa é a dica dada pelo site Money Helper.
“Essa é uma boa ideia para crianças muito pequenas. A principal coisa que elas precisam aprender é que o dinheiro não é um brinquedo e que deve ser guardado num lugar seguro”, apontam os especialistas da Money Helper.
Um cofrinho ajuda as crianças a compreender o valor de diferentes moedas e notas — eles também passam a perceber que moedas maiores não são necessariamente as mais valiosas.
“Essa também é uma boa oportunidade para começar a dar mesadas ao filho, sem que o valor importe. Pode até ser uma moeda de pequeno valor. O importante é a prática”, diz a Money Helper.
Além do que os pais poupam para os filhos, é importante que eles próprios desenvolvam uma compreensão de como funciona o dinheiro.
Essa certamente é uma habilidade que os acompanhará pelo restante da vida.
Fonte: BBC
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