- Author, James Gregory e Sarah Rainsford
- Role, BBC News
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou os líderes do motim de Wagner no fim de semana passado de querer “ver a Rússia sufocada em um conflito sangrento”.
Em um breve discurso, Putin prometeu levar os organizadores da revolta “à justiça”.
Mas ele chamou as tropas de mercenários conhecida como Wagner de “patriotas” que teriam permissão para ingressar no exército, ir para a Bielorrússia ou voltar para casa.
Ele não citou diretamente o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que anteriormente negou ter tentado derrubar o regime de Putin.
Wagner é um exército privado de mercenários que luta ao lado do exército regular da Rússia na invasão da Ucrânia.
A rebelião de curta duração, que viu os combatentes de Wagner tomarem uma grande cidade russa antes de seguirem para o norte em direção a Moscou em uma coluna de veículos militares, foi uma resposta aos planos do governo de assumir o controle direto de Wagner, afirmou Prigozhin em uma declaração feito por meio de um áudio de 11 minutos. O áudio foi publicado no Telegram nesta segunda-feira.
Em junho, a Rússia disse que “formações de voluntários” seriam solicitadas a assinar contratos com o Ministério da Defesa, em um movimento amplamente visto como uma ameaça ao domínio de Prigozhin sobre Wagner.
O chefe mercenário disse que sua rebelião também foi um protesto contra erros cometidos por oficiais de defesa durante a guerra com a Ucrânia.
Mas ele insistiu que Wagner agiu sempre e apenas no interesse da Rússia.
Estes foram os primeiros comentários públicos de Prigozhin desde o acordo para deter a rebelião, que supostamente inclui sua ida à Bielorrússia com todas as acusações criminais contra ele retiradas – embora a mídia estatal russa, citando autoridades, tenha relatado que Prigozhin continua sob investigação.
Prigozhin disse que pôs fim ao motim para parar de “derramar o sangue dos soldados russos”, acrescentando que alguns civis ficaram desapontados com o fim da marcha.
Ele também enfatizou que não tinha intenção de “tentar derrubar as autoridades eleitas da Rússia.”
A declaração era apenas um áudio, então não está claro onde Prigozhin está agora ou o que ele fará a seguir.
Em seu breve discurso ao povo russo, Putin disse que os organizadores da marcha em Moscou seriam “levados à justiça” e descreveu seu antigo aliado Prigozhin como alguém que tentou “esfaquear a Rússia pelas costas.”
Ele usou o discurso como uma tentativa de reafirmar sua autoridade e esmagar a visão agora comum de que sua resposta ao motim de Wagner foi fraca. Seu tom no breve discurso era de raiva.
A mensagem do presidente era que “aqueles que organizaram uma insurreição traíram seu país e seu povo”. E estavam “fazendo o trabalho de todos os inimigos da Rússia, tentando arrastá-la para o derramamento de sangue e a divisão interna.”
Putin acusou o Ocidente de querer que os russos “se matem”.
Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em entrevista coletiva na segunda-feira que seu país e seus aliados não tiveram envolvimento na rebelião de Wagner.
Putin argumentou que sua própria gestão da crise evitou o desastre. Mas não foi isso que muitos russos viram no fim de semana e é difícil pensar que eles ficarão convencidos com esse desempenho.
O presidente também disse que manteria sua promessa de permitir que as tropas de Wagner que não “se voltassem para o sangue fratricida” partissem para a Bielorrússia.
“Agradeço aos soldados e comandantes do Grupo Wagner que tomaram a única decisão certa. Eles não recorreram ao derramamento de sangue fratricida, pararam na última linha”, disse Putin.
“Hoje, você tem a oportunidade de continuar seu serviço na Rússia assinando um contrato com o [Ministério da Defesa] ou outras estruturas militares e de aplicação da lei, ou voltar para sua família e entes queridos. Quem quiser pode partir para a Bielorrússia. A promessa que fiz será cumprida”, afirmou Putin
Ele acrescentou que “medidas foram tomadas para evitar derramamento de sangue” logo no início do motim, e que seus organizadores “perceberam que suas ações eram criminosas”.
Ele elogiou a “unidade da sociedade russa” e agradeceu ao líder bielorrusso Alexander Lukashenko, que supostamente negociou um acordo para acabar com a rebelião, por seus esforços para resolver a situação pacificamente.
A fala de Vladimir Putin sobre um país unido em seu apoio contrasta fortemente com as imagens de sábado da cidade de Rostov, no sul, onde o grupo Wagner assumiu o controle e os moradores aplaudiram os combatentes nas ruas, abraçando-os e posando para selfies.
É provavelmente por isso que Putin ofereceu aos membros de Wagner uma saída, sugerindo que eles foram enganados e usados.
A rebelião da semana passada ocorreu após meses de tensões crescentes entre Wagner e a liderança militar da Rússia.
As lutas internas chegaram ao auge na noite de sexta-feira, quando os mercenários de Wagner cruzaram a fronteira de seus acampamentos na Ucrânia e entraram na cidade de Rostov-on-Don, no sul – de onde a guerra da Rússia está sendo dirigida.
Eles então assumiram o comando regional enquanto uma coluna de veículos militares se movia para o norte em direção a Moscou.
Prigozhin afirmou que sua “marcha pela justiça” revelou “sérios problemas de segurança em todo o país”.
Ele também mencionou o papel que Lukashenko desempenhou na intermediação do acordo para encerrar o motim, dizendo que o líder ofereceu a Wagner uma maneira de continuar operando em uma “jurisdição legal”.
Prigozhin reconheceu que sua marcha resultou na morte de alguns soldados russos quando mercenários de Wagner abateram helicópteros de ataque.
Mas ele acrescentou que “nem um único soldado foi morto no chão”. “Lamentamos termos de atacar a aeronave, mas eles estavam nos atacando com bombas e mísseis”, disse ele.
Fonte: BBC
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