- Author, Frank Gardner
- Role, Da BBC News
“Não chame de contra-ataque”, dizem os ucranianos. “Esta é nossa ofensiva, é nossa chance de finalmente expulsar o exército russo de nossa terra.”
Mas como será possível saber se eles foram bem-sucedidos?
Em primeiro lugar, não vamos nos distrair com os recentes ganhos territoriais difíceis, mas minúsculos, que a Ucrânia vem obtendo ao retomar aldeias obscuras e meio abandonadas nas regiões de Donetsk, no leste, e Zaporizhzhia, no sudeste.
Após meses de impasse, as imagens de soldados ucranianos vitoriosos segurando a bandeira azul e amarela de seu país em frente a um prédio cravejado por balas são um bem-vindo impulso moral para os ucranianos.
No entanto, pensando estrategicamente, isso é um espetáculo menor.
A área do território controlado pela Rússia que mais importa nesta campanha é o sul: a área entre a cidade de Zaporizhzhia e o mar de Azov.
Este é o chamado “corredor terrestre” que liga a Rússia à Crimeia anexada ilegalmente — a parte central da faixa em roxo no mapa abaixo, que quase não mudou desde as primeiras semanas da invasão no ano passado.
Se a Ucrânia conseguir dividir o território em duas partes e conseguir manter o terreno que recuperou, sua ofensiva terá sido bem-sucedida.
Isso isolaria as tropas russas no oeste e dificultaria o reabastecimento da Crimeia.
Isso não significaria necessariamente o fim da guerra — que alguns agora preveem que poderia se arrastar por anos —, mas colocaria a Ucrânia em uma forte posição de barganha quando as inevitáveis negociações de paz finalmente acontecerem.
Mas os russos estão de olho nesse mapa há algum tempo e também chegaram à mesma conclusão.
Assim, enquanto a Ucrânia enviou seus soldados para os países da Otan (a aliança militar ocidental) para treinamento e preparou todas suas 12 brigadas blindadas para esta campanha, Moscou passou esse tempo construindo o que agora está sendo chamado de “as fortificações defensivas mais formidáveis do mundo”.
Bloqueando o caminho da Ucrânia para o litoral — seu próprio litoral por direito, não vamos esquecer — estão camadas e mais camadas de campos minados russos, bunkers de concreto para bloquear tanques (conhecidos como “dentes de dragão”), artilharia e trincheiras largas e profundas o suficiente para barrar um Tanque Leopard 2 ou M1 Abrams.
Tudo isso é coberto por zonas de impacto de artilharia pré-determinadas prontas para bombardear os veículos blindados da Ucrânia.
Os primeiros sinais são — e ainda é muito cedo nesta campanha — de que as defesas russas estão mantendo suas posições.
A Ucrânia ainda não colocou em ação a maior parte de suas forças — portanto, os ataques atuais são de sondagem e reconhecimento, projetados para revelar o local da artilharia russa e procurar vulnerabilidade em suas linhas.
A Ucrânia está com moral. Seus soldados estão altamente motivados e lutam para libertar seu próprio país de um invasor.
A maioria das tropas russas não compartilha dessa motivação e, em muitos casos, seu treinamento, equipamento e liderança são inferiores aos da Ucrânia.
O Estado-Maior em Kiev espera que, se conseguirem avançar, haverá um efeito de contágio provocado pelo colapso do moral russo — que se espalhará pela frente de batalha.
A Ucrânia também conta com equipamentos fornecidos pelos países da Otan. Ao contrário dos veículos blindados de design soviético, os tanques e os veículos de combate de infantaria da Otan muitas vezes resistem a ataques direto, ou pelo menos protegem a tripulação.
Mas isso será suficiente para conter a força da artilharia russa e dos ataques de drones?
A Rússia, por ser um país muito maior, tem mais recursos do que a Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, sabe que se ele conseguir desgastar os ucranianos em um impasse que se arraste até o próximo ano, haverá uma chance de que os EUA e outros aliados se cansem de apoiar esta guerra cara e comecem a pressionar Kiev para chegar a um acordo de cessar-fogo.
Finalmente, há a questão da cobertura aérea — ou a falta dela. Atacar um inimigo bem entrincheirado sem apoio aéreo próximo é altamente arriscado.
A Ucrânia sabe disso, e é por isso que há muito tempo implora ao Ocidente para que forneça caças F16.
Os EUA, que os fabricam, não haviam aprovado a ideia até o final de maio, quando a primeira fase preparatória da ofensiva da Ucrânia já estava em andamento.
Mais crítico para a Ucrânia ainda é o fato que os revolucionários F16 podem acabar chegando tarde demais no campo de batalha para que possam desempenhar um papel-chave nas fases iniciais da contra-ofensiva.
Isso não quer dizer que os ucranianos vão perder.
Repetidas vezes, eles se mostraram ágeis, espertos e criativos. Eles expulsaram com sucesso o exército russo de Kherson, atingindo seus centros logísticos de retaguarda a ponto de os russos não conseguirem mais reabastecer suas tropas naquela cidade do sul.
Equipada com armas de longo alcance, como o míssil de cruzeiro Storm Shadow do Reino Unido, a Ucrânia tentará fazer o mesmo agora.
Mas em meio a guerra de propaganda, ainda pode levar semanas ou até meses para termos uma imagem mais clara de quem estará prevalecendo no campo de batalha.
Fonte: BBC
Você precisa fazer login para comentar.