- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
O líder da Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, pediu desculpas por exaltar um ucraniano que serviu sob um regimento nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Yaroslav Hunka, de 98 anos, estava sentado na Câmara e foi aplaudido de pé pelo Parlamento depois de Rota ter se referido a ele como um “herói” durante a visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ao Legislativo canadense.
O grupo judeu CIJA disse estar “bastante perturbado” que um veterano de uma divisão nazista que participou no genocídio dos judeus tenha sido homenageado.
O grupo acrescentou que incidentes como esse “não podem se repetir”.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, estava ao lado de Zelensky no momento da homenagem.
Milhares de ucranianos lutaram ao lado dos alemães durante a guerra, mas outros milhões também serviram no Exército Vermelho da União Soviética.
Pedido de desculpas
Em comunicado, Anthony Rota disse que, no dia 22 de setembro, “nas minhas palavras que se seguiram às declarações do presidente da Ucrânia, reconheci um indivíduo que estava na galeria”.
“Mais tarde tomei conhecimento de novas informações, o que fez com eu me arrependesse de ter prestado a homenagem.”
Rota disse que “ninguém, incluindo os meus colegas parlamentares ou a delegação ucraniana, estava ciente da minha intenção de fazer essas declarações. A iniciativa foi inteiramente minha, o indivíduo em questão era do meu distrito e foi levado ao meu conhecimento”.
“Em particular, quero estender as minhas mais profundas desculpas às comunidades judaicas no Canadá e em todo o mundo. Aceito a total responsabilidade pelas minhas ações”, disse o parlamentar.
Em resposta à declaração, a CIJA afirmou: “Aceitamos o pedido de desculpas que nos foi apresentado. É necessário um processo de averiguação mais adequado para que este tipo de incidentes nunca mais ocorra”.
Polêmica
Por outro lado, o líder da oposição conservadora no Canadá, Pierre Poilievre, disse que o primeiro-ministro Trudeau também era responsável pelo incidente e exigiu que ele pedisse desculpas.
Mas o gabinete do primeiro-ministro afirmou que a decisão de convidar Yaroslav Hunka foi tomada pelo gabinete do líder da Câmara dos Comuns e que oferecer um pedido de desculpas “foi a coisa certa a fazer”.
“Nenhum aviso prévio foi dado ao gabinete do primeiro-ministro, nem à delegação ucraniana, sobre o convite ou o reconhecimento”, afirmou o gabinete do primeiro-ministro, em comunicado.
As acusações de que Trudeau teve uma reunião privada com Hunka também foram desmentidas.
À certa altura, Rota apontou para Hunka – que estava sentado na galeria – e disse que este homem era “um herói ucraniano, um herói canadense e nós agradecemos por seu serviço”.
Todos os presentes aplaudiram a fala do parlamentar.
‘Divisão da Galícia’
Durante a Segunda Guerra Mundial, Hunka fez parte da 14ª Divisão de Granadeiros SS, também conhecida como Divisão da Galícia (nome de uma região entre o oeste da Ucrânia e a Polônia), uma unidade voluntária composta principalmente por ucranianos sob comando nazista.
Os membros desta unidade são acusados de matar judeus, embora a unidade não tenha sido considerada culpada de crimes de guerra por nenhum tribunal.
Ela ficaria conhecida como Primeira Divisão Ucraniana, antes de se render aos Aliados Ocidentais em 1945.
Dominique Arel, chefe de estudos ucranianos da Universidade de Ottawa, disse à CBC News, canal canadense de notícias, que a divisão à qual Hunka pertencia atraiu milhares de voluntários ucranianos sob a promessa de alcançar a independência do país da União Soviética.
Fonte: BBC
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