- Author, Steve Rosenberg
- Role, Editor de Rússia em Minsk
Portanto, se há alguém que pode nos dar uma luz sobre esta história obscura, certamente é ele. Ou pelo menos é o que esperamos.
Fizemos parte de um pequeno grupo de jornalistas convidados ao Palácio da Independência em Minsk, capital de Belarus, para “uma conversa” com Lukashenko.
Poucas semanas atrás, especulava-se freneticamente sobre seu estado de saúde. Mas ele mostrou resistência: a “conversa” durou quase quatro horas.
No entanto, em vez de dar uma luz, ele intrinca ainda mais o enredo sobre a recente revolta russa.
Isso não aconteceu. Ainda não pelo menos.
“Até esta manhã”, diz Lukashenko, “os combatentes do Wagner, bastante sérios, ainda seguiam nos acampamentos para onde se retiraram depois (da batalha) de Bakhmut (cidade no leste da Ucrânia)”.
“Já Yevgeny Prigozhin está em São Petersburgo (na Rússia). Ou talvez tenha voado esta manhã para Moscou. Ou talvez esteja em outro lugar. Mas ele não está em Belarus.”
Pergunto a Alexander Lukashenko se isso significa que o acordo está cancelado.
Ele diz que não. Parece que há conversas acontecendo nos bastidores sobre as quais não vamos ser informados.
Quando se trata de discutir o motim, Moscou e Minsk não estão exatamente alinhados.
No último fim de semana, a TV estatal russa declarou que o presidente Vladimir Putin saiu destes dramáticos acontecimentos como um herói.
“Acho que ninguém saiu desta situação como herói”, diz Lukashenko. “Nem Prigozhin, nem Putin, nem Lukashenko. Não houve heróis. E qual é a lição disso? Se criarmos grupos armados como este, precisamos ficar de olho neles e prestar muita atenção.”
As armas nucleares russas
O assunto da “conversa” muda para armas nucleares. Em particular, as ogivas nucleares que a Rússia disse estar transferindo para Belarus.
“Deus me livre de alguma vez ter que tomar a decisão de usá-las”, havia declarado Lukashenko recentemente, acrescentando: “Mas não hesitarei em usá-las”.
Lembro a ele destes comentários.
“Joe Biden (presidente dos EUA) poderia dizer a mesma coisa, assim como o primeiro-ministro Sunak (do Reino Unido)”, responde Lukashenko. “E meu amigo Xi Jinping (presidente da China) e meu irmão mais velho, o presidente Putin.”
“Mas não estamos falando sobre armas suas”, ressalto. “São russas. A decisão não é sua.”
“Na Ucrânia, todo um Exército está lutando com armas estrangeiras, não é verdade?”, retruca Lukashenko. “Armas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Porque acabaram as (armas) deles. Então por que não posso lutar com as armas de outra pessoa?”
Mas estamos falando de armas nucleares, não de pistolas, eu respondo.
“Nucleares, sim. Também são armas. Armas nucleares táticas.”
Os presos políticos
Como você provavelmente pode imaginar por seus comentários nucleares, Alexander Lukashenko é uma figura controversa.
Os EUA, a União Europeia e o Reino Unido não o reconhecem como presidente legítimo de Belarus. Em 2020, a população saiu às ruas para acusá-lo de roubar a eleição presidencial do país. Os protestos foram brutalmente reprimidos.
Menciono o caso da ativista da oposição Maria Kolesnikova que está presa.
“Por meses, seus parentes e advogados tiveram acesso negado a ela na prisão. Por quê?”, questiono.
“Não sei nada sobre isso”, ele responde.
“A última vez que te entrevistei, no outono de 2021, havia 873 presos políticos em Belarus”, lembro a Lukashenko. “Agora são 1,5 mil.”
“Não há nenhum artigo em nosso Código Penal sobre crimes políticos”, ele diz.
A ausência de artigo sobre crimes políticos não significa que não haja presos políticos, eu ressalto.
“Os presos não podem ser presos políticos, se não há artigo”, ele insiste. “Como poderiam ser?”
Fonte: BBC
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