Crédito, MIHAIL OSTROGRADSKI 35TH BRIGADE/ANADOLU AGENCY VI

Legenda da foto,

Soldados ucranianos da 35ª Brigada postaram uma foto dizendo que retomaram a vila de Storozheve, na região leste de Donetsk

  • Author, Frank Gardner
  • Role, Da BBC News

“Não chame de contra-ataque”, dizem os ucranianos. “Esta é nossa ofensiva, é nossa chance de finalmente expulsar o exército russo de nossa terra.”

Mas como será possível saber se eles foram bem-sucedidos?

Em primeiro lugar, não vamos nos distrair com os recentes ganhos territoriais difíceis, mas minúsculos, que a Ucrânia vem obtendo ao retomar aldeias obscuras e meio abandonadas nas regiões de Donetsk, no leste, e Zaporizhzhia, no sudeste.

Após meses de impasse, as imagens de soldados ucranianos vitoriosos segurando a bandeira azul e amarela de seu país em frente a um prédio cravejado por balas são um bem-vindo impulso moral para os ucranianos.

No entanto, pensando estrategicamente, isso é um espetáculo menor.

A área do território controlado pela Rússia que mais importa nesta campanha é o sul: a área entre a cidade de Zaporizhzhia e o mar de Azov.

Este é o chamado “corredor terrestre” que liga a Rússia à Crimeia anexada ilegalmente — a parte central da faixa em roxo no mapa abaixo, que quase não mudou desde as primeiras semanas da invasão no ano passado.

Se a Ucrânia conseguir dividir o território em duas partes e conseguir manter o terreno que recuperou, sua ofensiva terá sido bem-sucedida.

Isso isolaria as tropas russas no oeste e dificultaria o reabastecimento da Crimeia.

Isso não significaria necessariamente o fim da guerra — que alguns agora preveem que poderia se arrastar por anos —, mas colocaria a Ucrânia em uma forte posição de barganha quando as inevitáveis negociações de paz finalmente acontecerem.

Mas os russos estão de olho nesse mapa há algum tempo e também chegaram à mesma conclusão.

Assim, enquanto a Ucrânia enviou seus soldados para os países da Otan (a aliança militar ocidental) para treinamento e preparou todas suas 12 brigadas blindadas para esta campanha, Moscou passou esse tempo construindo o que agora está sendo chamado de “as fortificações defensivas mais formidáveis do mundo”.

Bloqueando o caminho da Ucrânia para o litoral — seu próprio litoral por direito, não vamos esquecer — estão camadas e mais camadas de campos minados russos, bunkers de concreto para bloquear tanques (conhecidos como “dentes de dragão”), artilharia e trincheiras largas e profundas o suficiente para barrar um Tanque Leopard 2 ou M1 Abrams.

Tudo isso é coberto por zonas de impacto de artilharia pré-determinadas prontas para bombardear os veículos blindados da Ucrânia.

Os primeiros sinais são — e ainda é muito cedo nesta campanha — de que as defesas russas estão mantendo suas posições.

Crédito, MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

Os militares da Rússia afirmam que vários tanques e veículos blindados da Ucrânia fornecidos pelo Ocidente foram destruídos

A Ucrânia ainda não colocou em ação a maior parte de suas forças — portanto, os ataques atuais são de sondagem e reconhecimento, projetados para revelar o local da artilharia russa e procurar vulnerabilidade em suas linhas.

A Ucrânia está com moral. Seus soldados estão altamente motivados e lutam para libertar seu próprio país de um invasor.

A maioria das tropas russas não compartilha dessa motivação e, em muitos casos, seu treinamento, equipamento e liderança são inferiores aos da Ucrânia.

O Estado-Maior em Kiev espera que, se conseguirem avançar, haverá um efeito de contágio provocado pelo colapso do moral russo — que se espalhará pela frente de batalha.

A Ucrânia também conta com equipamentos fornecidos pelos países da Otan. Ao contrário dos veículos blindados de design soviético, os tanques e os veículos de combate de infantaria da Otan muitas vezes resistem a ataques direto, ou pelo menos protegem a tripulação.

Mas isso será suficiente para conter a força da artilharia russa e dos ataques de drones?

A Rússia, por ser um país muito maior, tem mais recursos do que a Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, sabe que se ele conseguir desgastar os ucranianos em um impasse que se arraste até o próximo ano, haverá uma chance de que os EUA e outros aliados se cansem de apoiar esta guerra cara e comecem a pressionar Kiev para chegar a um acordo de cessar-fogo.

Finalmente, há a questão da cobertura aérea — ou a falta dela. Atacar um inimigo bem entrincheirado sem apoio aéreo próximo é altamente arriscado.

A Ucrânia sabe disso, e é por isso que há muito tempo implora ao Ocidente para que forneça caças F16.

Os EUA, que os fabricam, não haviam aprovado a ideia até o final de maio, quando a primeira fase preparatória da ofensiva da Ucrânia já estava em andamento.

Mais crítico para a Ucrânia ainda é o fato que os revolucionários F16 podem acabar chegando tarde demais no campo de batalha para que possam desempenhar um papel-chave nas fases iniciais da contra-ofensiva.

Isso não quer dizer que os ucranianos vão perder.

Repetidas vezes, eles se mostraram ágeis, espertos e criativos. Eles expulsaram com sucesso o exército russo de Kherson, atingindo seus centros logísticos de retaguarda a ponto de os russos não conseguirem mais reabastecer suas tropas naquela cidade do sul.

Equipada com armas de longo alcance, como o míssil de cruzeiro Storm Shadow do Reino Unido, a Ucrânia tentará fazer o mesmo agora.

Mas em meio a guerra de propaganda, ainda pode levar semanas ou até meses para termos uma imagem mais clara de quem estará prevalecendo no campo de batalha.